
Cascavel -
Datas comemorativas, tradicionalmente vistas como picos de faturamento isolados no calendário varejista, estão ganhando um novo significado estratégico. A proposta agora é pensar nessas ocasiões não como eventos únicos, mas como gatilhos estruturantes para o desempenho comercial sustentado. Esse é o princípio de uma metodologia que vem se destacando entre grandes redes, franquias e lojistas de shopping centers em todo o Brasil: transformar o mês de maio — marcado pelo Dia das Mães — em um verdadeiro Natal fora de época.
No centro dessa virada de mentalidade está um conjunto de práticas que envolvem definição de metas ousadas, divisão tática do mês em ciclos de campanha, uso inteligente de gatilhos emocionais, engajamento interno com foco em performance diária e uma abordagem rigorosa de experiência no ponto de venda. A Rede Milionária, referência nacional em estratégias de crescimento no varejo físico, é uma das responsáveis por consolidar e disseminar esse novo modelo de atuação.
Campanha pontual
Em vez de centrar todos os esforços em uma única ação para o Dia das Mães, a recomendação é dividir maio em três campanhas distintas: uma ação inicial focada nas mães (1 a 10), seguida de uma campanha de temática flexível (como festival de produtos, marcas ou experiências), e finalizando com o início antecipado do Dia dos Namorados a partir da última semana do mês. O objetivo é garantir fluxo contínuo, engajamento sequencial do consumidor e sustentação das vendas.
Mais do que antecipar campanhas, o foco está na construção de uma meta ousada mensal, desdobrada por dia e por atendente. “Não se bate meta de mês. Bate-se meta de dia. E não se atinge uma meta de dia apenas com o movimento gerado pelo shopping. É preciso estratégia, diferenciação, isca e equipe preparada”, sintetiza o especialista e CEO da Rede, Dino Gueno.
Lógica da emoção
Com passagens pela liderança de marketing de grandes redes como Ricardo Eletro e operações com mais de 800 lojas em todo o Brasil, Dino Gueno sabe que o que diferencia uma campanha vendedora não é apenas o preço. “Presente não é produto. Presente é mensagem. A data do Dia das Mães, por exemplo, não pode ser centrada em descontos. Ela tem que explorar o valor emocional da compra”, afirma.
Ao tratar datas comemorativas como o Dia das Mães, a recomendação é clara: evitar campanhas de desconto como eixo central. Em vez disso, o foco deve estar em construir campanhas afetivas, sensíveis ao contexto familiar e emocional da compra, o que aumenta a propensão ao gasto e à fidelização.
“Presente não é produto. Presente é mensagem”, reforça uma das máximas aplicadas à lógica de consumo sazonal. O consumidor que compra para a mãe, por exemplo, não está atrás do menor preço, mas do melhor presente que seu orçamento permite — e que represente adequadamente o vínculo emocional envolvido.
No lugar dos descontos, a sugestão é investir em produtos isca, ou seja, itens de forte apelo comercial, alto giro e margem pré-negociada. São eles que devem ocupar o centro das vitrines, os catálogos digitais, os anúncios nas redes sociais e o destaque nas campanhas de WhatsApp.
A montagem de kits por faixa de preço ou perfil de cliente (mães clássicas, esportivas, modernas etc.) também é indicada como tática eficaz para elevar o ticket médio e o PA (produtos por atendimento). Grandes marcas do setor, como O Boticário, Hering e Renner, fazem uso intensivo dessa estratégia — mas ela pode ser replicada por pequenas e médias operações com igual eficiência.
“Venda interna”
Outro diferencial do método está na venda interna da campanha, conceito conhecido como endovenda. Em vez de comunicar apenas para o público final, o primeiro esforço deve ser convencer e engajar a equipe responsável pelas vendas. Isso exige reuniões semanais com foco em direção e energização, treinamentos rápidos como a chamada “cumbuca” — em que vendedores apresentam os produtos da semana para seus colegas — e campanhas de incentivo com premiação semanal.
O argumento é simples: o vendedor motivado vende mais, e com margem. E para que isso aconteça, ele precisa estar inserido na estratégia, compreender o racional da campanha, ver valor pessoal nos resultados e contar com estímulos imediatos. “Campanhas de incentivo atômico”, como são chamadas, são ações curtas, com recompensas tangíveis (vales, experiências, premiações) que ativam o desempenho no curto prazo e fortalecem o vínculo com os objetivos da loja.
A ambientação da loja também é parte vital da estratégia. A vitrine deve ser entendida como o principal canal de mídia física da operação, especialmente em ambientes de shopping center. Decoração temática, exposição dos produtos isca, uso de elementos emotivos (como flores, bilhetes, imagens afetivas) e sinalização clara de campanhas são pontos que compõem a chamada “hora da verdade” da experiência de compra.
Além disso, a loja deve ter um planejamento visual coerente com cada campanha do mês, com renovação periódica do tema, evitando comunicações genéricas como “mês das mães”, que reduzem o senso de urgência do consumidor.
No ambiente digital, a metodologia recomenda o uso profissional de tráfego pago, com segmentações específicas por perfil de cliente. Por exemplo: anúncios voltados a filhos devem apresentar presentes de menor valor; anúncios para maridos, produtos com maior tíquete. A segmentação da arte, da mensagem e do canal (Instagram, WhatsApp, e-mail) deve ser ajustada conforme o público-alvo.
Além disso, influenciadores locais com metas claras e contratos formais são apontados como ferramenta eficiente para ampliar alcance e conversão, desde que bem selecionados e alinhados com a proposta da campanha.
Por trás do impacto das campanhas estruturadas está um princípio inegociável: a disciplina no planejamento e na execução das rotinas de venda. A metodologia da Rede Milionária enfatiza que o crescimento sustentável do varejo depende da combinação entre meta, gestão de equipe, produto certo, experiência emocional e marketing eficaz.
“Nenhuma loja cresce só com bom produto. Cresce com gestão, com time alinhado, com visão estratégica. E principalmente com energia para executar”, afirma Dino.
No varejo brasileiro, onde os desafios macroeconômicos são constantes, a proposta é construir um calendário de vendas baseado em ciclos táticos, e não apenas em marcas que prosperam.
Foto: Assessoria