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Engenheiro diz que formato da Marina da Glória ilude sobre proteção contra ressaca

A ressaca que danificou e inutilizou a rampa construída na Marina da Glória para a Olimpíada deveria ter sido prevista no projeto, afirma o engenheiro Luiz Carneiro, que construiu a rampa de cimento que está sendo utilizada como alternativa. O fenômeno climático não é novo nem único, especialmente no inverno. Segundo Luiz, o formato circular da Marina dá a falsa ideia de que o local está imune às ondulações fortes. Não é o caso.

? Quem não conhece, acaba se iludindo que a Marina está totalmente abrigada, protegida pela curva e pelas pedras, mas não está. A ressaca pode acontecer de novo. É comum no inverno. A solução definitiva seria construir um enrocamento na ponta ? diz Carneiro, que é diretor do Crea.

De acordo com Carneiro, uma ondulação capaz de danificar uma estrutura como a rampa construída para os Jogos depende de uma conjunção de fatores climáticos. Eles, no entanto, podem ser previstos.

? A ondulação entra com força se tiver uma condição que combina ressaca e vento forte no sentido sudeste ou sul. O mar roda como se fosse um caracol, e a água vai parar na Marina com força ? explica o engenheiro.

Construída para os Jogos e com os anéis olímpicos estampados sobre sua estrutura, a rampa destruída é uma instalação temporária instalada para dar conta da quantidade de barcos nas regatas de Vela. Somadas as seis classes da modalidade, serão 274 embarcações. Nesta segunda-feira, operários começaram a trabalhar no reparo. Enquanto isso, os atletas utilizaram a rampa de cimento para levar seus barcos ao mar. Não houve problemas.

EMENDA ROMPIDA

A rampa é feita de uma estrutura metálica que sustenta um compensado naval. Embaixo, boias permitem que ela se movimente de acordo com a maré. Segundo Carneiro, a variação da maré pode chegar a 1,20m. A previsão para os próximos dias é de ondulações fracas.

? A ligação da parte que encosta no continente (com a parte que está sobre as boias) tem que ser feita aceitando esta variação de maré ? explica Carneiro, que cita como exemplo os píeres de atracação das barcas nas estações na Praça XV e em Niterói.

Foi esta ligação que rompeu com a ressaca:

? O que foi falado aos chefes de delegação é que o projeto foi o mesmo de eventos anteriores. A ressaca partiu uma parte da emenda, e decidiu-se por desmontar a estrutura para acertar a emenda que quebrou ? explicou Daniel Santiago, responsável pela equipe brasileira de vela.

TREINOS ACONTECEM NORMALMENTE

Mesmo sem a rampa dos Jogos, os velejadores treinaram normalmente nesta segunda-feira. O número de atletas olímpicos na Marina cresce a cada dia, mas, por enquanto, nem todos os competidores chegaram ao Rio.

? A previsão de reparo é até sexta-feira. A gente vê que tem gente o tempo todo trabalhando na rampa, só que não é uma coisa rápida. Mesmo assim, hoje teve bastante gente velejando, descendo pela outra rampa e zero de problema. Nosso time não teve nenhum problema ? disse Santiago.

De acordo com a última atualização da Matriz de Responsabilidade dos Jogos, de janeiro, a adequação da Marina custou R$ 60 milhões. Os recursos foram privados.