Cotidiano

Falta de chuva: Municípios em estado crítico; safrinha já está comprometida

As temperaturas bem acima dos 30ºC tem feito com que o consumo cresça e não há reposição nos mananciais.

Produtores se dividem entre esperar condições ideais para o cultivo ou arriscar sem umidade no solo
Produtores se dividem entre esperar condições ideais para o cultivo ou arriscar sem umidade no solo

Reportagem: Juliet Manfrin 

Santa Lúcia – Nem precisa ser meteorologista para saber que as chuvas estão irregulares desde maio passado e que o déficit pluviométrico compromete há meses rios, reservatórios e mananciais. Mas a situação tem piorado a cada dia. As temperaturas bem acima dos 30ºC tem feito com que o consumo cresça e não há reposição nos mananciais.

Consumo em alta e sistemas de abastecimento em baixa resultam em um problema: risco de desabastecimento generalizado.

Ele ainda não foi adotado pela Sanepar em toda a região oeste, mas, se a estiagem persistir, a situação deve piorar muito aquilo que já está bem ruim.

Nessa segunda-feira (14) a situação era considerada crítica em pelo menos seis municípios do oeste. Segundo a Sanepar, na lista estão: Campo Bonito, Santa Lúcia, Matelândia, Três Barras do Paraná, Medianeira e Cafelândia. “Nesses sistemas a redução chega a 60%. Em Santa Lúcia, até com o auxílio de caminhões-pipa está difícil atender a demanda. Campo Bonito também tem o abastecimento complementado com caminhão-pipa”, explica a assessoria da companhia.

Os caminhões-pipa vão para o Distrito de Santa Maria, em Santa Tereza do Oeste, e não são raras as vezes que seguem para abastecer hospitais e escolas de Cascavel.

Por falar em Cascavel, ontem foi mais um dia de rodízio no abastecimento de água, adotado há mais de um mês mas que vinha sendo flexibilizado até a última sexta-feira (11), quando parte da cidade ficou sem água. Desde então, o cronograma vem sendo seguido. “A situação está bastante grave e o sistema não está conseguindo atender a demanda mesmo com todas as medidas adotadas. O volume de armazenamento de água está em nível crítico, o que compromete o abastecimento”, alerta a Sanepar.

Quanto à situação dos próximos dias, a Sanepar reforça que “o controle e a análise do sistema continuarão sendo feitos diariamente pelas equipes técnicas”. Por essa razão, reforça a importância do uso racional e consciente da água. A orientação é para que seja priorizado o consumo humano, como alimentação e higiene pessoal.

Esse alerta ganha reforço em um momento em que o consumo voltou a disparar. Em Cascavel, a média, que vinha sendo fechada em 63 milhões de litros de água/dia, subiu para quase 71 milhões/litros na última sexta-feira e 69 milhões/litros no sábado.

 

A cada dia que passa sem chuva, situação fica mais crítica no oeste – Foto: Adelar Luiz Dias/Sanepar

Desespero no campo e comprometimento da safrinha

 

Cascavel – O que era preocupação agora já se consolida como desespero entre os produtores de soja nesta que é a principal região agrícola do Estado.

Há 36 anos no serviço público ligado à agricultura, o técnico do Deral (Departamento de Economia Rural) José Pértille é enfático: “Em 36 anos de Estado, nunca vi uma situação como esta… uma estiagem tão prolongada no momento do plantio. Já tivemos secas severas, mas em outros ciclos da lavoura, não no momento da semeadura”.

A preocupação no campo fez com que os agricultores semeassem mesmo sem condições climáticas. Em todo o oeste, o boletim mais recente do Deral informa que 70% das áreas de soja – ou seja, cerca de 700 mil hectares – foram plantados praticamente no pó, a exemplo de toda a área destinada ao milho, que soma 70 mil hectares.

