Opinião

Coluna AMC: Nesta tarde lembrei de você

Nessa viagem que chamamos de vida é importante e fundamental a presença daqueles que nos ensinaram os primeiros passos.   Nesta tarde eu fechei os olhos e lembrei de você, mãe...

Coluna-AMC
Na ocasião, foram debatidas as programações inerentes ao aniversário de 55 anos da entidade

Nesta tarde eu fechei os olhos e lembrei de você… O dia nascia sempre azul claro, refletindo os seus olhos. Era um mundo feliz que sorria para mim. Não sabia o que era o amor, mas me sentia bem-vindo a esse mundo, e protegido. Nunca chorei, pois não precisava. Você estava sempre perto, eu tinha tudo o que era preciso. Lembro de seu colo e da paz que havia em nossa pequena, porém acolhedora casa, que para mim era a mais feliz e encantada que poderia existir.  Tinha, também, meus irmãos e minha irmã para brincar, reproduzindo todo o afeto que recebíamos de você.

O café com leite e o pão com manteiga de manhã, às vezes um ovo cozido, quando as galinhas do quintal permitiam. O arroz com feijão, o bife e a salada no almoço. À tarde, como todo morador dos estados do Sul, tínhamos o café com leite com biscoito ou bolacha. No jantar, arroz com feijão, ovo frito e salada, quando sobrava do almoço. Antes de dormir, mais um chá ou café com leite, no inverno. No verão, o suco em pó ou gelatina, que não faltavam na compra mensal. Frango e refrigerante de garrafa tínhamos no domingo, quando havia uma saudável disputa pelas coxas, geralmente destinada aos menores.

Na escola, sempre fomos os melhores alunos, pois tudo era preparado com antecedência. O uniforme, o material, a mesa individual de estudos, a professora que era a dona de casa e a melhor mãe do mundo. Não havia dinheiro para o lanche, pois éramos muitos e a grana sempre muito curta. A roupa de domingo, quando envelhecia, virava roupa para o dia a dia, ou uma bela bermuda, quando a perna crescia muito rápido. E, afinal, tínhamos a melhor costureira do mundo em casa.  Alguns de seus filhos, como eu, viraram médicos, pois tínhamos uma enfermeira em casa que cuidava de todos. Outros viraram professores, pois tínhamos uma professora em casa que ensinava a todos. E outros viraram policiais, pois tínhamos uma protetora de todos, em casa. Nós, médicos, quando adoecíamos, era por você que procurávamos, com seus chás e conselhos de repouso. E assim os professores, quando tinham dúvidas de qualquer coisa, ou os policiais, quando se sentiam desprotegidos.

Nesta tarde eu fechei os olhos e lembrei de você, mãe… Percebi que todo o amor que dedicou a nós tem se esparramado por esse mundo, no Brasil e fora dele, também pelos netos, que repetem as lições que receberam dos seus pais, seus filhos.  Percebi que nessa viagem que chamamos de vida é importante e fundamental a presença daqueles que nos ensinaram os primeiros passos, e nos mostraram o caminho do bem, o máximo de tempo possível.

Dr. Márcio Couto – Médico Cardiologista – RM-PR 14933 –  Membro da diretoria da AMC.