Economia

Choques da pandemia vão custar caro; oeste vai se recuperar antes

A pandemia afeta o mundo todo, mas algumas regiões são alcançadas de maneira específica. E o mesmo ocorre no Brasil, país-continente carregado de cenários e realidades distintas

Choques da pandemia vão custar caro; oeste vai se recuperar antes

Cascavel – Em reunião empresarial histórica das noites das quintas-feiras, a primeira on-line em 60 anos, a Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel) convidou um economista, professor e consultor de prestígio para falar de um assunto dos mais relevantes. Alfredo Fonceca Peris teve por missão apresentar uma leitura ampla sobre os impactos da pandemia do coronavírus nas economias do Brasil e da região oeste do Paraná. “As informações compartilhadas convidam a reflexões profundas e permitem aos empresários pensar sobre o melhor a fazer para preservar os seus negócios e, com as medidas certas, sair mais forte desse momento tão particular”, observa o presidente da associação comercial, Michel Lopes.

A pandemia afeta o mundo todo, mas algumas regiões são alcançadas de maneira específica. E o mesmo ocorre no Brasil, país-continente carregado de cenários e realidades distintas. “É evidente que as consequências da doença são gravíssimas ao País, que vai demorar tempo para se recompor desse golpe. A retomada em âmbito nacional será lenta, mas, devido ao bom momento do agronegócio, principalmente impulsionado pela crescente demanda internacional por alimentos, a região oeste e o Paraná como grandes produtores sairão da turbulência mais cedo”, afirmou o professor.

Devido às características das medidas adotadas, que combatem a aglomeração para minimizar o contágio, alguns setores foram mais afetados que outros. Áreas ligadas ao turismo, entretenimento, eventos, esportes e educação são particularmente atingidas. Diferente de segmentos tidos como essenciais, a exemplo da saúde e da cadeia de comidas e proteínas. Enquanto algumas empresas viram o seu faturamento recuar em até 80%, outras alcançam avanços, a exemplo do agronegócio, considerada a alavanca motriz da economia da região oeste e também do Paraná, reforçou Peris.

 Mudanças

A pandemia criou situações totalmente novas, com mudanças de hábitos e aceleração da incorporação de tecnologias ao cotidiano de todos. Além de empresas, muitos trabalhadores e profissionais liberais sentiram queda nos rendimentos. Peris informou que 530 mil empresas já fecharam e deverão, no pico da crise, ser mais de 1 milhão. Embora alguns segmentos estejam aquecidos, haverá queda mundial por demanda de inúmeros itens principalmente de semi e manufaturados. E esse é mais um indicativo de lentidão na retomada da atividade econômica.

O Brasil vinha muito bem e deu passos havia muito aguardados em 2019, como a aprovação da reforma previdenciária e da lei de liberdade econômica. Muito desse avanço se perdeu ou está comprometido com a pandemia, entretanto, conforme o economista, medidas complementares têm sequência por parte de setores ligados ao governo federal. Entre elas, estão o acordo Mercosul e União Europeia, ajustes em créditos agrícolas e imobiliários e definição de normas, pelo Banco Central, às Fintechs – startups que dão nova dinâmica e forma aos serviços financeiros. Entre os avanços o professor citou também a abertura do segmento de companhias aéreas e aprovação do marco do saneamento.

Negativos e positivos

Como choques negativos à economia, Alfredo Peris cita o recuo do PIB e a crise econômica de 2015 a 2018, a queda na produção industrial, a paralisação dos transportes aéreo e parte do rodoviário, a descoberta de 50 milhões de “invisíveis” entre a população brasileira que precisam de atenção diferenciada, o fechamento de mais de 530 mil empresas, o déficit estimado nas contas públicas de R$ 700 bilhões em 2020, as mais de 100 mil mortes em consequência do coronavírus e a fuga de mais de US$ 30 bilhões em investimentos estrangeiros.

E, como aspectos positivos, o professor Peris enumera: redução da taxa básica de juros (Selic em 2% ao ano), descoberta de 50 milhões de brasileiros indicando que sociedade precisa debater o que fazer com eles, crescimento exponencial de investidores pessoas físicas no mercado de ações, recorde na produção de grãos, superávit na balança comercial, aumento da demanda externa por alimentos, pagamento de auxílio emergencial que leva à discussão da oficialização de uma política de renda mínima e aumento da solidariedade entre as pessoas.

Outro aspecto ressaltado pelo professor Peris é perceber a importância que o Estado tem em um momento de crise tão aguda. “Ele se mostrou fundamental na adoção de medidas emergenciais para diminuir a seriedade do golpe na economia, nas empresas e também no cotidiano das pessoas que mais precisam”. E ainda, segundo ele, é imprescindível reconhecer a necessidade de contar com capital estrangeiro para investimentos e superação de gargalos principalmente na área da infraestrutura.