Reportagem: Patrícia Cabral
Cascavel – Após dois anos de estabilidade no oeste do Paraná, o Bolsa Família cresceu 12,6% em 2020, com a inclusão de 3.979 famílias. Em agosto, 35.653 lares receberam o benefício, enquanto no mesmo mês do ano passado eram 31.656. Em valores, o crescimento foi um pouco maior, de 19%, representando R$ 5,830 milhões apenas em agosto. Esses valores não consideram o auxílio emergencial, que foi pago a todos os cadastrados do programa, em parcelas de R$ 600 e R$ 1.200 a mães solteiras.
Os dados foram consultados no portal do Ministério da Cidadania, que fornece informações por município. Dentre os 50 do oeste, o maior crescimento proporcional ocorreu em Pato Bragado, onde 69 famílias receberam o benefício em agosto deste ano; há um ano, eram 43, aumento de 60,5%. Em valores, a alta foi de 118%, chegando a R$ 13.164.
Já em números absolutos, Foz do Iguaçu detém a maior quantidade de famílias atendidas e de valores pagos: 10.079 e R$ 1,619 milhão, respectivamente. Há exato um ano, eram 9.113 famílias e R$ 1,366 milhão repassados, alta de 10,6% e 19%. Também foi a cidade com maior ingresso em números absolutos: 966 famílias e R$ 252.892.
O levantamento feito pelo Jornal O Paraná constatou queda em alguns municípios quando comparados com os dados de 2018. A mais expressiva foi em Ouro Verde do Oeste. Em agosto daquele ano, 173 lares recebiam o Bolsa Família, num total de R$ 27.403. Agora, são 128 famílias, com R$ 19.601, queda de 26% e 28%, respectivamente.
Na comparação com o ano passado, apenas Tupãssi teve menos beneficiários: de 212 passou para 207, contudo, a valor repassado no período foi um pouco maior: R$ 34.260 neste mês, e R$ 32.308 em agosto de 2019.
No geral, o benefício médio por família é de R$ 163,62. A média mais alta foi observada em Ibema (R$ 215,99) e a mais baixa em Santa Terezinha de Itaipu (R$ 127,59).
Paraná
Neste ano, de janeiro a agosto, foram repassados R$ 426.123.021 a famílias do Paraná. Só em agosto, o montante é de R$ 65,371 milhões, pagos a 383.406 famílias. Em todo o ano de 2019, o valor repassado foi de R$ 654.965.425.
Quem pode receber
Podem se beneficiar com o programa famílias em situação de pobreza (renda por pessoa entre R$ 89,01 a R$ 178,00) ou extrema pobreza (renda por pessoa de até R$ 89,00 por mês) e que tenham em sua composição gestantes, nutrizes (mães que amamentam), crianças ou adolescentes até 17 anos.
Cascavel quase dobra número de famílias
O crescimento do Bolsa Família em Cascavel chama atenção. Desde 2017, a inclusão cresceu 90,6%, enquanto a receita mais que duplicou (136,9%). Naquele ano, o programa atendia 3.315 lares, representando R$ 410.434 enviados em julho. E, no mês passado, 6.320 famílias receberam a bolsa, que totalizou R$ 972.450. Desde o início da pandemia, o crescimento de novos benefícios foi de 18,7%.
Apesar do aumento, ainda há gente de fora, aguardando sua vez de ser ajudada. É o caso específico de 723 famílias que, mesmo aptas, ainda não receber o subsídio mensal.
Segundo a Seaso (Secretaria da Assistência Social) de Cascavel, quem não se encaixa em programas do governo federal não fica desamparado, pois tem acesso às ações desenvolvidas pelos Cras (Centro de Referência de Assistência Social) e pelos Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), ou, ainda, são incluídas em programas municipais. Um deles é o Promover, que atende 1.020 famílias cadastradas, com renda menor que R$ 200 mensais. Elas recebem um cartão no valor de R$ 100 mensais e pode ser usado para comprar alimento ou gás nos estabelecimentos cadastrados.
Número de famílias beneficiadas pelo programa em Cascavel
Mês Famílias Valor
Janeiro/20 5.322 R$ 805.202
Fevereiro/20 5.293 R$ 793.714
Março/20 5.992 R$ 882.467
Abril/20 6.317 R$ 923.006
Maio/20 6.320 R$ 922.402
Junho/20 6.320 R$ 942.901
Julho/20 6.320 R$ 972.450
Agosto/20 6.320 R$ 996.771
Período Famílias Valor
Julho de 2020 6.320 R$ 972.450
Julho de 2019 5.455 R$ 815.185
Julho de 2018 4.250 R$ 582.090
Julho de 2017 3.315 R$ 410.434
Auxílio emergencial vira dinheiro extra
Nos últimos quatro meses, as famílias cadastradas no Bolsa Família puderam optar pelas parcelas do Auxílio Emergencial, de R$ 600 e R$ 1.200 (mães solteiras). A quantia é bem maior que a recebida pelo Bolsa Família. “As pessoas de baixa renda nunca foram tão bem assistidas como estão sendo ultimamente. Em média, elas recebiam R$ 128 e agora o benefício pode chegar a R$ 1.200 para a maioria delas, já que 85,2% [das famílias] é chefiada por mulheres”, ressalta a assistente social e gerente da Divisão de Benefícios Assistenciais e Transferência de Renda de Cascavel, Geni Aparecida Cândido.
A situação refletiu diretamente na distribuição de cestas básicas pelo Município. “Em março, vários setores foram fechados e muitas pessoas perderam emprego e distribuímos em torno de 4.500 cestas básicas. A partir de abril e maio, o número caiu para 1.600. Em junho e julho voltamos à normalidade, que não ultrapassa mil cestas por mês”, explica Geni Cândido.
Carteira mais cheia
Quem recebe o valor extra aproveita para colocar algumas contas em dia. “Muitas pessoas relatam que usaram parte do auxílio para pagar dívidas antigas e até contas básicas da casa, como água e luz”, explica a assistente social do Bairro Cascavel Velho, Marilene Alves da Costa.
Um exemplo é Janaína de Paula, 30 anos, que está desempregada. “Tenho quatro crianças, estou desempregada e o dinheiro a mais me ajuda bastante. Recebia Bolsa Família há menos de um ano, antes ainda da pandemia. Agora, com o valor do auxílio, compro comida, pago as contas da casa e o aluguel”.
Já a dona de casa Aparecida Rodrigues da Silva, que mora no Bairro Cascavel Velho, aproveitou para cuidar da saúde e comprar eletrodomésticos. “Arrumei os dentes. Consegui colocar uma dentadura nova, comprei uma máquina de lavar e um celular novo”, lista.
O valor ajudou a garantir roupinhas para o bebê da filha adolescente: “Usei o dinheiro também para comprar o enxoval do meu neto, que agora está com dois meses”.