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Crime organizado: PF identifica e pede bloqueio de 70 contas usadas pelo PCC

Como são apelidos e codinomes, a PF precisou cruzar dados e informações diversas para decifrar a quem se referiam as contas, os depósitos e as dívidas.

Crime organizado: PF identifica e pede bloqueio de 70 contas usadas pelo PCC

Reportagem: Juliet Manfrin

Curitiba – A varredura feita pela Polícia Federal na lista com milhares de nomes de devedores e pessoas com “negócios” com o PCC (Primeiro Comando da Capital) já rendeu novos desdobramentos.

Segundo apurado pela reportagem do Jornal O Paraná, após a deflagração da Operação Cravada, em agosto passado, e que prendeu 20 suspeitos de integrarem o núcleo financeiro do PCC, os serviços de investigação se estenderam à identificação dos codinomes e apelidos citados nas relações apreendidas com eles.

Além de R$ 1 milhão apreendido durante a deflagração da operação, as investigações revelam que a rede financeira é gigantesca, cheia de “laranjas”, alguns que nem sequer desconfiam que estão cedendo suas contas para o crime organizado, ou então “batizados” no PCC com lastros financeiros dentro e fora do Brasil.

Como são apelidos e codinomes, a PF precisou cruzar dados e informações diversas para decifrar a quem se referiam as contas, os depósitos e as dívidas.

Além dos devedores da facção que precisam pagar suas pendências cometendo crimes para o PCC, pagando o empréstimo com dinheiro ou com vida humana, também foi possível identificar os titulares de pelo menos 70 contas bancárias de laranjas e membros da facção, emprestadas para que líderes do PCC movimentassem dinheiro coletado e lavado.

Na tentativa de despistar a fiscalização, o montante movimentado girava em torno de R$ 2 mil a R$ 3 mil por semana, a chamada movimentação formiguinha. Considerando 56 semanas por ano e que a prática vem sendo realizada por esse grupo específico há cerca de três anos, essas contas identificadas e bloqueadas movimentaram cerca de R$ 10 milhões no período.

O Jornal O Paraná apurou ainda que praticamente todas essas titularidades foram bloqueadas por determinação judicial e seus responsáveis poderão responder por crime financeiro, dentre outros crimes, como envolvimento com organização criminosa.

Ao que tudo indica, os titulares dessas contas recebiam uma pequena parcela da movimentação, uma espécie de mesada, para ceder nome e os dados pessoais para fazerem as transações bancárias.

A maior parte das contas já bloqueadas está no estado de São Paulo, no Paraná e no Mato Grosso do Sul, coincidentemente, estados onde a facção intensificou presença.

Outros casos

Apesar do grande volume, ainda há muito mais a ser apurado. Por isso, a investigação segue no sentido de identificar novas titularidades e novas movimentações.

A PF também busca informações e rastreia quem são os indivíduos citados nessas relações que estão marcados para morrer em ações propostas pelo chamado tribunal do crime, numa espécie de julgamento interno da facção, ou que deverão pagar suas dívidas, geralmente contraídas pelo tráfico de drogas ou por aluguel de armas não pago ao grupo criminoso.

Também de acordo com a PF, esse tipo de dívida com o PCC tem aumentado bastante e a morte de dois agentes federais em Cascavel foi um pagamento de contas.

Há casos até de pessoas que não são integrantes do PCC, mas que alugam armas, munições e até mão de obra para cometer crimes como roubos. Quando não pagam o prometido, entram para a lista de devedores. O não pagamento pode resultar na perda da própria vida.

Outra condição extrema que pode levar um membro à morte e que também vem sendo mapeado pelas forças de segurança são os furtos feitos dentro da própria facção, nas chamadas bocas de fumo. Em situações como essa, o mais comum tem sido pagar com a própria vida, uma vez que o “ladrão” passa a ser uma pessoa não confiável ao bando.