Opinião

Fragmentos de uma vida

Fragmentos de uma vida

Ler é muito mais do que simplesmente passar os olhos por palavras impressas em uma página. A vida, afinal, é moldada por uma complexa interação de fatores que incluem biologia, epigenética, cultura, personalidade e inúmeras outras influências. No entanto, muitos se veem presos em uma confusão mental que os leva a acreditar que a vida se resume a momentos efêmeros, frequentemente repetidos como reprises de uma festa de Ano Novo.
É como se lembrássemos de lugares específicos em nossa história pessoal, dizendo: “Aqui foi onde comecei a trabalhar, aqui foi onde encontrei meu primeiro amor.” Esses momentos isolados na trajetória de vida se assemelham a peças soltas de uma engrenagem, incapazes de formar uma máquina coesa.
Nossa vida não se desdobra em espasmos desconexos, mas sim através de uma conexão constante a cada minuto. Cada decisão que tomamos gera consequências que moldam nossa narrativa pessoal. É você quem escreve sua história, e a coerência só emerge quando conseguimos unir os fios dispersos das várias narrativas que compõem nosso desenvolvimento intelectual.
No entanto, não basta apenas ler; é essencial fazê-lo da maneira certa. O estudo e a leitura devem ser prazerosos. Não devemos ser meros consumidores de palavras para preencher o tempo. Aqueles que encaram a vida dessa maneira se tornam presas das emoções efêmeras, perdendo-se na correnteza da história e, muitas vezes, caindo em enganos.
Ao ler, devemos estabelecer um diálogo profundo com o autor e a narrativa. Isso nos permite criar um fio narrativo significativo para nossas próprias vidas. Ser guiado apenas pelas emoções não nos levará a lugar algum. Ao sucumbirmos às emoções durante a leitura, a história pode parecer encantadora naquele momento, mas logo desvanece em nossa memória, e o autor, que tinha muito a nos ensinar, tem sua obra relegada ao status de mero entretenimento passageiro.
Na vida, o mesmo ocorre quando permitimos que as emoções nos dominem. Nossa existência se torna fragmentada, repleta de lembranças desconexas que não se conectam ao presente.
Melhorar nossos hábitos de leitura é, portanto, uma maneira de melhorar nossa própria maneira de viver. Três princípios devem ser lembrados:
Avalie a confiabilidade da personagem que narra a história. Quão confiável ela parece ser?
Analise se o tom e o clima que a personagem cria ao contar a história correspondem ao valor objetivo da narrativa.
Questione até que ponto podemos levar a sério o que a personagem diz. Há coerência em suas palavras?
Ao adotarmos esses princípios durante a segunda leitura, novas impressões emergirão, enriquecendo e aprofundando nossa compreensão da obra. Assim, a leitura se torna uma experiência mais enriquecedora e transformadora, permitindo-nos costurar as diversas partes de nossa própria narrativa em um todo coeso e significativo.