Região Oeste

Conflito de gerações faz crescer o número de desligamentos nas empresas

Os interessados devem buscar orientações entrando em contato com a unidade da Agência do Trabalhador de seu município. Foto: Geraldo Bubniak/AEN
Os interessados devem buscar orientações entrando em contato com a unidade da Agência do Trabalhador de seu município. Foto: Geraldo Bubniak/AEN

Cascavel – Nos últimos três anos, 37,3% dos empregados na região Oeste do Paraná decidiram pedir desligamento das empresas em que trabalhavam. Esse é apenas um dos dados alarmantes divulgados recentemente pelo POD (Programa Oeste em Desenvolvimento), por intermédio da Câmara Técnica de Empregabilidade. A pesquisa foi divulgada recentemente durante conferência realizada sobre o tema na cidade de Marechal Cândido Rondon.
A pesquisa ouviu 2.053 pessoas em 54 municípios do Oeste paranaense ao longo de três anos e faz parte de um Raio-X do perfil econômico e do trabalho. A coleta de informações contou o apoio da Secretaria do Trabalho Qualificação e Renda, ao liberar as Agências do Trabalhador para contribuir com a pesquisa. Dados do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) também foram utilizados.
Um dos motivos do crescente índice de desligamento nas empresas na região Oeste tem um motivo, conforme explica o coordenador da Câmara Técnica de Empregabilidade do POD, em entrevista concedida à equipe de reportagem do Jornal O Paraná. “Há um confronto de gerações dentro das empresas. São quatro a cinco gerações juntas que precisam alinhar o discurso, fomentar a interação e conviver de maneira harmoniosa no mesmo ambiente, e não é bem isso que vem ocorrendo”.
De um lado, os baby boomers, pessoas nascidas entre 1940 e 1960, profissionais mais conservadores e que prezam pela experiência e estabilidade no trabalho. Já a geração X, de 1965 a 1980, representa 26% da população brasileira, totalizando 55 milhões de pessoas. Trata-se de uma geração dedicada e experiente e dá um grande valor ao trabalho e a meta das empresas. Por sua vez, a geração Y é marcada pelas mudanças tecnológicas. São nascidas entre 1982 e 1994 e incentivam a busca constante pelo conhecimento. A geração Z, nascida de 1990 a 2010, defende a flexibilidade a na maioria das vezes contestam os modelos mais conservadores e aí está o X da questão. É esse conflito que tem sido observado no ambiente das empresas. “A qualquer sinal de embate de opiniões, essa geração mais jovem acaba pedindo o desligamento pois devido ao conhecimento amplo que possuem em relação às novas tecnologias, sabem que não terão dificuldade de encontrar uma nova oportunidade no mercado de trabalho”.
O Oeste conta com 394 mil carteiras assinadas. Com base em levantamento, nos últimos anos foram 234.880 admissões e 222.855 desligamentos. Outro dado importante mostrado pela pesquisa é que quase 24,8% das pessoas não permaneceram por mais de três meses na empresa. Isso corresponde a 50 mil pessoas.
De 4 a 6 meses de trabalho, foram em torno de 39 mil pessoas e de 7 a 12 meses na empresa, 20,9%, que dá 49 mil pessoas. Em suma, 59% de todas as pessoas entrevistadas não permaneceram um ano na empresa. Esse turnover (indicador que mensura a quantidade de funcionários que deixam a empresa durante determinado período) é muito expressivo na região.
O levantamento mostra também que 61% das pessoas estão felizes com o que ganham como salário e 75% recebem até um salário mínimo e meio. A conferência realizada pelo POD direcionou os temas ao desenvolvimento do ambiente de trabalho saudável e estratégico. Destaque para felicidade no trabalho; impacto na relação líder e liderado; o engajamento com a cultura da empresa e o impacto da rotatividade e absenteísmo. E também o papel da liderança na segurança psicológica (saúde mental).
No ano passado, entre 33% e 35% das pessoas registradas no mercado de trabalho foram desligados ou pediram para deixar a empresa. “É um dos maiores turnovers do mundo, por conta da questão das indústrias frigoríficas”. A região Oeste é superpróspera em virtude da presença dessas empresas de transformação de proteína animal e vegetal. “Esses setores ergueram a regra de valorização salarial e muitas empresas não têm conseguido acompanhar”.

Seguro-desemprego
Somente de seguro-desemprego, o giro econômico no comércio regional é de R$ 371 milhões. No período da pesquisa, 53 mil pessoas tiveram acesso ao benefício, com uma média per capita de R$ 1.750. Os quatro meses de benefícios resultaram no montante milionário citado acima.
De 2021 a 2023, o superátiv de empregos criados totalizou 52.148 oportunidades. Por ano, a região cresce em torno de 17.382 carteiras assinadas.
A pesquisa desenvolvida pela Câmara Técnica de Empregabilidade do POD (Programa Oeste em Desenvolvimento) aponta quais são os setores responsáveis por absorver os maiores percentuais de postos de trabalho. O segmento de serviços responde por 35,53%; o da indústria, 29,96%; comércio, por 25,58%; construção civil 4,49% e o agronegócio, 4,44%.
“O objetivo estratégico da Câmara Técnica é o de identificar as demandas e tendências relacionadas à empregabilidade e conectar os atores para propor ações inovadoras e pontuais no Oeste do Paraná”, destaca o coordenador da Câmara Técnica de Empregabilidade do POD, Sérgio Marcucci.
O estudo também revelou o número de pessoas que recebem recursos do Governo Federal através do Programa Bolsa Família nas cidades que compreendem a Região Oeste. “Esse valor ultrapassa a marca dos 50 milhões de reais mensais em nossa Região, uma média superior a R$ 600 reais por família,” destaca o coordenador Sérgio Marcucci, destacando que os dados foram agrupados por cidade, facilitando a interpretação e a análise.
De acordo com Marcucci, o estudo também revelou a faixa etária, sexo, número de filhos, estado civil e outras importantes informações. Entre elas a constatação de que 24,8% das pessoas não ficaram três meses nas empresas.