Opinião

Quando a decisão é por não ter filhos

Quando a decisão é por não ter filhos

Para Hellinger, não há dúvidas de que a relação entre marido e esposa está orientada aos filhos. Vimos em reflexão anterior que a maternidade-paternidade abre ao casal a possibilidade de experimentar a vida em plenitude. Vimos que nenhuma obra humana consegue ser mais grandiosa de que aquela que passa a vida adiante. Isso levanta a questão de saber como fica a situação das pessoas que se decidem por permanecer solteiras e sem filhos ou dos casais que não querem ter filhos.

Apesar de sua clara posição sobre a importância da paternidade-maternidade para a realização da vida humana, Hellinger não pensa que pessoas e casais sem filhos estejam impossibilitados de serem felizes: “Pessoas solteiras e casais sem filhos não estão em absoluto excluídas da possibilidade de encontrar amor e sentido em suas vidas. Precisam, no entanto, encarar e resolver uma série de assuntos especiais. O fato de ter de se confrontar com a solidão e de tentar encontrar um sentido em sua vida pode ser especialmente doloroso para uma pessoa solteira sem filhos. Às vezes, é experimentado como um destino muito difícil. Meu interesse, portanto, está em compreender o que podem fazer pessoas em tais circunstâncias para que seu potencial de amor e de sentido chegue a realizar-se” (Hellinger, B. Felicidad Dual, p. 146-147).

Bert Hellinger não teve filhos. Quando ele faz essas reflexões sobre os casais, diz algo que ele conhece desde a própria experiência. Em seus dois casamentos, certamente conheceu o amor e o sentido da vida, mas tem consciência de que lhe “faltava algo”. É essa experiência na própria pele que motiva Bert a buscar compreender o que pessoas e casais sem filhos podem fazer para que “seu potencial de amor e de sentido possam realizar-se”.

O que é aconselhável fazer na situação em que não existem razões médicas que impedem a gravidez e, mesmo assim, um dos parceiros não quer ter filhos? Nesse caso, afirma Hellinger, o cônjuge que quer ter filhos tem o direito de abandonar a relação. Se, mesmo assim, o cônjuge se decide a permanecer, o cônjuge que não quer filhos deve reconhecer e honrar essa decisão como um presente.

Na mesma linha de pensamento é o conselho que Hellinger deu a uma mulher na qual não havia razões médicas que impediam a gravidez, mas unicamente a aversão a ter seu próprio filho: “Se ele quer um filho, mas você não quer, isso significa que a relação terminou. Você precisa levar isso em conta, como consequência de sua decisão; caso contrário, estará se iludindo. Se seu marido, apesar de tudo, decide permanecer com você, você precisa honrar isso expressamente” (Hellinger, B. Ordens do Amor, p. 42).

A dureza da posição de Hellinger manifestada nesse conselho se deve ao fato de considerar o valor e a importância de passar a vida adiante. Nada pode ser maior do que isso, porque nada é maior que o dom da vida. Quando temos um casal no qual um dos cônjuges quer filho e o outro se recusa sem motivos médicos, aquele que se recusa nega ao cônjuge que quer de cumprir com seu desejo de realização plena.

Por esse motivo, quando esse cônjuge, apesar disso, permanece na relação, o outro assume uma dívida impossível de ser paga. E dívidas impagáveis têm um custo, como já mostramos em reflexões anteriores.
Na próxima postagem continuaremos esse assunto.

 


JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar.

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