Política

Reunião do G20: Trégua na guerra comercial EUA-China e renovação de compromissos com o clima e a sustentabilidade

Com uma declaração final incluindo temas sensíveis como clima e livre comércio assinada por todos os membros do G20, a reunião do grupo das 20 maiores economias do mundo, realizada em Buenos Aires, pode ser avaliada como bem-sucedida, uma vez que as expectativas em seu início eram bastante pessimistas dadas as sérias divergências e disputas em temas cruciais para a ordem política e econômica mundial.

As dificuldades para o avanço de negociações multilaterais que requerem a disposição para ceder em nome de um bem comum já podiam ser percebidas a começar pela situação da própria Argentina, anfitriã da reunião que ocorreu pela primeira vez num país da América Sul. O segundo maior país da região enfrenta uma grave crise econômica e política com o governo de Maurício Macri tendo sua popularidade em acentuado declínio.

Entre os presentes, outro governante em situação delicada era o presidente da França, Emmanuel Macron, que viajou para Buenos Aires em meio à mais grave crise que seu governo enfrenta e que teve numa decisão de aumento do preço dos combustíveis para financiar projetos de "transição ecológica" o estopim da crise.

Outro acontecimento nas vésperas da reunião de Buenos Aires que terminou por piorar o clima geral foi o cancelamento por parte da diplomacia norte-americana da reunião entre Donald Trump e Vladimir Putin em função da evolução da crise envolvendo a Guarda Costeira russa e navios ucranianos na entrada do estreito de Kerch.

Mas o foco das atenções estava mesmo em outro ringue, ocupado pelos presidentes Donald Trump e Xi Jimping que, nos últimos meses, se enfrentam numa grave guerra comercial com sérios reflexos sobre os mais importantes fluxos do comércio mundial.

E foi dessa difícil crise que saiu um acordo que por 90 dias estabelece uma trégua entre EUA e China para que se restabeleçam negociações visando ao equacionamento de interesses conflitantes. Abriu-se também espaço para avanço das negociações para reforma da OMC e, com isso, restabelecimento de autoridade e credibilidade da organização multilateral global como fórum privilegiado para a solução de controvérsias do comércio internacional.

Ao Brasil coube apenas espaço de coadjuvante, com o presidente brasileiro que desde o início de seu precário governo não ocupou qualquer espaço de relevo em fóruns internacionais.

Sobre o novo presidente brasileiro eleito, a comunidade internacional espera com certa curiosidade e apreensão suas primeiras ações, uma vez que mesmo antes de assumir o poder já foi capaz de produzir discórdia e veementes críticas entre muitos de seus principais parceiros internacionais. Exemplo disso foi o mal-estar provocado pela decisão de cancelamento por parte do governo brasileiro de sediar a COP25, além de declarações de membros do novo governo mostrando desprezo por estudos sobre mudanças climáticas e pouca disposição a cumprir responsabilidades assumidas em fóruns multilaterais. Com isso o governo dilapida um dos seus principais capitais políticos em mesas de negociações internacionais.

Mas mais importante ainda foram as declarações de Xi Jimping sobre a irreversibilidade da agenda ambiental e a concordância de Donald Trump em assinar a declaração final da reunião em que constam os compromissos assumidos pelos signatários do Acordo de Paris e do Plano de Ação de Hamburgo que terminaram por restabelecer alguma esperança, ao fim da reunião, na aposta na arte de negociar como um dos meios mais elevados e vantajosos da ação política.

Arnaldo Francisco Cardoso é pesquisador e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Alphaville nas áreas de Comércio e Relações Internacionais

Ao Brasil coube apenas espaço de coadjuvante, com o presidente brasileiro que desde o início de seu precário governo não ocupou qualquer espaço de relevo em fóruns internacionais