Economia

Inflação derruba consumo de carne bovina; frango e suíno já apresentam recuperação

Carne moída
Carne moída

Cascavel – A presença da proteína na mesa do brasileiro é algo cada vez mais inconstante. Prova disso é a mais recente pesquisa divulgada pela plataforma online Kantar, envolvendo perto de quatro mil pessoas. A exceção deste levantamento é a carne suína. O consumo subiu de 4,6% entre janeiro e março de 2021, para 7,6% no mesmo período do ano passado e neste ano, saltou para 9,1%.

Para entender o motivo, o Jornal O Paraná conversou com a presidente da Assuinoeste (Associação dos Suinocultores do Oeste do Paraná), Geni Bamberg, produtora de suínos há 24 anos. “A proteína suína em bons patamares comprova a relevância das campanhas desenvolvidas por intermédio das associações de criadores em nível nacional”, comenta. Entre as vantagens da carne suína, a presidente da Assuinoeste destaca o paladar, o benefício para a saúde por ser rica em vitamina D e complexo B, menor teor de sódio comparada a outras carnes, gordura extramuscular e o mais importante, o baixo custo em comparação a outras proteínas de origem animal.

Bamberg também falou sobre os atuais custos de produção na atividade. “Para os produtores integrados às empresas no sistema de comodato, os valores recebidos por suíno entregue, permanece no mesmo patamar, com sensível melhora no último trimestre, porém, ainda os custos são elevados”. Segundo ela, nesse momento, ante as atuais circunstâncias, não convém pensar na possibilidade de ampliar a produção. “Temos que receber mais por suíno já existente. Para que o produtor possa modernizar suas instalações com tecnologias de ponta e com sustentabilidade, tornando a atividade mais atrativa e já pensando na sucessão familiar, a remuneração deve quase dobrar para tornar possível reinvestir”.

A expectativa do setor de suinocultura é pela queda no valor dos insumos, para que as empresas possam se reestruturar e dessa forma, toda a cadeia produtiva manter seus níveis elevados e continuar a suprir o mundo com proteína suína. Geni Bamberg conta com um plantel de 1,7 mil animais, localizado em Linha Lajeado, distrito de São Miguel, em Toledo. A vizinha cidade de Cascavel conta com 20 milhões de cabeças de suíno, ajudando a tornar o município com o maior VBP do Paraná, com R$ 4,3 bilhões.

Consumo menor

O momento inflacionário fez o consumo de proteínas despencar 9% no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. A carne bovina vem caindo com maior intensidade. Ela, que tinha participação de 43,1% no primeiro trimestre de 2021, agora está com 39%. Essa trajetória de queda já dava sinais em igual período em 2022, quando o consumo caiu para 40,5%.

Proteínas tidas como mais em conta, como salsicha e linguiça, destaques em 2022, perderam a importância dos brasileiros, comparativamente ao primeiro trimestre. O hábito de consumir linguiça caiu de 15,4% para 14,9%. Já o de salsichas, de 4,8% para 3,8%.

Mais frango

Por sua vez, o consumo de carne de frango também apresenta recuperação, após a alta de preços em 2022. Essa participação passa de 25,9% para 28,6% na mesa do consumidor, em relação ao primeiro trimestre deste ano. A estabilidade nos preços é verificada nos peixes e frutos do mar, com 4,3% de share.

De acordo com a diretora do Painel de Uso da Kantar, Aurelia Vicente, até pelo início do cenário de queda da inflação mais recente, já se começa a ver uma retomada do consumo de carne de frango, por exemplo. “É um cenário que vem muito pela necessidade de equilíbrio do bolso [do consumidor] mesmo. As pessoas querem continuar com alguma proteína no prato e acabam indo para algo que caiba dentro do bolso. A gente vê o movimento dessas proteínas mais baratas (salsichas e linguiças) ganhando esse espaço, não só em classes mais baixas, mas principalmente nessas classes, virando justamente a principal proteína. Ou seja, ganhando esse espaço que antes era muito forte de bovinos e aves.”

No curto e no médio prazo, a questão vai depender do comportamento dos preços. Ela ressaltou que isso será um reflexo do comportamento de preços, não só da carne, mas de outras categorias que são commodities (produtos agrícolas e minerais comercializados no mercado externo), como arroz e feijão. O brasileiro tem intenção de consumir, mas existe o impeditivo dos preços altos hoje em dia, acrescentou.

Foto: ABR