Política

Secretário oferece R$ 100 mil a vereador para arquivar processo

Áudio enviado à polícia revela possível tentativa de suborno para arquivar processo contra prefeita

Secretário oferece R$ 100 mil a vereador para arquivar processo

Quedas do Iguaçu – As investigações que apuram a conduta da prefeita de Quedas do Iguaçu, Marlene Revers, suspeita de irregularidades na compra de bolos e salgadinhos nos anos de 2017 e 2018, devem ter um novo desdobramento nos próximos dias.

O processo de investigação está suspenso por determinação do Tribunal de Justiça após alegações feitas pela defesa de que um vereador, que preside a Comissão Processante, teria pedido a ela R$ 500 mil em propina para arquivar o processo, além do argumento de que nem todas as testemunhas de defesa terem sido ouvidas no processo.

O vereador nega as acusações e diz que se qualquer evidência contra ele for encontrada ou algo ficar provado, ele vai renunciar ao cargo.

Um novo elemento surgiu ontem. É que foi denunciado à Polícia Civil local e ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) de Francisco Beltrão uma tentativa de suborno para arquivar o caso. E promete sacudir Quedas do Iguaçu.

R$ 100 mil

No boletim de ocorrência registrado ontem (18), uma pessoa próxima ao vereador Renato Tureta denuncia a tentativa de comprar seu voto. A reportagem do Jornal O Paraná teve acesso a gravações nas quais a tentativa de suborno é tratada explicitamente.

Ouça a íntegra da conversa:

 

O denunciante, identificado nos áudios como Diguinho, foi procurado por “Jango”, um homem próximo ao secretário de Planejamento do Município, Vitório Revers, marido da prefeita, que teria oferecido (em nome de Vitório) R$ 100 mil ao vereador para que ele votasse pelo arquivamento do processo de cassação da prefeita, e, para ele, um carro, uma casa, mais um emprego de R$ 5 mil na prefeitura local por intermediar as negociações.

Jango passa a ligação para Vitório, que garante os R$ 100 mil, mas discute a oferta do carro e da casa feita a Diguinho. Durante a conversa por telefone, é possível ainda ouvir Jango se comprometendo a bancar a oferta do carro e da casa “do próprio bolso”.

A ligação foi gravada por Diguinho, que insiste com Vitório sobre a proposta de R$ 100 mil ao vereador, a qual o marido da prefeita reitera o compromisso mas diz que o faria de forma parcelada, mensalmente, de R$ 10 mil, para que não levantasse suspeitas. “Eu concordo com este valor, mas ainda precisa ser em prestação… 10 mil por mês, porque não tem como tirar dinheiro vivo de banco, senão você se estrepa… não vou tirar do Município isso, você sabe que não faço isso (…) em dinheiro e não tem nada em depositar em conta, a Receita Federal pega o cara, homem”, alerta Vitório.

A conversa dura pouco mais de 4 minutos. Vitório fala em tentativa de matarem a prefeita e desafia quem quer cassá-la: “Na pior das hipóteses quem vai mandar naquela mer… daquela prefeitura vai (sic) ser os que cassarem a Marlene. Eles pensam que vão encher o c… de dinheiro, vão ficar chupando o dedo. Acertei com o Biali (sic) hoje de manhã aqui em casa, e ninguém vai levar vantagem daqui, desses vagabundos que estão dizendo que vão sugar o (não entendível) eles podem tirar o cavalinho da chuva. Então eu faço isso”.

Outro lado

O vereador Renato Tureta disse à reportagem que, tão logo essa situação veio à tona, os áudios foram encaminhados à polícia. Questionado por que somente agora foram registrar o boletim de ocorrência, ele diz que o interlocutor Diguinho, que tinha como missão chegar até ele para o convencimento, é funcionário de uma empresa que presta serviços à prefeitura e que estava com receio de sofrer perseguição. “O áudio foi gravado porque ele resolveu dar corda, ver até onde ele [o Vitório] poderia chegar. Optamos por fazer o que é correto e denunciar é o correto”, declarou.

Vitório, marido da prefeita, foi procurado pela reportagem, mas ele não foi localizado. O Jornal O Paraná não conseguiu contato com as defesas de Diguinho e de Jango.

Reportagem: Juliet Manfrin

Acompanhe parte dos diálogos:

Diguinho: Boa noite seo Vitório, tudo bem?

Vitório: Oi Diguinho, tem uma condição bem mais razoável pra acertar, enfia no c… lá do outro vagabundo.

Diguinho: Só que o Jango me ofereceu uma proposta ali…

Vitório: Mas aí não… é demais… aquilo que ele ofereceu eu sustento por ele, mas eu, por mim, nem isso faria, mas agora chegar neste ponto de decapitarem, de matarem minha mulher por conta dessa putaria… Então eu até me proponho dentro, de como tu disse, de um valor razoável, acertar aquela situação, aquela questão do Jango dentro daquilo de um prazo, é a palavra do Vitório e a palavra do Vitório não volta atrás e é honrada, mas não dentro daquilo, aquilo é um absurdo, não tem nem como viabilizar.

Diguinho: O Jaime que confirmou 100 mil para o piá [vereador] e uma casa para mim e um carro para mim…

Vitório: Não, o Jango tá mentindo (…) não to nem sabendo disso (…) ele diz que dá do dele, me falou agora aqui, então é uma outra situação.

Diguinho: Oh secretário (…) o Jango me ofereceu uma coisa cedo… Ele ofereceu 100 mil pro vereador, uma casa pra mim e um carro no valor de 30 mil e 5 mil por mês agora que eu trabalho na prefeitura (…). O senhor confirma ou não confirma? Só que o vereador não aceitou…

Vitório: (…) Eu concordo este valor, mas ainda tem que ser em prestação 10 por mês porque não tem como tirar dinheiro vivo de banco mais do que isso. Se não tu se estrepa e eu tenho que pagar do meu bolso. Eu não vou tirar do Município, você sabe que não faço isso (…) mas uma quantia dessa tá louco. Até o santo desconfia. Em dinheiro, não tem nada em depositar em conta, isso é absurdo, a Receita Federal pega o cara, homem…