A esperança por chuva, que insiste em não se confirmar, potencializa dois graves problemas ao campo. Primeiro que a falta de umidade não possibilita a germinação dos grãos e os que germinam acabam apresentando problemas graves. Nesse aspecto, há ainda um imenso risco de se perder todas as lavouras já cultivadas com os grãos que morrem sem umidade suficiente.

Em segundo estão os produtores, que saíram em disparada para plantar a soja na tentativa de ainda conseguir uma janela para semear a safrinha de milho no ano que vem. O zoneamento da oleaginosa indica período de plantio no oeste já no início de setembro, com o fim do vazio sanitário, condição que não pôde ser seguida neste ano. Neste momento, o atraso no cultivo já chega a quase 45 dias.

“A cada dia que passa a safrinha fica mais comprometida, aliás, na nossa região a safrinha de milho de 2020 já está totalmente comprometida, então os 30% que ainda não plantaram esperam a chuva em quantidade razoável para que ao menos possam diminuir as perdas apostando no aumento da produtividade”, explica Pértille.

Já o zoneamento para o milho na safra de inverno se encerra na primeira quinzena de fevereiro e, nas condições atuais, praticamente toda a área estará ocupada com a soja.

Para criar condições ideais à semeadura, seriam necessários de 40 a 50 milímetros de chuva. Por isso os olhos se voltam para os institutos de meteorologia, que não têm acertado nas últimas previsões.

Segundo o Simepar, hoje (15) pode chover cerca de 7mm na região. Se a previsão não mudar, podem ocorrer pancadas até a próxima semana, mas sempre isoladas.

De sexta a segunda pode cair, no acumulado, 50mm em municípios como Cascavel, 60mm em Foz do Iguaçu, mas apenas 18mm em Palotina e 25mm em Guaíra.

Entre os municípios do oeste onde mais pode chover está o de Catanduvas, com previsão de 80mm.

Porém, os principais modelos meteorológicos alertam que é importante seguir monitorando. Isso porque o maior volume de chuva está previsto para a segunda-feira da semana que vem e isso ainda pode mudar. “Tomara que essas chuvas se confirmem, precisamos muito delas. A situação está muito preocupante. Andando pelo interior também constatamos que falta água em muitas propriedades, nesses casos seriam necessário de 100 a 150mm para mexer no lençol freático”, reforçou Pértille, ao considerar que isso não deve ocorrer, por enquanto.

O Simepar reforça que pode haver regularização pluviométrica a partir de novembro, mas ainda sem confirmação se as chuvas avançam mesmo no próximo mês sobre o Paraná.

Macuco é suspenso por baixa vazão do rio

Em Foz do Iguaçu, o cenário de uma das maravilhas da natureza também mudou drasticamente. Tanto que o Macuco Safari, concessionária do Parque Nacional do Iguaçu que opera atividades de aventura dentro da unidade de conservação, informou ontem (14) que, em virtude do baixo nível da água, os passeios operados no Rio Iguaçu estão temporariamente suspensos.

A vazão atingiu cerca de 55% da média, que é de 1.500 metros cúbicos por segundo. Ontem a vazão era de apenas 594 metros cúbicos por segundo. Já o passeio Macuco Selva e o cachoeirismo, atividades que não são realizadas no Rio Iguaçu, continuam operando.

Sudoeste em alerta máximo

No sudoeste, a situação também é crítica. Em Dois Vizinhos houve mais de 50% de redução na vazão do rio e problemas se espalham com risco de fornecimento de água de forma alternada.

Os rios e os poços que abastecem as cidades de Planalto, Capanema, Pérola do Oeste, Salto do Lontra, Realeza, Santo Antônio do Sudoeste, Flor da Serra do Sul e de Nova Prata do Iguaçu estão com volume 40% menor que nos períodos normais.

Os sistemas de Renascença, que baixou decreto de emergência semana passada, Boa Esperança do Iguaçu, Nova Esperança do Sudoeste, Bom Jesus do Sul tiveram redução na vazão de 30%.