Agronegócio

Após crescer 1.200% em 20 anos, crise para a piscicultura

Com o fechamento de bares e restaurantes, o consumo da carne caiu 30%, também prejudicado pela queda da renda da população

Após crescer 1.200% em 20 anos, crise para a piscicultura

Reflexos da pandemia

Após crescimento de 1.200% em 20 anos, crise paralisa piscicultura

 

Reportagem: Cláudia Neis 

Toledo – Os reflexos da pandemia no novo coronavírus também já aparecem na piscicultura e devem ser agravados nos próximos meses. Fatores como consumo, preço de produção e preço de mercado levam especialistas a prever uma paralisação no setor, que em 20 anos registrou evolução de 1.200% na região oeste do Paraná.

Com o fechamento de bares e restaurantes, o consumo da carne caiu 30%, também prejudicado pela queda da renda da população. Com demanda menor, o preço pago ao produtor também caiu. “Em outubro do ano passado, o valor pago pelo quilo era de R$ 3,90 a R$ 4,10, ao longo dos meses seguintes, o mercado ficou aquecido e houve um aumento considerável. Em janeiro, o valor chegou perto dos R$ 5. Mas, com a pandemia, despencou de forma repentina e agora varia de R$ 4,20 a R$ 4,40, variando de acordo com o tamanho do peixe”, explica o coordenador da área de pecuária do IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar Emater) da regional de Toledo, Gelson Hein.

Segundo ele, o setor que vinha crescendo de 15 a 20% ao ano, e vem numa evolução enorme nas últimas duas décadas na região, passando de 8.460 toneladas em 1999, para 18.530 toneladas em 2009 e alcançando 101.456 toneladas em 2019, agora deve paralisar. A torcida é para que ao menos mantenha a produção do ano passado.

Consumo X frio

O consumo menor levou os frigoríficos a reduzirem os abates diários, o que leva ao represamento do animal em ponto de abate dentro das propriedades, situação que deve ser agravada com a chegada do inverno. “No início da pandemia, os pequenos frigoríficos, que fazem o abate dos peixes dos pequenos produtores, reduziram de 80 a 100% o abate e agora retonam aos poucos. Mas, com o consumo reduzido, o abate também deve ser menor e o peixe deve ficar nos viveiros por mais tempo. O que, além de aumentar o custo de produção, uma vez que ele precisa continuar comendo e manter o peso do animal que no inverno é mais difícil, essa ampliação do ciclo pesa no bolso do produtor, que demora mais tempo para ter receita e retarda um novo ciclo, uma vez que só se colocam peixes novos quando todos os outros já estão fora do viveiro”, detalha Gelson.

Segundo ele, tem mais um agravante agora: o frio. “Outro fato que preocupa é que, no inverno, a imunidade dos peixes diminui e a aparição de doenças é mais comum e, por consequência, a mortalidade dos peixes aumenta. Então, é uma sucessão de situações que complicam a vida do piscicultor, que precisa ficar muito atento”.

Preço da ração deve aumentar

A situação para o setor, que já não é animadora, deve sofrer mais um golpe com o aumento da ração, que deve ser sentido já no início do inverno. “A estiagem que assola o Estado vai causar uma queda na produção do milho safrinha; além disso, a alta do dólar impacta no valor da soja; são dois grãos que são a base da ração. Com isso, o valor que o produtor vai pagar pela ração, hoje responsável por cerca de 70% do custo de produção, vai sofrer um aumento também e se juntar às outras dificuldades já enfrentadas”, explica o coordenador da área de pecuária do IDR-Paraná da regional de Toledo, Gelson Hein.

O coordenador ressalta que os produtores que mais sentirão o impacto da crise são os menores, que vendem para os frigoríficos pequenos. “Na região oeste temos cerca de 1.500 piscicultores, dos quais em torno de mil são pequenos. Os que são ligados às grandes cooperativas não devem sofrer com a redução no consumo, pois as cooperativas vendem para todo o País. Consequentemente, devem finalizar os ciclos no momento previsto. Por isso a importância de os piscicultores menores estarem atentos a todos esses fatores, acompanharem de perto a produção e contarem com a assistência técnica para minimizar as perdas nos viveiros”, acrescenta.

Para Gelson Hein, a crise pode acelerar uma readequação da atividade: “Com o retorno do funcionamento dos estabelecimentos que compram dos frigoríficos regionais, esperamos que possa haver uma reação do mercado, mas também acreditamos que alguns produtores podem desistir da atividade, e não somente por conta da crise, mas por outros fatores que já os levavam a reavaliar a permanência na atividade. De modo geral, acreditamos que haverá uma adaptação no mercado e um retorno do crescimento no próximo ano”.