Variedades

Rebelo de Sousa, o presidente mais pop do mundo

Uma tese de doutorado indaga a extraordinária popularidade do chefe de Estado português eleito três anos atrás

Rebelo de Sousa, o presidente mais pop do mundo

Há três anos, Rebelo de Sousa chegou andando ao parlamento do país para receber a faixa presidencial de Portugal. Ele tinha ganhado as eleições presidenciais com 52% dos votos com um gasto eleitoral de míseros €157 mil na campanha (três vezes menos que a candidata do Bloco de Esquerda), frutos das doações de apenas sete pessoas.

Marcelo Rebelo de Sousa, de 71 anos, rompeu todos os moldes das campanhas políticas em 2016 e, desde então, é um fenômeno na Europa — um continente que vive crises existenciais com seus governantes, vide Emmanuel Macron, na França, Viktor Orbán, na Hungria, e até Theresa May, na Inglaterra. Agora, seu caso é estudado na universidade.

Depois da eleição, cerca de 71% da população tem uma imagem positiva do presidente, enquanto os que veem o dirigente com maus olhos contam por apenas 7%. A professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Sandra Sá Couto, estudou o fenômeno em sua tese de doutorado intitulada O presidente-celebridade. Como jornalista, ela cobre campanhas eleitorais portuguesas desde 2001, mas viu em Rebelo de Sousa uma novidade.

O então candidato, católico antes de tudo e militante do Partido Social Democrata, renunciou ao maquinário do partido, às bandeiras, jingles, comícios e santinhos. Ao invés disso, foi para a rua conversar e abraçar as pessoas. Se converteu logo no “candidato dos afetos” e, depois, no “presidente dos afetos”. “Às vezes, as pessoas só precisam de consolo, um abraço, que as escutem. Já entendem que eu não vou solucionar seus problemas”, disse ele na época da campanha.

A tese de Sá Couto é que Rebelo de Sousa percebeu antes de todo mundo que os novos políticos precisam ser assim: próximo das pessoas de um modo sincero. O presidente português passou o Natal de 2017  trabalhando em cozinhas comunitárias, dormindo nas casas das vítimas do incêndio no Norte do país, que matou aos menos 40 pessoas em outubro daquele ano, e dando uma mão onde se necessitava.

Segundo uma pesquisa publicada pela revista Expresso na ocasião dos dois anos do seu mandato, 52% dos portugueses desejava ter uma fotografia no celular com ele. Cerca de 3,3% da população contou já ter uma selfie com o presidente, o que representa 330 mil pessoas.

Sua popularidade também já rende produtos: uma agência de publicidade recorreu à sua imagem para se autopromover. Abriu um site chamado TeleMarcelo, onde as pessoas deixavam um telefone de algum conhecido para outras pessoas o acordassem com uma frase dita, de fato, por Rebelo. “Aqui é Marcelo Rebelo de Sousa. Interrompi uma reunião que tinha. Acabei uma e vou começar outra, mas queria te dar um beijo”.

A frase de Rebelo foi transmitida ao vivo durante a estreia do programa da apresentadora da famosa apresentadora Cristina Ferreira no canal SIC. O telefone tocou, ela atendeu, e o presidente disse exatamente essa frase. Em um dia da campanha da agência foram registradas 107 mil ligações.

Ainda que seja presidente, no entanto, há quem diga que Rebelo é o mais monárquico dos republicanos — não à toa era administrador da Fundação da Casa de Bragança, entidade criada pelo último rei português, Manuel II, até chegar ao cargo atual. É um grande amigo do rei Felipe VI e da rainha Letizia, da Espanha, com quem se reuniu várias vezes desde que chegou à presidência.

Apesar disso, o presidente começa a sentir o peso do cargo: uma pesquisa da consultoria Aximage publicada em janeiro mostrou que a popularidade dele está em queda desde maio de 2018 — ele recebeu uma nota de 15,9 em uma escala de vai de 0 a 20 para avaliar seu governo. “Continuo muito grato com a generosidade dos portugueses. Se se trata do fato dos portugueses gostarem de mim na proporção de 71% ou 67% [últimos dados das pesquisas]. Lembre-se que se vão três anos que tomei posse com 52% dos votos. Portanto, ter — em três anos, com tudo aquilo que é o desgaste da função — a generosidade dos portugueses nesses níveis, acho que não é razão para depressão”, disse em fevereiro.

Segundo ele, os desafios são outros: enfrentar o parlamento na votação para aumentar o salário mínimo do funcionalismo público.