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Jaci Pian, história viva do automobilismo de Cascavel

Jaci Pian foi um dos primeiros cascavelense a se destacar no automobilismo e hoje trabalha como administrador do autódromo

Jaci Pian, história viva do automobilismo de Cascavel

Aos 72 anos, Jaci Pian é a história viva do automobilismo de Cascavel. Nascido em Erechim (RS), ele chegou a Cascavel com 14 anos, o que faz com que sua família seja pioneira da cidade. Seu pai, Adolival Pian, que hoje é nome do colégio do Bairro São Cristóvão, logo se engajou nas causas da nova cidade e esteve no grupo de pioneiros que vislumbraram divulgar Cascavel com o automobilismo e passaram a organizar corridas pelas ruas da cidade e logo em seguida ousaram em construir um autódromo, o terceiro do País e o primeiro em uma cidade do interior, sob a liderança de Zilmar Beux.

Jaci também abraçou a causa, mas decidiu ser piloto e logo mostrou talento, destacando-se como um dos melhores do Paraná, com vitórias memoráreis com sua Simca Chambord, como nos 500 Km de Cascavel, a quarta corrida realizada na cidade, no circuito de rua do Parque São Paulo, que passava pela Carlos Gomes, lateral do Cemitério Central, e voltava pela General Osório, onde hoje está o Corpo de Bombeiros.

Sua estreia no automobilismo foi no dia 4 de dezembro de 1966, na corrida que também marcou a estreia de Pedro Muffato, outro cascavelense que viria a fazer sucesso no automobilismo.

Jaci também fez a pole position e liderou a primeira volta da corrida de inauguração do autódromo com pista de terra em 16 de novembro de 1969. Nas, na segunda volta, sua Carretera quebrou e ele abandonou.

Jaci continuou brilhando nas corridas, fazendo frente aos grandes nomes nacionais do esporte na época, com atuações aplaudidas pelo público de pé em autódromos de Curitiba, Guarapuava e Laranjeiras do Sul, no Paraná, de Joaçaba, em Santa Catarina; e de Aratiri, em Assunção, no Paraguai, na qual disputou a prova de inauguração.

 

Fim da carreira

Mas a carreira de Jaci Pian não durou muito. Ele deixou as pistas depois de participar da etapa de Cascavel do Campeonato Brasileiro de Divisão 3 disputada no dia 30 de setembro de 1973, já com a pista asfaltada. Ele abandonou a prova após a quebra de sua Manta Chrysler. O motivo que levou Jaci a abandonar a carreira foi o falecimento de seu irmão Ade (Ademar Pian), que sofreu um acidente na prova de Estreantes e Novatos naquele dia e veio a falecer dias depois, com apenas 23 anos. “Meu irmão sofreu o acidente na corrida de Estreantes pela manhã, foi hospitalizado, mas o médico disse que não era grave. Corri à tarde, mas minha Manta quebrou. Meu irmão continuou hospitalizado e, na sequência, seu quadro piorou, sendo necessário ser transferido para Curitiba, vindo a falecer 16 dias depois em decorrência de traumatismo craniano. Se fosse hoje, certamente ele não teria morrido, porque hoje os recursos são maiores. O atendimento em uma corrida hoje é muito eficiente e os médicos já teriam diagnosticado a gravidade no próprio autódromo. Com o falecimento do meu irmão, a família, principalmente minha mãe, Leonilda, passou a me pressionar para não correr mais e assim o fiz”, frisa Jaci.

 

Família rica

A família Pian era uma das mais ricas da pujante Cascavel dos anos 60. Tinha as concessionárias da Simca Chambord e DKV, postos de combustíveis e fazendas.

A situação começou a mudar em 1974. Depois do abalo da morte de Ade em 16 de outubro de 1973, seu pai, Adolival, faleceu em janeiro de 1974, em decorrência de um câncer.

Hoje, Jaci tem apenas um irmão vivo, César Augusto Pian, agrônomo que reside em Curitiba e trabalha no Ministério de Agricultura. Edson Pascoal e Cleci faleceram há alguns anos de causas naturais. Jaci tem dois filhos, Ricardo e Guilhermo.

Com a morte do pai, a situação financeira da família começou a mudar alguns anos depois. Jaci define como um tsunami que passou em sua vida. Mas sua forma de encarar a vida não mudou. Continuou amigo dos amigos e sempre disposto a se envolver em causas de interesse da cidade.

Nos últimos anos, trabalha como administrador do Autódromo Zilmar Beux, nomeado nas gestões dos prefeitos Edgar Bueno e Leonaldo Paranhos. “A família perdeu patrimônio, mas não perdi a forma de ver a vida. Não mudei a forma de ser. Continuei com o mesmo círculo de amizades e o mais importante, meus amigos não se afastaram de mim porque eu não tinha mais o mesmo dinheiro de outrora. Cultivo amizades daquele tempo até hoje”, diz Jaci.

 

Talentos

Jaci conhece todos os pilotos que surgiram em Cascavel desde as primeiras corridas e enumera alguns como Pedro Muffato, Ângelo Giombelli, David Muffato, Jaime Melo Júnior, mas considera Valdir Favarin, Saul Caus e Roberto Wypych como seus pupilos, porque começaram a correr sob sua influência, com seus conselhos e suas orientações.

Sobre o momento atual, Jaci entende que Cascavel precisa valorizar mais o automobilismo, o autódromo, porque é uma grande ferramenta para atrair turistas à cidade, é importante do ponto de vista econômico e, assim como previram os pioneiros, é o maior divulgador da hoje metrópole Cascavel. “Acho que a Câmara de Vereadores deveria declarar o automobilismo e o autódromo patrimônios culturais da cidade”, finaliza Jaci Pian.