Opinião

Queridinho da mamãe e filhinha do papai

Esse modo de lidar com os filhos costuma produzir consequências sérias mais tarde

Queridinho da mamãe e filhinha do papai

Possivelmente você conhece homens e mulheres que se caracterizam por dinâmicas de sedução, mas que costumam não assumir vínculos definitivos. A literatura os consagrou como “Casanovas” e “femme fatale”. Hellinger nos explica que, por detrás disso, costumam estar razões sistêmicas bem profundas.

A questão toda se inicia na infância. Hellinger explica que, para se tornar um marido, o filho deve renunciar à primeira mulher da sua vida, isso é, à mãe; e, para se tornar uma esposa, a filha deve renunciar ao primeiro homem da sua vida, ou seja, ao pai. Em algumas situações, porém, o filho permanece no círculo da mãe e a filha não abandona a esfera do pai.

Possivelmente, você já observou que, por vezes, as mães não deixam o filho “desgrudar-se” dela. Algumas mães se queixam o tempo todo de que unicamente ela tem que cuidar do filho. Quando a gente olha mais de perto a questão, notamos que, na verdade, é a mãe que não “confia” nos cuidados do marido e não permite que ele cuide, do jeito dele, do filho. A mãe, pelo mais puro amor, segura o filho e não o deixa seguir para o pai. Então o filho se converte no “filhinho da mamãe”.

Outras vezes, também acontece de a filha ficar grudada no pai. Acompanha o pai a todas as suas lidas e adora “trabalhos de homem”. E o pai se enche de orgulho ao falar do quanto sua filha está ligada a ele. Também nesse caso, o pai, por puro amor, não deixa a filha viver na proximidade da mãe. E a filha se torna a “queridinha do papai”.

Esse modo de lidar com os filhos costuma produzir consequências sérias mais tarde, explica Hellinger. O “filhinho da mamãe” costuma ser o “queridinho” das mulheres, mas tem dificuldades de assumir um compromisso definitivo. Quando assume, permanece preso às namoradas e procura uma substituta da mãe na amante. Em suma, para Hellinger, quanto menos energia do pai o filho toma tanto, menos interessante ele se torna para as mulheres. As mulheres apenas sentem compaixão por esses homens, mas não veem nada de atraente neles.

Com a “filhinha do papai” não acontece diferente. Em geral, explica Hellinger, ela é afetada pela mesma dinâmica: seus vínculos são frágeis e costumam não durar muito tempo, e tenderá a buscar um substituto do pai no amante. Em geral, elas não despertam a empatia e o desejo nos homens por terem tomado excessiva energia masculina do pai.

Uma outra dinâmica bem conhecida: a mulher se dá bem com o sogro, mas vive em conflito com a sogra; o marido se dá bem com a sogra, mas não se acerta com o sogro. Segundo Hellinger, detrás disso está a mesma origem sistêmica: o “filhinho da mamãe” tomou em excesso a energia feminina da mãe, o que lhe dificulta o relacionamento com o sogro, mas facilita a amizade com a sogra; a “queridinha do papai” desenvolveu em si em demasia a energia masculina tomada do pai, o que lhe dificulta a boa relação com o feminino da sogra, mas a aproxima do sogro.

Isso tem tratamento? Terapias de base sistêmica ajudam a tornar conscientes essas dinâmicas e a tomar a energia de seu próprio sexo.

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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar.

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