Cotidiano

Crise hídrica: Normalização depende de 900 mm de chuva

Além de Cascavel, também estão em situação crítica as cidades de Campo Bonito e Santa Lúcia, onde o abastecimento está sendo feito com caminhão-pipa

Crise hídrica: Normalização depende de 900 mm de chuva

Reportagem: Cláudia Neis

Cascavel – A situação do abastecimento de água continua crítica na região oeste do Paraná, com redução de 50% da vazão dos mananciais. E, devido ao nível dos reservatórios – com capacidade para 30 milhões de litros e ontem (20) tinham 18 milhões -, a Sanepar retomou o rodízio no abastecimento em Cascavel.

Além de Cascavel, também estão em situação crítica as cidades de Campo Bonito e Santa Lúcia, onde o abastecimento está sendo feito com caminhão-pipa. O consumo médio diário em novembro está na casa dos 67 milhões de litros de água em toda a região.

Em uma das piores crises hídricas, pois a falta de chuvas se estende desde abril, para normalizar a situação dos rios da região, a Sanepar diz que são necessários 900 milímetros de chuva.

O acumulado desde janeiro é de 1.431 milímetros de chuva, 62% da média, sempre acima dos 2.300 mm.

Ou seja, é preciso que as chuvas voltem a ocorrer com frequência, e durante vários dias para recuperar a vazão dos mananciais.

Vai chover?

Desde abril, o Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná) tem previsto que “mês que vem” as chuvas normalizam. Até agora nada. A previsão para o verão ainda não está fechada, mas por enquanto os dados apontam para normalização. “De acordo com o que já temos de informações, os fenômenos El Niño e La Niña não devem ter alterações, por isso a expectativa é de que volte a chover com mais regularidade nos próximos meses, agora, quando exatamente, ainda não é possível prever”, explica o meteorologista Cezar Duquia.

Segundo ele, essa não é uma das situações mais graves já registradas no Estado.

Cezar afirma que os próximos dias devem ser de muito calor, mas fim de semana uma frente fria passa pelo Estado e baixa as temperaturas. “Uma frente fria vai trazer chuvas mais significativas entre o sábado e a segunda-feira. São chuvas irregulares, mas com volumes bons. A possibilidade de temporais também não está descartada, uma vez que as temperaturas estão muito altas e isso é favorável a formação de tempestades”, explica o meteorologista.

Fim das nascentes?

A falta de chuva traz outras preocupações além do abastecimento humano: o fim de nascentes urbanas. De acordo com a ONG Amigos dos Rios, elas têm sido destruídas. “A questão não é só a seca, mas de destruição de nascentes. Muitas obras estão sendo feitas em cima de nascentes, algumas inclusive com autorização para isso. Em muitos locais da cidade tem ocorrido isso, muita gente se aproveitou da seca para soterrar as nascentes”, lamenta o presidente da ONG, Adelar José Valdameri.

Adelar disse que inúmeras denúncias foram levadas à Secretaria de Meio Ambiente de Cascavel, mas que até o momento não houve retorno.

Ele alerta que, mesmo quando a normalização das chuvas ocorrer, o panorama hídrico da região não será mais o mesmo, pois haverá menos água por conta das nascentes que deixaram de existir. “Quanto mais o tempo passa, teremos de buscar água mais longe”, lamenta Adelar.

Sanepar inicia mapeamento na bacia dos mananciais de Cascavel

Técnicos da Sanepar iniciaram nesta semana os levantamentos e o diagnóstico da bacia dos Rios Cascavel, Peroba e Saltinho, que abastecem os moradores de Cascavel, e do Rio São José, que vai contribuir com o abastecimento da cidade a partir do ano que vem. O objetivo é mapear todas as vulnerabilidades nas áreas desses mananciais apontando as atividades que são desenvolvidas em cada uma das bacias e indicar os impactos na água dos rios.

Sete profissionais da Sanepar estão percorrendo mais de 260 quilômetros quadrados das quatro bacias. A equipe utiliza um drone para auxiliar nos trabalhos. Nesse mapeamento serão apontados os riscos potenciais de cada atividade e, na sequência, será elaborado plano de ação para controle, eliminação, mitigação e monitoramento nos rios.

Segundo a gerente de Recursos Hídricos da Sanepar, Ester Amélia Assis Mendes, a segurança hídrica leva em conta a qualidade, a quantidade, a disponibilidade da água, a cobertura e os custos para o abastecimento público.

Pioneirismo

Essa é uma das primeiras medidas que a Sanepar antecipa para compor o PSA (Plano de Segurança das Águas), definido pelo Ministério da Saúde e baseado em metodologia da OMS (Organização Mundial da Saúde). Cascavel será a primeira cidade do País a ter implantado o PSA.

Ester explica que todos os impactos verificados deverão receber tratamento e, devido à complexidade do PSA, será necessário estabelecer parcerias. “A responsabilidade deve ser compartilhada e é imprescindível a participação de diversas instituições para apoiar as ações que estarão definidas no Plano”, afirma a gerente.

O levantamento técnico que irá compor o diagnóstico das bacias dos quatro mananciais de abastecimento de Cascavel deve se estender até a próxima sexta-feira (22).

Dia do Rio

No próximo domingo (24) é comemorado o Dia do Rio. A data foi instituída para conscientizar a população e mostrar a importância da preservação e da proteção dos recursos naturais.

A gerente regional da Sanepar, Rita Camana, diz que é bem oportuno o trabalho de monitoramento que está em curso em Cascavel, nesta semana que antecede a data. “Estamos vivendo uma das piores estiagens na região. Nossos mananciais apresentam queda acentuada nas suas vazões, comprometendo o abastecimento da população. Precisamos unir esforços para assegurar a qualidade e desenvolver ações que visem garantir a perenidade das nossas nascentes. Todos precisam fazer a sua parte”, ressalta Rita.