POLÍTICA

Dino mantém emendas suspensas, mas liberou empenhos para Saúde

Entenda a polêmica das emendas parlamentares que afetam a relação entre os poderes Legislativo e Judiciário em Brasília - Foto: STF
Entenda a polêmica das emendas parlamentares que afetam a relação entre os poderes Legislativo e Judiciário em Brasília - Foto: STF

Como “anunciado”, o imbróglio das emendas parlamentares que coloram em rota de choque os poderes Legislativo e Judiciário, “virou o ano”. Ontem, 31 de dezembro de 2024, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Flávio Dino, atendeu a um pedido do Palácio do Planalto e acabou liberando o empenho de emendas parlamentares destinadas a cumprir o piso constitucional de investimentos públicos na saúde.


No último dia de 2024, a AGU (Advocacia-Geral da União) fez novo pedido de liberação ao Supremo sob o argumento de que a suspensão destas emendas colocou em risco o cumprimento da determinação constitucional. A ação também é vista como uma tentativa do Governo Lula 3 acalmar a revolta do Congresso Nacional que já tinha antecipado “novas dificuldades” para aprovação do Orçamento de 2025 por conta da falta de empenho do Planalto na solução do impasse das emendas.


De acordo com os cálculos do Executivo, ainda faltariam R$ 2,1 bilhões para serem destinados a conta da Saúde de 2024, sendo necessária a liberação de pelo menos R$ 370 milhões em emendas de comissão.

Só o necessário


O ex-senador e ex-ministro de Lula liberou o empenho apenas “o valor necessário à consecução do piso constitucional da saúde”, contudo, estabeleceu prazo até até 31 de março de 2025, para que as comissões de Saúde da Câmara dos Deputados e Senado Federal indiquem quem são os autores dessas emendas. Na decisão, Dino determinou que a execução só poderá ocorrer após a ratificação feita pelo Congresso e ainda solicitou explicações do governo, “objetivamente, com números”, porque o governo precisava de R$ 370 milhões em emendas de comissão para cumprir com o piso da saúde. Deste total, R$ 40 são de verbas direcionadas pelo Senado Federal e R$ 330, da Câmara dos Deputados.


Dino disse a questão levantada pela AGU demonstra a “preocupante dependência de gastos vinculados a emendas parlamentares”. “Com esses fundamentos, à vista da estatura dos deveres constitucionais atinentes aos gastos mínimos com saúde, acolho, em parte, o pedido do Poder Executivo, desde que as ‘emendas de comissão’ (ou outro tipo de emenda que eventualmente seja necessário) já empenhadas ou a serem empenhadas alcancem apenas e tão somente o valor necessário à consecução do piso constitucional da saúde”, afirma Dino.


Dino estabelece novo prazo


O ministro Flávio Dino liberou o empenho destas emendas, exigindo que “ocorra a ratificação das emendas (incluindo indicações) nas Comissões temáticas sobre Saúde do Senado e da Câmara, até o dia 31 de março de 2025, sob pena de anulação imediata e automática”. “Até tal aprovação, não haverá nenhum ato subsequente de execução”, diz a decisão.


A Câmara alega, para justificar a manobra de Lira, que o mesmo foi feito pelos senadores. Já o Senado admitiu que houve falha no processo e se comprometeu a realizar votações em 2025 para validar estas destinações.

LDO 2025 é sancionada com trava nas emendas e veto ao fundo partidário

O presidente Lula sancionou ontem (31) a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2025. O texto final da LDO, aprovado pelos parlamentares há duas semanas, após cinco meses de atraso, fixou em zero a meta de resultado primário para 2025, com margem de tolerância de 0,25 ponto percentual do PIB (Produto Interno Bruto) para mais ou para menos. Em valores absolutos, a LDO prevê que o resultado primário poderá variar entre déficit de R$ 30,97 bilhões e superávit primário de R$ 30,97 bilhões em 2025.
A LDO também indicou o reajuste do salário mínimo para R$ 1.502 em 2025. Na segunda-feira (30), no entanto, o governo fixou um valor acima do indicado. Decreto assinado pela presidente Lula elevou o salário mínimo para R$ 1.518 a partir desta quarta-feira (1º).

Fundo partidário


Lula vetou dispositivo que trazia o novo cálculo para o fundo partidário. Como justificativa, o governo alegou que a proposta “não é condizente com o regime fiscal sustentável”, porque aumenta o fundo e comprime o valor das demais despesas da Justiça Eleitoral. Em pelo menos cinco trechos das LDO, o presidente retirou dispositivos que impediam bloqueio de emendas ou davam ao Legislativo a prerrogativa de escolher a ordem de distribuição dessas verbas.


As decisões do ministro Flávio Dino que bloquearam emendas e exigem maior transparência e rastreabilidade das emendas, são utilizadas como justificativa pelo Executivo em alguns vetos.


Vários trechos que tratam das emendas e que ampliavam o poder dos parlamentares foram vetados por Lula. Vale lembrar, entretanto, que todos os vetos ainda serão apreciados pelo Congresso Nacional e poderão ser derrubados.
Nos bastidores, segundo apurado pela Folha de São Paulo, líderes partidários afirmam haver uma ação coordenada entre Dino e Lula no sentido de reduzir na marra o peso das emendas parlamentares no orçamento federal.