RIO – Quantas informações cabem em um aperto de mãos? Muitas. Segundo o fundador da GC-5 Soluções Corporativas e professor da Fundação Getulio Vargas, Glauco Cavalcanti, este é um dos gestos de saudação mais reconhecidos no mundo e, independentemente da aparência das pessoas, pode passar informações cruciais:
? Quando feito de maneira firme e acompanhado de um contato visual direto e um sorriso, indica que a pessoa é genuína e confiante. Já um aperto de mão fraco sugere que ela pode estar nervosa ou mesmo desinteressada. E um cumprimento muito forte indica uma personalidade dominante, mas possivelmente insegura ou insensível.
Cavalcanti fala do assunto com propriedade. Ele desenvolveu um estudo de linguagem corporal, em que fotografou mais de 10 mil alunos negociando, ao longo de seis anos. A experiência lhe proporcionou constatações empíricas sobre como posturas corporais, gestos e micro expressões faciais fazem a diferença na comunicação. Além disso, o levantamento foi transformado numa aula especifica sobre o assunto, da qual ele lista alguns destaques
IMPORTÂNCIA SUBESTIMADA
? Os sinais não-verbais são uma parte crítica de todos os nossos esforços de comunicação e, muitas vezes, a mais importante da nossa mensagem. Um dos pioneiros do tema foi Albert Mehrabian, que na década de 50 desenvolveu um estudo que concluiu que em toda comunicação interpessoal cerca de 7% da mensagem é verbal, 38%, vocal (incluindo tom de voz, inflexão e outros sons) e 55% é não-verbal ? comenta ele. ? No entanto, grande parte das pessoas ainda acredita que a fala é a principal forma de comunicação
Segundo Cavalcanti, a interpretação destes sinais está cada vez mais presente no mundo corporativo, com as lideranças informadas sobre os seus significados. E isso vale desde o momento da entrevista. Afinal, como ele afirma, a capacidade de avaliar com precisão a linguagem corporal de um futuro empregado terá impacto direto na qualidade da contratação.
? Um candidato atento, que está entusiasmado com o seu trabalho, geralmente exibe uma boa postura, ereta e reta. Por outro lado, inclinar-se para trás em uma cadeira indica, em muitos casos, tédio ou falta do interesse ? lista ele, sobre alguns dos aspectos mais observados. ? Mas se um candidato não olha o seu entrevistador nos olhos, isso sugere uma série de coisas, que vão do nervosismo à desonestidade.
Em geral, demonstrar autocontrole e boa capacidade de comunicação é ainda mais importante em situações cruciais, como em uma entrevista ou no momento de vender uma ideia ou produto. E justamente por serem posições naturalmente tensas para muita gente, é quando parece mais difícil manter domínio sobre a linguagem corporal. Mas o professor Glauco Cavalcanti traz um alento: é possível adquirir esse controle.
? Podemos treinar nosso corpo para situações como palestras, entrevistas de emprego ou reuniões. Inicialmente, o comportamento é forçado e pensado, mas com o passar do tempo vamos assimilando os gestos e praticando com melhor desenvoltura. Posturas de poder nos colocam para cima, enquanto posturas encolhidas nos deixam para baixo ? observa ele.
O próprio Cavalcanti, aliás, passou por isso na carreira.
? Quando comecei a lecionar, participei de um treinamento sobre técnicas de apresentação em sala de aula ? recorda-se ele. ? No começo, ficava pensando em como aplicar aquele conhecimento, onde colocar as mãos, quando parar e caminhar em sala de aula. Inicialmente, tudo era meio mecânico. Com a prática, passou a ser instintivo. Hoje, faço as posturas, os gestos e os olhares sem pensar. Quase que no automático. É assim quando aprendemos a dirigir um carro: temos que pensar para fazer, mas com o tempo tudo fica fluido e natural.
A professora de gestão de carreira do Instituto Coppead de Administração da UFRJ Ângela Estellita Lins também acompanha pesquisas relacionadas ao tema. Assim como Cavalcanti, ela diz que esses comportamentos podem e devem ser lapidados ao longo da carreira.
? Reforçamos muito isso nos trabalhos de coaching, para que o profissional perceba que, sabendo se portar, ele tem mais impacto no seu local de trabalho. E quando começa a perceber essas mudanças, ele entra num espiral positivo de evolução ? comenta ela. ? Mas não é uma coisa imediata. É um processo gradual em que é fundamental ter cuidado para não virar algo robótico.
Segundo Ângela, bons observadores conseguem administrar isso com muito mais facilidade.
? Quanto prestamos atenção e entendemos a impressão que causamos sobre o outro, percebemos se estamos sendo compreendidos. A partir disso, podemos moldar nosso comportamento ? diz ela.
OPORTUNIDADES
Cavalcanti lembra que alguns momentos na vida são como ?janelas de oportunidade? capazes de definir uma trajetória profissional inteira. Por isso, não se deve perder tempo ao zelar pela boa comunicação.
? A linguagem corporal é o reflexo externo do nosso estado emocional. Cada gesto ou movimento é uma valiosa fonte de informação sobre a emoção que sentimos naquele instante. E há momentos da vida profissional que são como ?a hora da verdade?. Por isso, devemos ter precisão nos gestos e expressões ? conclui ele.