Concluímos nossa reflexão da postagem anterior insistindo sobre a necessidade de olhar para a motivação que leva um casal a adotar uma criança. Explicamos quando estamos diante de uma “adoção responsável”: é quando um casal decide adotar uma criança olhando para o bem-estar dela e buscando oferecer a ela as condições de se desenvolver que ela não encontraria se não fosse adotada.
E quando a motivação não é essa? Quando, em vez de olhar para o bem-estar da criança, o casal está preocupado em preencher suas próprias carências? Neste caso, estamos diante daquilo que Hellinger designa “adoção leviana”. Trata-se, “na maioria dos casos, de casais que não podem ter filhos e se rebelam contra as limitações que a natureza mesma lhes impõe. Implicitamente, pedem à criança que os proteja de sua desilusão. Em um caso assim, é violada tanto a orientação fundamental do dar e do tomar quanto a ordem de suas relações antes mesmo que estas iniciem” (Hellinger, B. Lograr el amor en la pareja, p. 83).
Quando a motivação para adotar está na satisfação dos próprios interesses do casal e não o bem-estar da criança, estamos diante do equivalente sistêmico do rapto de uma criança, alerta Hellinger. Semelhante atitude é plena de graves consequências. Hellinger cita várias possíveis consequências. Pode acontecer de o casal se divorciar: sacrificar um dos parceiros é o equivalente a privar os pais biológicos de um filho. Também pode acontecer também de a mãe adotiva engravidar e abortar a criança. Na sua forma mais destrutiva pode expressar-se por doenças e até suicídio de um filho biológico do casal.
Não raramente os pais adotivos se sentem pais melhores e, em lugar de se compreenderem como simples substitutos dos pais biológicos, pretendem ser eles mesmos os pais. É assim que eles se apresentam diante da criança e da sociedade. Este menosprezo dos pais biológicos é sentido pela criança, que se solidariza com os pais biológicos e fica com raiva dos pais adotivos.
Acontece também que, quando um filho é dado em adoção, geralmente fica bravo com os pais por tê-lo dado em vez de haver ficado com ele. Quando os pais adotivos se sentem como pais melhores, a criança adotada descarrega sua raiva neles. No entanto, quando eles se contentam com o segundo lugar, a raiva é direcionada aos pais biológicos, e o bom sentimento chega aos pais adotivos.
Hellinger faz ainda algumas recomendações práticas úteis aos pais adotivos. Assim, quando se adota uma criança, é importante que ela use termos diferentes para designar pais biológicos e pais adotivos. Por exemplo, ela pode chamar uns de “pai” e “mãe” e os outros de “papai” e “mamãe”. Igualmente, os pais adotivos não devem dizer “meu filho” ou “minha filha” para se referir à criança adotada. Em vez disso, podem dizer: “esta é a criança que pegamos para criar como representantes dos pais biológicos”. Recomenda, finalmente, que o filho conserve o sobrenome original. Desta maneira, fica claro desde o início que é adotado.
JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar.
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