Cotidiano

Aliados de Temer dizem que carta é ?ato de desespero? e não muda quadro pelo impeachment

BRASÍLIA ? Aliados do presidente interino, Michel Temer, disseram que a carta da presidente afastada Dilma Rousseff foi um ato fora de hora e marcou um “ato de desespero político” de quem será julgada por impeachment no próximo dia 25. O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), disse nesta terça-feira que foi um “capítulo final de uma história triste”. A avaliação é que a carta não tem efeito na votação e que a proposta de realização de um plebiscito também está fora do timing político, porque a petista não tem mais a força do cargo para defender esse tipo de proposta.

Impeachment

? A carta é um ato de desespero político. É uma carta fora do timing e extemporâneo. A presidente não se defendeu das acusações, ao contrário, só fez negar a autoria (de crimes de responsabilidade). A carta é fora de prazo, intempestiva e extemporânea. É um epílogo triste, um capítulo final de uma triste história de quem se distanciou da sociedade. Ela não é inocente, e o Senado fará o julgamento e vai puni-la exemplarmente ? disse Cunha Lima.

O tucano ainda criticou a proposta de realização de um plebiscito.

? A proposta é insincera. É como se alguém que está perdendo o jogo tenta mudar a regra. Uma carta frágil politicamente ? disse Cunha Lima.

O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), também criticou a presidente afastada e afirmou que ela foi infeliz com a carta.

? Ela teria tido força para convocar um plebiscito se tivesse feito essa proposta no exercício do seu mandato. Só agora clama pelo plebiscito? A presidente não foi feliz com a sua carta e foi de uma afronta e grosseria (para com o Senado) ? disse Caiado, criticando a ideia do plebiscito.

PETISTAS RECEBERAM CARTA APENAS NA HORA

Os senadores que são aliados da presidente Dilma receberam a carta no momento praticamente que ela estava lendo o documento no Palácio da Alvorada. No plenário, a senadora Fátima Bezerra (PT-RN) foi à tribuna ler a carta.

Nos bastidores, os senadores petistas ficaram irritados com o fato de a petista não ter avisado aos aliados com antecedência que divulgaria hoje. Na carta, Dilma defendeu a realização de plebiscito sobre eleições, o que foi criticado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), por exemplo, recebeu cópia depois das 15h, enquanto estava no plenário. Pela manhã, o advogado de defesa de Dilma, o ex-ministro José Eduardo Cardozo, estava em São Paulo. Ainda reclamaram que ela foi divulgada num timing ruim, justamente depois da derrota da seleção feminina de futebol na Olimpíada.

Nos discursos, os petistas defenderam a carta. O próprio Humberto Costa disse que o impeachment é “golpista” e mais de 60% da população seriam favoráveis à realização de novas eleições.

? Até o momento da votação dá tempo para fazermos esse convencimento. Não há um crime de responsabilidade e, como tal, esse processo de impedimento está se transformando num processo contra a democracia brasileira. O melhor caminha seria esse (realização de plebiscito) ? disse Humberto Costa.

Mais otimista, o líder da oposição no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ), disse que Dilma está otimista e entusiasmada para vir ao julgamento no dia 29. Lindbergh esteve com Dilma nos últimos dias. O discurso dos petistas é que a ausência no momento da divulgação da carta foi para evitar interpretações de fraqueza, caso não comparecessem os 21 a 22 apoiadores de Dilma.

? A carta foi um acerto. A decisão de chamar as eleições foi um acerto. Não jogamos a toalha ainda. Temos uma batalha pela frente ? disse Lindbergh Farias.

Mas os petistas não concordam nem sobre realizar ou não julgamento no final de semana. Humberto Costa é a favor, já Lindbergh é contra.