Depois de relatar as histórias vividas ao auxiliar nos cuidados com seus avós que tinham mal de Alzheimer, o psicólogo, escritor e educador Rossandro Klinjey, que arrebata multidões em suas palestras e tem uma legião de seguidores em suas redes sociais, faz a seguinte provocação: “E você, já limpou fralda de adulto? Já teve que comprar aquela almofadinha para o cóccix? Já passou óleo nas escaras? Pois eu pergunto: os filhos que vocês estão criando fariam essas coisas por você? Vamos pensar no por que não: as dificuldades da vida nos forjam competência, dignidade e respeito. A geração que nasceu na época moral e cívica é a geração que sabia que quem mandava no lar eram os pais. E isso é o que é certo. No decálogo de Moisés já vinha escrito: ‘Honra a teu pai e a tua mãe’. O problema é que muitos pais e mães não se fazem honrar pelos seus filhos. Eles deixam a posição de pai e mãe, que é única, para serem amigos, para se igualar aos filhos”.
Nesta última frase [pais serem amigos de seus filhos] Rossandro atribui muitos dos problemas que constatamos na sociedade atual e é sobre uma dessas realidades que vamos trazer luz na edição desta semana do Hoje Express.
Pergunta respondida
Você já planejou seu futuro? Está convicto de quem estará ao seu lado na velhice? Onde você vai passar os últimos anos de sua vida?
Para 40 idosos de Cascavel esta última pergunta já foi respondida: No Abrigo São Vicente de Paulo! A instituição existe há 47 anos e tem como objetivo prestar atendimento aos idosos que não têm famílias e nem outro lugar para morar.
Dos 40 moradores do abrigo, 25 são cadeirantes e 29 usam fraldas geriátricas – um total de 4 mil fraldas são utilizadas por mês. A casa mantém uma equipe de 30 colaboradores efetivos, além dos voluntários e das Irmãs Marcelinas que se dedicam à causa em tempo integral. Há anos, todas as vagas estão preenchidas e só abre uma nova quando um deles “descansa”.
Na equipe atuam enfermeiros e técnicos, nutricionistas, assistente sociais, fisioterapeutas e outros profissionais.
Apesar de não ser um hospital, lá no abrigo moram também idosos acamados, utilizam sondas de alimentação e medicações, além de dependerem de cuidados específicos da equipe de enfermagem. A reportagem do Hoje Express esteve lá nesta semana e constatou o quanto são bem atendidos, principalmente, com ingredientes indispensáveis nesta situação: amor e carinho de todos os colaboradores e voluntários.
O milagre de todo mês
Manter toda a estrutura em funcionamento durante 24 horas ao custo de R$ 200 mil por mês só é possível graças às doações que a entidade recebe de empresas, igrejas e da comunidade em geral, e graças ao trabalho voluntário, já que seria necessária uma equipe bem maior de funcionários para dar conta da demanda. Deste valor, R$ 80 mil são oriundos do Fundo do Idoso, R$ 40 mil do convênio com a Prefeitura de Cascavel e 70% do valor das aposentadorias dos idosos atendidos. O restante do valor vem das doações, que no mês de agosto somaram R$ 60 mil para “fechar a conta”.
Cada idoso que está sob os cuidados do abrigo custa, em média, R$ 5 mil por mês.
Como será o amanhã?
Aos 77 anos, Euclides Pizzi preside o Abrigo São Vicente de Paulo, onde é voluntário há 24 anos. Ele conhece as particularidades e necessidades de cada um dos 40 moradores, os chama pelo nome e não esconde a preocupação com aqueles idosos que o abrigo não dá conta de atender.
“Todos os dias recebemos pedidos para receber novos idosos aqui, inclusive os filhos nos procuram dizendo que não têm condições de cuidar dos pais”, relata, alertando e aconselhando: “Os filhos têm que cuidar dos pais!”.
Quem faz a triagem para selecionar os idosos que preenchem os requisitos para serem acolhidos no abrigo é a Secretaria Municipal de Assistência Social, que já tem os prontuários a postos cada vez uma vaga ‘abre’.
Do alto de quem conhece muito bem a realidade da pessoa idosa em Cascavel, Euclides aponta uma necessidade de extrema importância. “Uma cidade deste porte precisa ter um hospital do idoso, capaz de dar atendimento digno àqueles que estão acamados em situações, muitas vezes, irreversíveis. Muitos estão ocupando um leito no hospital porque a família não tem condições de receber em casa um paciente acamado, então este hospital específico seria o melhor destino para estas pessoas”, analisa o presidente.
Segundo ele, existe movimento de lideranças políticas locais no sentido de viabilizar o projeto para angariar recursos públicos para a construção do hospital do idoso, mas tudo ainda muito iniciante. Pizzi e os demais diretores da entidade – todos voluntários – deverão procurar o próximo prefeito eleito para colocar o assunto em debate.
Domingo tem almoço no abrigo
Neste domingo (15) será realizada mais uma edição do tradicional almoço do Abrigo São Vicente de Paulo. No cardápio, delícias como coxas e sobrecoxas de frango assadas, espaguete caseiro, maionese, molhos e variedade de saladas que saem diretamente da horta do abrigo para a mesa dos convidados.
