Cotidiano

Bia Bedran e Bloco da Palhoça voltam com disco e show novos

INFOCHPDPICT000059507053NITERÓI ? A história do Bloco da Palhoça é como uma das fábulas que Bia Bedran apresentava no programa ?Lá vem história?, da TV Cultura: ela, Victor Larica e Ricardo Medeiros resolveram formar o grupo depois de uma noite de muita cantoria e água de coco ao redor de uma fogueira na festa do Divino de São Luís do Piraitinga, em São Paulo. Isso foi há 40 anos. Na época, eles gravaram um LP e viajaram pelo interior do país, levando o folclore em forma de música para praças, escolas e até estações de trem. Agora, eles estão de volta, ao lado de Guilherme Bedran e Paulão Menezes, com um novo CD, que será lançado em show hoje e amanhã e domingo, às 20h, no Teatro da UFF. O ingresso custa R$ 40.

? Pensamos até em relançar o disco original, mas as fitas masters se perderam. Então, foi um incentivo para apostar em músicas novas ? diz Ricardo Medeiros.

O álbum conta com 11 faixas. Cinco foram escritas somente por Bia e outras seis por ela e parceiros: duas com Victor Larica, uma com Medeiros e três com Benjamin Santos.

? Eu tinha muita música inédita. Aquelas famosas ?velhas, mas novas?. Porque nunca foram gravadas. Então, nos perguntamos: ?o que tocamos hoje em dia? Quem somos 40 anos depois?? O disco ?Bloco da Palhoça? é a resposta, é esse reencontro ? diz Bia.

Apesar de o primeiro LP do grupo ser voltado às crianças e de toda a carreira de Bia ter sido dedicada a elas, os músicos afirmam que o novo trabalho não é, necessariamente, infantil:

? Continua bem acessível às crianças, mas o repertório não é infantil. O disco original, ?Música para brincar e cantar? era totalmente, música feita para os pequenos mesmo. Até a capa era. Esse não. Pode ter partido daí, mas colocamos várias canções que não são infantis. Agora, é para todas as idades ? explica Medeiros.

Com uma linguagem lúdica, característica indissociável a ela, Bia continua o raciocínio do amigo:

? Ao ouvir o disco, não dá para definir. Nos questionam: ?A música é adultil (sic) ou infantil?? Sempre respondo: ?Ao invés de perguntar isso, vamos deixar o público sentir? ? diz.

Mas é inevitável associar o nome de Bia Bedran ao universo das crianças. Afinal, apesar de ao longo dos anos ela ter produzido material voltado ao público adulto, é o trabalho infantil que marcou, mais do que positivamente, sua carreira. Além do ?Lá vem história?, ela produziu outro programa na TV Cultura, o ?Canta-conto?, escreveu dez livros, gravou oito Cds e montou diversas peças de teatro. Já Medeiros e Larica, mesmo depois do fim do Bloco da Palhoça, não conseguiram se afastar totalmente do universo infantil, e de Bia. O primeiro, foi produtor e arranjador dos discos dela. O segundo, apresentou um programa escrito por ela na rádio MEC.

? Tivemos um volume muito grande de trabalho na rádio MEC. Ganhamos até um prêmio na Espanha, o ?Ondas?. Foram 30 programas com um formato didático mesmo. Eu apresentava e a Bia escrevia o roteiro. Depois, com a popularidade de seu trabalho, foi natural ela investir num trabalho solo ? diz Larica.

Com o fim do grupo, Larica, que foi casado com Bia, é pai de suas duas filhas e segue o lema ?separados, porém amigos?, continuou a trabalhar como violeiro. Já Medeiros, paralelamente ao trabalho que fazia com a cantora, foi membro, por 30 anos, da Orquestra Sinfônica Nacional da UFF. Quarenta anos depois da formação do grupo e 35 após o lançamento do primeiro disco eles sentiram, como diz o texto escrito por Bia para o encarte do novo CD, que era novamente hora de ?agradecer, tocar e botar o pé na estrada?.

Foram dois anos desde a ideia de se reunir até o disco ficar pronto. Eles se encontravam para compor e ensaiar no estúdio El Sonoro, em Icaraí. Aos poucos, as músicas foram escritas e outros músicos se juntaram à empreitada.

? Esse trabalho foi tomando uma cara maravilhosa. Porque foi se desenrolando aos pouquinhos. Eu e Ricardo não tocávamos há muito tempo com o Victor. Daí, veio o Paulão, o Guilherme e conseguimos trazer de novo aquele espírito do Bloco da Palhoça dos anos 1970 e 1980, que agregava músicos e linguagens.

Larica vê no público dos shows uma espécie de legitimação da linguagem universal do grupo:

? Sempre vemos adultos que gostavam do Bloco da Palhoça quando crianças. Agora, eles trazem os filhos ? diz.

Por fim, há só uma conclusão a tirar: o Bloco da Palhoça é, sem dúvidas, um som para os grandes e os pequenos, para todo o mundo. Esta é a linguagem do grupo. Bia explica melhor:

? A gente nasceu cantando em praça pública, em cidades do interior do Brasil. Absorvíamos a cultural local e a recriávamos. Não somos regionais, não nascemos no interior, viemos da Zona Sul do Rio e de Niterói. Ouvíamos o folclore e o estudávamos. No interior todo mundo vai para a praça. Se chegar um circo vai adulto, criança, velho, boi e vaca. Foi com esse espírito de agregar a todos que construímos nosso trabalho.