Opinião

Brumadinho: o que não aprendemos com a tragédia

Por Carla Hachmann

Há seis meses, o Brasil chorava lama. A até então pouco conhecida Brumadinho (MG) ganhava a mídia internacional em uma das piores tragédias brasileiras. O rompimento de uma barragem de dejetos minerais matava centenas pessoas e milhares animais, destruía casa e paisagens naturais e destroçaria para sempre inúmeras famílias.

Foram confirmadas 248 mortes e 22 pessoas continuam desaparecidas. E, 180 dias depois, dois cenários cruéis: os responsáveis continuam impunes e a cidade adoeceu. Para conseguir conviver com a dor, o medo e a revolta, o sistema de saúde passou a distribuir 80% a mais de ansiolíticos e 60% a mais de antidepressivos para a população. E as tentativas de suicídio e os casos “bem-sucedidos” atingiram dados alarmantes. “Eles acabaram com a minha vida. Só deitar, dormir, nem comida eu faço. É uma dor que esses remédios não curam, a gente toma por tomar”, desabafa uma das mães que aguarda notícias do filho, desaparecido naquele amargo 25 de janeiro.

E se o drama das famílias parece longe do fim, o da natureza está pior ainda. Aos poucos aquela lama tóxica vai sendo coberta pela vegetação sem previsão de ações de recuperação.

Acordo assinado entre a Vale e o Ministério Público do trabalho estabelece que cônjuge ou companheiro, filho, mãe e pai de funcionários da Vale que morreram na tragédia recebam, individualmente, R$ 700 mil, sendo R$ 500 mil para reparar o dano moral e R$ 200 mil a título de seguro adicional por acidente de trabalho.

Logo após a tragédia, o País se movimentou para saber como estavam as outras barragens. Os números assustaram, mas até agora não se soube de providências. Mais uma vez o Brasil parece não querer aprender a lição de uma tragédia.