Foz do Iguaçu – Uma semana após a tão esperada abertura da Ponte da Amizade, que permitiu o trânsito de brasileiros e paraguaios, assim como o funcionamento do comércio do outro lado da fronteira, o movimento registrado nas lojas de Cidade do Leste tem sido baixo. “A movimentação nas lojas está muito pequena e quem está por lá compra coisas específicas, como perfume. A maioria das lojas está com a cotação do dólar a R$ 6 e aí não compensa”, explica o presidente do Codefoz (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social de Foz do Iguaçu), Mário Camargo.
A estudante Solange Desbessel mora em Medianeira e já no segundo dia foi ao Paraguai fazer compras, mas a expectativa de voltar com sacolas cheias ficou frustrada. “Eu fui achando que as lojas trabalhariam com dólar mais baixo ou com preços menores para atrair os consumidores, mas não foi isso o que vi. Tinha algumas lojas com promoções e tem produto que até compensa, mas para moradores de Foz, porque, mesmo não sendo longe, o gasto com a viagem só para comprar pouca coisa por enquanto não é viável. Talvez, se o dólar recuar um pouco, fique mais atrativo”, explica Solange.
A administradora e influencer cascavelense Camilla Buf diz que o movimento fica mais intenso no fim de semana. “Durante a semana, o movimento é tranquilo, aos fins de semana os comerciantes disseram que está bem alto. Alguns produtos valem a pena comprar, mesmo com o dólar a R$ 6 em algumas lojas e a R$ 5,80 em outras, dependendo da casa de câmbio e do valor do dia. Os produtos que valem a pena mesmo com a cotação são chocolate, cosméticos, perfumes e alguns eletrônicos em lojas com promoção. Eu achei que valeu bastante a pena nesses produtos, comprei mala também, pois o preço estava bom”, lista.
Ela ressalta que o protocolo sanitário tem sido seguido à risca pelo comércio paraguaio. Em todas as lojas há verificação de temperatura, é exigida a entrada com máscara e também a higienização das mãos no local.
Porto Seco colapsa: autoridades buscam soluções
A situação complicada que vivem os caminhoneiros que cruzam a fronteira segue sem solução. A demora e a burocracia para a liberação das cargas no lado paraguaio colapsou o Porto Seco de Foz do Iguaçu na última terça (20), impossibilitando o recebimento e o despacho de cargas. A situação se mantém, prejudicando o trabalho dos caminhoneiros e a importação e a exportação de cargas. “Desde terça a aduana está colapsada. Conseguimos que a Receita [Federal] amplie o horário de passagem, mas a falta de logística do lado paraguaio, que faz com que os caminhões tenham que entrar no primeiro porto logo na saída da Ponte da Amizade, enquanto existem outros portos [que poderiam ser usados], torna a situação insustentável e colapsa o nosso porto [em Foz]”, afirma o presidente do Codefoz, Mário Camargo.
Ele alerta para a necessidade de rapidez na importação de commodities como o milho, usado para a produção de proteína animal na região. A demora também encarece o frete. “O milho vai para as cooperativas. É alimento para a produção de proteína animal [aves e suínos] e precisa acontecer de forma organizada. Com esse impasse, além de as cargas sofrerem atrasos, o valor do frete aumenta, porque os caminhoneiros ficam muito tempo parados e perdem outras cargas e então precisam cobrar mais. Ou seja, essa situação reflete em toda a cadeia, inclusive no preço do produto que vamos comprar no supermercado”, detalha.
Para tentar solucionar o problema, representantes de entidades locais reúnem informações sobre os principais gargalos relacionados à importação e à exportação e devem solicitar ajuda de autoridades locais e em Brasília. “Vamos levantar dados e informações sobre a situação e pedir ajuda tanto aqui, em Foz, quanto enviar aos Ministérios da Economia, da Agricultura e da Infraestrutura, pedindo que olhem a situação e nos ajudem a encontrar soluções”, adianta o presidente do Codefoz.
Destino turístico
De forma geral, Mário Camargo vê a abertura da fronteira como um passo positivo para a retomada das atividades de turismo no Município e ajuda a organizar medidas para o período de maior movimento: “Só o fato de ter sido aberta a fronteira já muda o ânimo. O que precisamos agora é nos organizarmos para receber os turistas da melhor forma possível. Além de garantir a segurança no aspecto sanitário, também precisamos garantir a segurança em termos gerais. Por isso, vamos solicitar ao governo do Estado para que, assim como ocorreu no ano passado, reforce o efetivo da Polícia Militar na fronteira no período de maior movimento, de dezembro a fevereiro, para que a passagens dos turistas por Foz seja agradável em todos os sentidos”, ressalta.
Reflexo na saúde
Um dos temores com a abertura da Ponte da Amizade, que estava fechada desde 18 de março e reabriu dia 15 de outubro, ainda não se confirmou. O diretor técnico do Hospital Municipal Padre Germano Lauck, Fabio de Oliveira Marques da Cunha, afirma que não houve aumento de busca por atendimento de casos graves de covid-19, conforme esperado. “A previsão de procura por atendimento de casos graves, que precisariam de UTI, não aconteceu. Já o reflexo da abertura nos casos confirmados de covid-19 pode aparecer ainda nos próximos dias, no início da próxima semana, dentro do período de incubação e aparecimento de sintomas que ocorre de 5 a 7 dias após a infecção”.
Ele ressalta que a maior preocupação é que a população brasileira, que já estaria imune ao vírus que circula no Brasil, pode ser infectada com o tipo do vírus que circula no Paraguai, assim como o contrário também pode acontecer.