Opinião

Quem chora mais...

Por Carla Hachmann

Um dos primeiros esqueletos da “caixa-preta” do BNDES foi tirado esta semana, com a lista de 134 empresas e personalidades que pegaram dinheiro do banco para comprar aeronaves da Embraer, entre 2009 e 2014, com juros subsidiados de 2,5% a 8,7% ao ano. Ao todo, o banco emprestou R$ 1,9 bilhão. O Tesouro (ou seja, nós) “bancou” R$ 693 milhões em subsídios a esses empréstimos.

O que chama a atenção é que a lista inclui dezenas de artistas, políticos e empresários que, pelo menos pelo que ostentam, não precisam de “ajuda” para comprar seus jatinhos particulares.

A título de comparação, pelo novo modelo de financiamento da habitação lançado ontem pela Caixa, os juros para comprar a casa própria podem ficar em 7% ao ano, se o sujeito conseguir se encaixar na menor faixa. Já pelo pacote do BNDES, teve sujeito que conseguiu o investimento milionário a módicos 2,5% ao ano.

Essas são algumas das discrepâncias que acontecem neste país de dimensão continental e que explicam um pouco por que o Brasil não consegue reduzir a desigualdade social. Quem tem bastante, sempre leva vantagem.

Esses empréstimos do BNDES não são operações ilegais. Contudo, qual a justificativa para subsidiar crédito para quem já tem muito dinheiro?

O Estado é para todos, mas também deve ser coerente. Se consegue oferecer vantagens para alguns, que o faça para todos. Imagine quanto você economizaria por mês se tivesse a opção de comprar seu carro com uma taxa de 2,5% ao ano? Quase o mesmo percentual aplicado por mês pelas financeiras hoje em dia.