Política

Coluna Contraponto do dia 28 de setembro de 2018

Requião e a BR-277

O senador Roberto Requião ficou aborrecido com uma nota publicada por este Contraponto segundo a qual, no mandato que cumpriu entre 2003 e 2006, ele teria sido responsável pela suspensão de obras de duplicação na BR-277 em troca de desconto de 30% nas tarifas de pedágio. “Isto não existiu”, disse o senador. “Eu não autorizei suspender nenhuma obra; pelo contrário, entrei na Justiça para obrigar as concessionárias a manterem todo o programa previsto nos contratos originais”.

Cascavel-Foz

O que aconteceu, segundo ele, foi um acordo firmado com duas concessionárias (as outras quatro não aceitaram) pelo qual elas concordavam em conceder 30% de desconto nas tarifas por 90 dias, período durante o qual elas e o governo tentariam resolver pendências que diziam respeito ao reequilíbrio econômico-financeiro que vinham sendo discutidas por meios judiciais. A proposta de acordo feita pelo governo previa, também, a antecipação da duplicação do trecho Cascavel-Foz, cuja execução já tinha sido adiada pelo ex-governador Jaime Lerner para os anos finais do contrato.

Só que…

Passados os 90 dias, as conversações entre o DER e as concessionárias não prosperaram do modo planejado. As tarifas voltaram ao patamar anterior, assim como foi mantido o cronograma adiado por Lerner, contou o senador Roberto Requião. Novas ações judiciais foram impetradas pela Procuradoria Geral do Estado, mas esbarraram em decisões que beneficiaram as pedageiras.

Silêncio

Há um silêncio constrangedor na esteira da Operação Integração II: desde as primeiras horas da manhã de quarta-feira até agora não se ouviu nada relevante em termos de explicações, justificativas ou defesas dos políticos, concessionárias ou empresas citadas pelo Ministério Público Federal. Nenhum candidato em campanha, a qualquer cargo, se apresentou para falar que “tudo está em fase de investigação e devemos confiar na Justiça”.

Escândalos I

A história política do Paraná marcou três governadores com escândalos de corrupção que atravessaram o tempo. O primeiro foi Moysés Lupion, que governou o Paraná entre 1947-1951 e 1956-1961. Seu nome virou sinônimo de roubalheira pública no Paraná, muito pela ação persistente de seu maior adversário político, Ney Braga, que o sucedeu. Em 1970 foi absolvido pela Justiça de todas as acusações, fez as pazes com o algoz, mudou para o Rio de Janeiro, não voltou à política e morreu menos rico do que era antes de ser governador pela primeira vez.

Escândalos II

O segundo caso foi no início da década de 70, quando o empreiteiro Cecílio Rego Almeida gravou uma conversa sobre comissão na construção de estradas no Paraná com o então governador Haroldo Leon Peres, indicado pelo regime militar. Leon Peres foi cassado e nunca mais retornou à política.

Escândalos III

Outros adversários políticos tentaram jogar a corrupção como elemento importante em disputas no Paraná. Roberto Requião tentou contra Jaime Lerner nos anos 80 e Alvaro Dias ensaiou algumas ações contra José Richa. Nada prosperou.

E o Beto?

A situação de Beto Richa, com a série de denúncias contra os dois governos dele e até na prefeitura não parte de adversários políticos nem de empreiteiros insatisfeitos. Vem do Ministério Público Federal e também do Estadual e das investigações da Polícia Federal. E com o agravante de delações premiadas de ex-assessores, parentes e homens próximos do governo, como o ex-amigo Tony Garcia. É uma nova etapa da questão da corrupção na política. Só a história vai mostrar o tamanho do estrago.