Opinião

Oportunidades e riscos no Planeta Vica

Opinião de Fernando Valente Pimentel

Volta à atualidade um acrônimo criado há 30 anos, no início da década dos anos 90, no ambiente militar do U.S. Army War College, para alertar sobre as incertezas e os riscos do mundo pós-guerra fria: Planeta Vica, ou Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo. Sim, todos esses pontos pairam novamente sobre a cabeça da humanidade na terceira década do Século XXI. Mais uma vez, a civilização vive um momento de grandes mudanças, oportunidades e riscos.

As promessas de paz e prosperidade econômica que brotaram nos escombros do Muro de Berlim, em 1989, sinalizavam um novo momento na história. Os conflitos não cessaram, mas a economia experimentou avanços expressivos, com a aceleração da globalização, a consolidação da União Europeia, em novembro de 1993, do Mercosul, em 1994, e outros blocos de nações. Os Tigres Asiáticos cresciam muito e a economia chinesa, embora ainda não fosse um deles, já estava em sua impressionante trajetória ascendente.

​Eram boas as perspectivas de um mundo cada vez mais sem fronteiras, no qual se produziam os produtos consumidos com componentes de distintos países, com barreiras protecionistas menores e prevalência do multilateralismo. O Brasil solucionou seu grave e crônico problema da inflação, com o Plano Real. O Século XX, de profundas transformações socioeconômicas e tecnológicas, caminhava para um novo futuro ao cabo de sua última década…

A saída do Reino Unido da União Europeia, as disputas comerciais, tecnológicas e geopolíticas entre Estados Unidos e China, que culminaram num acordo parcial entre os dois gigantes, a busca crescente por negociações bilaterais entre os países, as incertezas dentro do próprio Mercosul e o recrudescimento do protecionismo são evidências de que a globalização, da maneira como a conhecemos a partir dos anos 90, está em estado de análise. Ao mesmo tempo, as tensões bélicas estão agudas, com a crise entre Estados Unidos e Irã e Coreia do Norte, ameaças de retomada da corrida nuclear, a transformação da Primavera Árabe num incessável verão de tempestades perfeitas, destruição e morte, também presentes nos conflitos na África.

Guerra produz refugiados, que já são cerca de 70 milhões em todo o mundo, provocando crises humanitárias, sociais e de fronteiras. O aquecimento global e epidemias, como a do novo coronavírus, completam o quadro de ambiguidades, incertezas, volatilidade e complexidade.

Além das inestimáveis perdas de vidas humanas, ceifadas por armas, epidemias, fome e catástrofes ambientais, muitas delas provocadas pelo desrespeito ao meio ambiente, toda essa onda a que estamos assistindo afeta as relações de suprimentos no contexto da globalização e dificulta o crescimento econômico, principalmente das nações emergentes e/ou das que vêm enfrentando crises e recessão nos últimos anos. O Brasil, que se enquadra em ambos os casos, precisa aprender a se mover no Planeta Vica.

É preciso reconhecer que, embora ainda longe do ideal, o mundo contemporâneo é o melhor que já tivemos em termos das conquistas científicas, tecnológicas, da medicina e no reconhecimento aos direitos das minorias, respeito aos consumidores e às prerrogativas da cidadania.

Permanecem, porém, graves desigualdades regionais e demográficas, ameaças climáticas e ambientais e tensões bélicas, problemas que fogem ao nosso controle e com múltiplas variáveis. Mas, é nesse cenário que precisamos criar e colocar em prática um projeto de país, incluindo nosso ingresso competitivo na Quarta Revolução Industrial. Nesse sentido, já demos alguns passos, como a reforma trabalhista e a previdenciária e outras em curso, como a tributária, PEC Emergencial e da Revisão dos Fundos, bem como o começo da desburocratização e queda dos juros, dentre outras medidas que vêm sendo adotadas.

Fica claro, entretanto, que o fator crucial da competitividade no Planeta Vica será conhecimento, inovação, Pesquisa & Desenvolvimento e capacidade de agir e reagir dentro desse ambiente de incertezas e mudanças. Educação de excelência, com a formação de sucessivas gerações cada vez mais capacitadas, é o nosso transporte para um futuro que já chegou.

Nos últimos 40 anos, perdemos a capacidade de crescer devido a escolhas erradas que fizemos. Nesse sentido, o setor industrial foi o mais afetado. É mais do que tempo de traçarmos com clareza nossos caminhos e estratégias para realizar todo o potencial que temos e nos colocar no ranking dos melhores países para se viver, produzir e inovar. Será obra de toda a sociedade, mas com protagonismo relevante dos poderes da República.

 

Fernando Valente Pimentel é o presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção)