
Rio Grande do Sul - Enquanto o governo federal comanda o discurso e patina no combate estruturado ao crime organizado, os estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste tomam a dianteira em um movimento articulado de governadores que se recusam a esperar o ritmo da União. A narrativa oficial do Governo Lula 3 se concentra em reformas institucionais e no debate sobre segurança pública, mas para os governadores de direita e centro-direita o tempo está se esgotando. E o movimento ganhou força depois da megaoperação nos complexos do Complexo do Alemão e da Complexo da Penha, no Rio de Janeiro.
Na tarde ontem (30), uma comitiva formada pelos governadores Romeu Zema (Novo-MG), Jorginho Mello (PL-SC), Ronaldo Caiado (União-GO) e Ratinho Junior (PSD-PR) desembarca no Rio de Janeiro para se reunir com o governador Cláudio Castro (PL-RJ). O foco foi o de traçar estratégias conjuntas de enfrentamento ao narcotráfico, impulsionar a autonomia estadual e pressionar por endurecimento da legislação penal, mesmo com o governo federal mantendo posição de não classificar facções como grupos terroristas.
A operação desencadeada no Rio — a mais letal da história do estado, com oficialmente 130 mortos, incluindo quatro policiais (números atualizados pelo Governo do Rio de Janeiro no final da tarde), escancarou a fissura entre os estados e Brasília.
Atuação firme
Os líderes estaduais não apenas manifestaram solidariedade a Cláudio Castro, mas também reforçaram que esse episódio confirma a necessidade de uma atuação mais firme das unidades federativas. “Não é possível que alguém discorde de que esses bandidos não sejam terroristas”, afirmou Romeu Zema, que visitou El Salvador para conhecer políticas de “linha-dura” e advoga a equiparação das facções a organizações terroristas.
O encontro de ontem representa também um claro jogo de antecipação para 2026: Zema, Caiado e Ratinho Junior figuram como pré-candidatos à Presidência da República, e para esses nomes, segurança pública já se configura como questão central de campanha. Enquanto isso, o Governo Federal mantém uma agenda que, segundo os governadores, privilegia o discurso ideológico e marginaliza a ação concreta. “Vivemos um estado de guerra, com a dominação do narcotráfico e a conivência do governo federal”, disse Caiado.
Autonomia
No plano operacional, o grupo defende que os estados ganhem autonomia para legislar com rigor próprio, em contraponto à proposta da PEC da Segurança Pública, que centraliza poder na União. A comitiva também promete pressionar o Congresso pela aprovação da lei que transforma facções como Comando Vermelho e PCC (Primeiro Comando da Capital) em organizações terroristas, pauta rejeitada pelo atual governo federal.
O simbolismo da reunião no Rio de Janeiro vai além: o combate ao tráfico nas comunidades cariocas é visto como peça estratégica para o conjunto do país. “O que consideramos aqui é que o combate no Rio é estratégico para conter a violência nos demais estados”, afirmou Jorginho Mello. A missão é clara: inteligência compartilhada, articulação interestadual e legislação mais pesada. Basta observar que, na operação no Rio, os traficantes usaram drones para lançar granadas — um salto em arquitetura criminosa que, para os governadores, exige resposta à altura.
TSE vai julgar recurso que pede a cassação de Cláudio Castro
Coincidência ou não, logo após a mega operação policial no Rio de Janeiro, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) marcou para 4 de novembro o julgamento de um recurso do MPE (Ministério Público Eleitoral) para cassar o mandato do governador Claúdio Castro. O processo foi incluído na pauta de julgamentos ainda na quarta-feira (29), um dia após a operação policial que resultou na morte pelo menos 130 pessoas.
A procuradoria eleitoral pretende reverter a decisão do TER-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro) que, em maio do ano passado, absolveu Castro e outros acusados no processo que trata de supostas contratações irregulares na Fundação Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro durante a campanha eleitoral de 2022.
No documento enviado ao TSE, o vice-procurador-geral eleitoral, Alexandre Espinosa, afirma que Castro obteve vantagem eleitoral na contratação de servidores temporários sem amparo legal e na descentralização de recursos para entidades desvinculadas da administração pública, além de outras irregularidades. O caso é relatado no TSE pela ministra Isabel Galotti.
 
											 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		