O ingresso custa R$ 50,00 por pessoa e crianças de até oito anos de idade não pagam. Os ingressos já estão disponíveis na recepção do Abrigo e podem ser adquiridos também no domingo, antes do almoço. A partir das 11h o almoço será servido para quem for consumir no local, já o serviço de drive thru funcionará das 10h30 às 13h30. O almoço será servido no salão que fica anexo ao abrigo.
Os valores arrecadados com o evento são utilizados para a manutenção da entidade.
Quem conhece, ajuda!
Se você ainda não conhece, agende uma visita. Em cada cômodo da estrutura é possível observar o amor de todos os envolvidos e o quanto os acolhidos são bem cuidados ali.
O Abrigo São Vicente de Paulo fica na Rua Jaime Duarte Leal, 143, no Bairro Maria Luiza
O dever dos filhos e da família
O artigo 229 da Constituição Federal diz que os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. E o artigo 230 também da Constituição Federal fala que a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e o bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. “Então isso significa que os filhos sim têm responsabilidade no cuidado e no amparo da pessoa idosa. Isso significa que no momento de vulnerabilidade da saúde, econômica ou até questão mental, questão física, tudo aquilo que o idoso tiver desamparado. Ou estiver vulnerável, os filhos são as primeiras pessoas que têm a responsabilidade de cuidá-lo, de amparar os pais na sua velhice ou ali a partir dos 60 anos”, aponta Luana Carli, advogada e presidente da comissão de direito dos idosos da OAB Cascavel, que completa “Isso a gente trata, sim, como um dever que surge pela necessidade. Não é que o idoso completou 60 anos, o filho já vai pegar os cartões, os medicamentos, vai ficar responsável por tudo. Não é isso, é quando o idoso precisar, eles vão ter que atender, sim. O idoso, ele continua tendo autonomia, continua podendo praticar os atos da vida civil, comprar, contratar, se relacionar, sair, ir a sua igreja, no seu grupo do bairro, no baile”.
Quando o idoso não tem filhos, o artigo diz que a família é o primeiro local que ele vai procurar uma ajuda para essa necessidade que ele está tendo.
Cascavel tem Família Acolhedora e aguarda o Condomínio do Idoso
Como diz a música “Couro de Boi” do saudoso Sérgio Reis, infelizmente, “um pai trata dez filhos, dez filhos não trata um pai”. Em Cascavel, o Programa Cascavel Caridoso foi criado para atender idosos e pessoas com deficiência que não têm família e acabam precisando do auxílio do Poder Público. Administrado pela Secretaria Municipal de Assistência Social, o acolhimento familiar de pessoas idosas ou com deficiência foi implantado através de uma Lei Municipal em 2020, com objetivo de acolher aqueles que tiveram seus direitos violados.
De acordo com a Seaso, o programa atende pessoas que não possuem família ou estão com os vínculos familiares violados e, por esse motivo, são acolhidos. Atualmente o programa conta com 24 famílias acolhedoras que atende 34 pessoas: 21 idosos e 13 pessoas adultas com deficiência.
Conforme a Seaso, a principal vantagem desta forma de acolhimento é que o idoso tem um ambiente familiar, convivendo e fazendo parte da rotina desta família, o que permite o relacionamento ampliado com outras pessoas, questão mais limitada no acolhimento institucional. Pouquíssimas cidades do país têm acolhimento específicos para idosos e pessoas com deficiência. A maioria, tradicionalmente, volta suas ações para atendimento de crianças e adolescentes. As iniciativas de Cascavel ajudam, porém, ainda estão longe de atender toda demanda.
Sonho da “casa própria” também para os idosos
Quem chega à terceira idade e não conquistou a tão sonhada “casa própria” ainda tem uma chance com o “Condomínio do Idoso”, que está sendo construído no Bairro Esmeralda, aqui em Cascavel. Ao todo, serão construídas 40 unidades em uma área de 10,7 mil metros quadrados. A obra foi iniciada ainda no começo de 2023 e a previsão era de estar pronta até o fim deste ano, mas vai atrasar.
A construção ocorre por meio do “Programa Viver Mais Paraná” da Cohapar (Companhia de Habitação do Paraná) e terá o investimento de R$ 6.178.400,00. Cada casa terá sala, cozinha, banheiro e varanda e o espaço em comum terá ainda praça de convivência, biblioteca, sala de informática, academia ao ar livre, piscina, horta comunitária, salão de festas e pista de caminhada.
De acordo com a Cohapar, os trabalhos chegaram a 54% e devem atrasar pelo menos uns 180 dias. As casas que formam o condomínio é destinada a pessoas a partir de 60 anos, que não sejam proprietárias de imóveis e com renda de até seis salários mínimos.
Quem tiver interesse ainda pode fazer a inscrição já que a seleção dos nomes será feita apenas quando a obra atingir 80%, prazo em que serão convocados os selecionados para apresentar documentos. É possível fazer o cadastro no portal da Cohapar ou diretamente na Prefeitura, lembrando que prioridade de atendimento é para aqueles com menor poder aquisitivo.
O público selecionado pela equipe social da Cohapar pode residir nas casas por tempo indeterminado, ao custo mensal de apenas 15% de um salário-mínimo, que atualmente equivale a R$ 181,80.