EFEITO DOMINÓ

Limitação de financiamentos “trava” a expansão imobiliária em Cascavel

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Capital do Oeste do Paraná, Cascavel é uma das cidades com população superior a 300 mil habitantes com um dos maiores percentuais de expansão imobiliária do interior do Brasil. Esse fenômeno vem sendo experimentado nos últimos anos e atravessou períodos críticos, como por exemplo, a pandemia do novo coronavírus. Tudo parou, mas a construção civil se manteve forte e precisou ser resiliente para superar inclusive a inflação provocada pela falta de matéria-prima e por consequência, seus altos custos.

Nos últimos anos, o aumento na demanda por imóveis, tanto residenciais quanto comerciais, foi notório. O crescimento populacional, a migração de famílias em busca de melhores condições de vida e a valorização da cidade como um polo econômico são fatores que têm contribuído para essa tendência. Construtoras locais e incorporadoras têm se mobilizado para atender a essa demanda, resultando em uma série de novos empreendimentos. O movimento migratório para Cascavel cresce a uma média de 10 mil pessoas todos os anos.

A expansão do mercado imobiliário em Cascavel não é apenas uma questão de construção. Ela tem gerado um efeito dominó na economia local. Com o aumento das obras, houve uma demanda crescente por mão de obra, o que resultou na criação de milhares de empregos diretos e indiretos. Profissionais da construção civil, engenheiros, arquitetos e trabalhadores de diversos setores relacionados estão encontrando oportunidades no cenário atual.

Entretanto, apesar deste cenário promissor, um fator tem gerado preocupação entre os profissionais diretamente envolvidos no segmento: a limitação nos financiamentos de imóveis pela Caixa Econômica Federal. Com a redução na disponibilidade de financiamento, muitos potenciais compradores podem se ver impedidos de adquirir suas casas ou apartamentos, o que pode desacelerar o crescimento do mercado.

Um cenário de incertezas

A engenheira civil Bruna Anible é expert em documentação para obras financiadas e também comenta sobre a limitação de recursos por parte do órgão público, no caso, a Caixa Econômica Federal. “O mercado está bem aquecido, porém, os investimentos e a movimentação imobiliária dependem das instituições financeiras”, descreve. Essa limitação vem sendo gradativa e já atinge imóveis com valor acima de R$ 350 mil. “Na metade do ano, os imóveis usados já sofreram restrições”, comenta.

Na modalidade SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), que usa recursos originados da caderneta de poupança, se financia agora apenas 50% do valor. Outra mudança: o percentual de entrada do cliente também aumentou.  “E a pergunta que não quer calar: como serão as próximas restrições?”, questiona. “Será que vão reduzir os recursos do Minha Casa, Minha Vida?”.

“Anteriormente, o SBPE não tinha valor máximo para financiar. Era possível buscar financiamento de até R$ 3 milhões, é claro, com a comprovação de renda para isso, mas agora, nessa última alteração que vai ocorrer no dia 21, o máximo que será possível financiar será R$ 1,5 milhão”, comenta. É uma demonstração clara de que a Caixa vem “travando” os financiamentos.

Cascavel é uma cidade que tem muita oferta de imóveis. E sempre estão ocorrendo novos lançamentos. Por outro lado, a morosidade para conseguir crédito imobiliário tem deixado o setor preocupado.

O que diz a Caixa

Sobre a possível falta de crédito imobiliário, a Caixa Econômica Federal informou que ultrapassou em setembro a marca de R$ 175 bilhões em 2024, 28,6% a mais que de janeiro a setembro de 2023. Foram 627 mil financiamentos. Por outro lado, o banco diz que estuda medidas para ampliar o atendimento com o objetivo de buscar soluções que permitam expansão do crédito imobiliária no país.

‘Sucesso de vendas’

Corretora de imóveis há 14 anos, Joceane Cechella faz uma análise do atual momento em Cascavel. Nos últimos dois anos, o mercado imobiliário passou por uma fase de crescimento considerável, mesmo em meio a mudanças políticas e econômicas. Cechella, destaca que, durante o período eleitoral, houve um recuo esperado, mas logo após as eleições, o mercado reagiu de forma expressiva.

“Há dois anos, estávamos em período eleitoral, e o mercado apresentava um recuo, algo que é normal sempre que entramos em épocas eleitorais. No entanto, logo após as eleições, o mercado voltou com força total, com diversos lançamentos simultâneos de diferentes construtoras”, comenta.

A confiança no setor foi determinante para esse crescimento. “Na pré-venda, todas as construtoras já chegavam com 60% a 70% das unidades vendidas”, ressalta Joceane, evidenciando o sucesso das iniciativas. E completa: “Esses últimos dois anos foram intensos, com muitos lançamentos e bastante trabalho. É visível, ao andar pela cidade, a quantidade de obras e como o perímetro urbano se expandiu. Todos nós obtivemos muito sucesso nas vendas”.

Mil casas por dia

Em âmbito nacional, de acordo com informações obtidas junto ao CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), o aumento da comercialização de imóveis chega a 46%, isso só em relação ao programa Minha Casa, Minha Vida. A pesquisa ocorreu em mais de 200 cidades. O número de imóveis vendido no segundo trimestre cresceu 17,9% em comparação com o mesmo período do ano passado.

No período pesquisado, foram vendidas 94 mil imóveis. Isso representa uma comercialização diária de mil residências, totalizando uma movimentação de R$ 53 bilhões.

Sinduscon aponta os principais desafios

Nos últimos anos, a construção civil em Cascavel e na região Oeste do Paraná tem vivenciado uma série de desafios, especialmente no campo da empregabilidade, da sustentabilidade e da necessidade de inovação. A afirmação é do presidente do Sinduscon Paraná-Oeste, Engenheiro Civil Ricardo Parzianello. “Todavia, o setor tem demonstrado um crescimento significativo, refletindo o dinamismo econômico desta região. A demanda por habitação, infraestrutura e empreendimentos comerciais tem se mantido aquecida, impulsionada pelo aumento da população e pela melhoria nas condições econômicas”.

Na ótica do presidente do Sinduscon Paraná-Oeste, Cascavel, como um dos principais polos urbanos do Oeste paranaense, apresenta um mercado diversificado. Projetos residenciais, comerciais e de infraestrutura têm sido desenvolvidos para atender às necessidades da comunidade local e regional.

Segundo ele, a região Oeste tem se destacado pela implementação de práticas sustentáveis na construção, alinhando-se às tendências globais que valorizam a responsabilidade ambiental. “Entretanto, enfrentamos desafios, como a escassez de mão de obra qualificada e a necessidade de adequação às novas normas técnicas e ambientais”.

Em suma, o cenário da construção civil em Cascavel e região é promissor. “Com esforços conjuntos entre o setor público e privado, continuaremos a avançar em direção ao desenvolvimento sustentável, garantindo que a construção civil siga sendo um pilar fundamental para o crescimento econômico da nossa região”, entende Ricardo Parzianello.

O que esperar de 2025

A perspectiva do setor da construção civil na região Oeste do Paraná para 2025 é otimista, na ótica de Parzianello. “O crescimento populacional gera demanda por habitação e infraestrutura, enquanto investimentos em estradas e saneamento impulsionam novos projetos”. A adoção de práticas sustentáveis e tecnologias inovadoras promete aumentar a eficiência e reduzir custos. Além disso, a formação de mão de obra qualificada é uma prioridade para atender às necessidades do mercado. Embora desafios econômicos possam surgir, o setor está bem posicionado para um crescimento robusto nos próximos anos.