Educação

Tecnologia ajuda alfabetizar crianças com autismo e dislexia

Bienal do Livro - Espaço reúne especialistas para debater os caminhos para a Educação no Brasil com foco no professor, no aluno e na sociedade

Tecnologia ajuda alfabetizar crianças com autismo e dislexia

Importantes mediadores para o incentivo à leitura, os professores tiveram dois dias inteiros exclusivamente dedicados a eles na Bienal do Livro Rio 2019. O Fórum de Educação reuniu, em 25 painéis, especialistas nacionais e internacionais para debater sobre arte-educação, leituras elásticas, aprendizagem digital e aprendizado em comunidade.

Uma das novidades dessa edição, apresentada pela Microsoft, foi a realização dos EduTalks, palestras curtas, no formato dos já conhecidos TEDs, com escritores e educadores. O objetivo foi dialogar com diferentes plataformas e conectar saberes para encarar o desafio de ensinar em um mundo em transformação.

Os participantes encontraram aperfeiçoamento profissional, inspiração e troca de experiências, além de inovações, métodos alternativos e cases de superação. Em sua primeira participação na Bienal, a Microsoft apresentou experiências que mostram como a tecnologia tem ajudado a transformar a educação através de um ensino mais personalizado e imersivo, além de ferramentas de acessibilidade.

Um dos destaques foi o One Note, um editor que permite, de forma ágil e simples, adaptar textos de qualquer origem em formatos adequados para alunos com autismo, baixa visão, dislexia e outras situações de necessidades educacionais específicas. A empresa investe também no desenvolvimento de ferramentas capazes de analisar imagens com uso de Inteligência Artificial.

Mas, segundo Vera Cabral, diretora de Educação da Microsoft, se por um lado a tecnologia ainda tem muito a oferecer para melhorar o ensino nas escolas, de outro, poucos avanços serão conquistados sem que se invista no professor como agente de formação de leitores. “Quando falamos de um país como o Brasil, em que a maioria não tem acesso à leitura, a atuação do professor é ainda mais fundamental”, destacou.

Já o fundador da Escola da Ponte, em Portugal, uma das instituições de ensino consideradas referência em termos de inovação pedagógica, o educador José Pacheco destacou que o anseio por tornar o ensino mais atraente tem feito surgir todo tipo de estratégia que se propõe inovadora, mas que adota os mesmos paradigmas do ensino tradicional. “Não há inovação possível em um ambiente como o da sala de aula. O centro da atividade hoje não é o aluno”, criticou Pacheco.

O Fórum de Educação da Bienal também abriu espaço para incentivar a reflexão sobre paradigmas que inquietam a humanidade e que, claro, afetam a vida dos professores. O ritmo de vida cada vez mais intenso e seus reflexos no indivíduo, por exemplo, foi abordado pelo monge sul-coreano Haemin Sunim, autor do best seller Coisas Que Só Você Vê Quando Desacelera.


Ana Maria Machado diz que professores podem mudar o rumo do país

Em um dos momentos mais emocionantes, a escritora Ana Maria Machado relembrou passagens marcantes de sua trajetória, em um bate-papo com professores. Ao falar de seus 50 anos dedicados à literatura, ela citou o início da carreira, no final dos anos 60, quando escrevia na Revista Recreio ao lado de outros ícones como Ruth Rocha e Joel Rufino. “Nessa época, nunca tinha pensado em escrever para crianças”, revelou.

A escritora também falou sobre o carinho que tem por aqueles que se dedicam à formação dos estudantes de todas as idades. E ressaltou que vê nos professores a esperança de dias melhores para o País. “São os professores que vão contribuir para que façamos do Brasil o país que merecemos ser e não isto que estão nos condenando a ser”.


Estudo revela importância das bibliotecas para a aprendizagem

No primeiro dia do Fórum, o Instituto Pró-Livro divulgou dados da pesquisa Retratos da Leitura em Bibliotecas Escolares, feita em 500 escolas de todo o País. A principal conclusão do estudo é que boas bibliotecas fazem a diferença para os alunos aprenderem mais. E esse efeito é amplificado para estudantes que moram em regiões de maior vulnerabilidade social.

Foram avaliadas seis dimensões: atendimento, espaço físico, qualidade do profissional responsável, trabalho do professor, uso da Biblioteca e acervo e recursos eletrônicos. A partir dos dados coletados pelos pesquisadores do Instituto Insper, que executaram a pesquisa a pedido do Instituto Pró-Livro, foram estabelecidas correlações entre a qualidade de cada um desses quesitos e o impacto no aprendizado.

A presença de um responsável qualificado, que cuide da biblioteca e participe das atividades pedagógicas, por exemplo, gera um efeito no aprendizado de Português de até 4,0 pontos na escala de proficiência do Saeb. Isso representa um terço de um ano letivo. Na prática, isto significa o seguinte: ao se comparar dois alunos que, por exemplo, cursaram o ensino fundamental em escolas que tinham bibliotecas com o pior e o melhor nível de qualidade possíveis, o que teve acesso à pior delas precisaria de mais um terço do ano letivo (60 dias de aulas) para chegar ao mesmo nível de habilidades e competências do outro. Em regiões de alta vulnerabilidade social, essa diferença pode chegar a um ano e meio.

A mesma correlação foi feita entre cada quesito analisado e as notas no Saeb em Português e Matemática. Em todos os casos, foi constado impacto positivo no aprendizado. Coordenadora da pesquisa Retratos da Leitura em Bibliotecas Escolares, Zoara Failla, do Instituto Pró-Livro, ressalta que um dos principais objetivos do estudo é mostrar a importância das bibliotecas escolares, principalmente se o estudante não tem livros em casa. “Precisamos garantir que todos os alunos tenham a oportunidade de escolher ou de saber escolher seu livro”, destaca a especialista.