Agronegócio

Mobilização regional: Produtores pedem mudança na política do preço de leite

Em abaixo assinado, produtores elencam 8 prioridades à cadeia leiteira

Mobilização regional: Produtores pedem mudança na política do preço de leite

Reportagem: Juliet Manfrin

Lindoeste – Pagando para trabalhar. É assim que produtores de leite de toda a região oeste do Paraná descreveram sua situação em protesto realizado às margens da BR-163 em Lindoeste, nessa sexta-feira.

A movimentação reuniu centenas de produtores e apoiadores. No foco do debate circula um abaixo-assinado com oito reivindicações da categoria, entre elas a garantia de preço mínimo de R$ 1,40/litro pelo Conseleite (Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Estado do Paraná) e o pedido para que a indústria informe com antecedência o corte nos valores pagos ao produtor. “Existe uma lei que determina isso, mas não é cumprida. O produtor só fica sabendo o quanto vai receber no momento de buscar o cheque ou quando sai o valor no Conseleite, mesmo assim tem quem receba menos”, alerta o veterinário Jonathas Canal.

A situação ficou ainda mais crítica desde o mês passado. Apesar do inverno, que seria a “melhor época” para a atividade, o valor pago ao produtor recuou de R$ 0,05 até R$ 0,10 por litro e a tendência é de nova queda. Pode parecer pouco, mas em uma atividade onde se vive dos centavos, isso faz toda a diferença. “O preço do Conseleite está na casa de R$ 1,07/litro, mas teve gente que recebeu R$ 0,84 o litro. Para se ter ideia, o custo de produção é de R$ 1,15 a R$ 1,2, ou seja, estamos pagando para trabalhar”, denuncia o produtor Gilmar Bif.

Segundo Gilmar, há um ano o preço médio pago por litro passava de R$ 1,30, ou seja, 10% a mais que hoje, sendo que o custo de produção no período aumentou 12%. “No inverno é mais caro produzir e depois da geada, que queimou toda a pastagem, ficou ainda mais difícil e mais caro”.

Investimentos

Os produtores estão focados em implantar todos os pontos da Instrução Normativa 77, que determina produção com mais qualidade, mais proteína e gordura no leite. Eles concordam que a IN é extremamente positiva, mas lembram que as mudanças exigem investimentos. “A gente é completamente favorável à Instrução Normativa 77, a gente investe, mas na hora de receber não tem retorno. Essa é uma profissão escravizante… o produtor de leite não tem férias nem descanso por 365 dias no ano… do jeito que está, não dá para continuar”, alerta o produtor Ari Vesato.

Os produtores criticam ainda a política de definição do preço de leite. Segundo Gilmar Bif, o Conseleite é formado na maioria por donos de laticínios e cobra que o setor produtivo deveria participar mais ativamente da política de definição de preços. “Pelo que nos falam [a indústria], o preço tem caído por causa do leite importado do Uruguai e da Argentina, ou seja, há grandes estoques. Como parte é em pó [vindo da Nova Zelândia e reidratado no Uruguai para acessar o Brasil], há um volume grande de leite guardado, comprado ainda ano passado. Não queremos que o consumidor pague a conta, mas quando o preço do leite sobe, o produtor pouco é beneficiado e, quando cai, é o único que paga a conta. É da gente que sempre tiram”, lamenta Gilmar Bif.

Sem apoio político

O abaixo-assinado será enviado a líderes políticos regionais para que o levem ao governo do Estado e ao governo federal. A Amop (Associação dos Municípios do Oeste do Paraná) teria se comprometido em discutir a pauta em outras esferas do poder público.

Contudo, os produtores também esbarram na falta de apoio político. Como se trata de um movimento nacional, alguns protestos já foram realizados em Minas Gerais e em outras regiões do Paraná. E, apesar da presença de prefeitos do oeste no protesto de sexta-feira, nenhum deputado estadual ou federal da região acompanhou a mobilização em Lindoeste. Um dos organizadores da manifestação agradeceu um deputado de Goiás que é quem está auxiliando com as reivindicações.