Cascavel e Paraná - Todos nós percorremos uma estrada com destino certo, embora a chegada nunca seja algo com o qual estejamos verdadeiramente preparados. Mais cedo ou mais tarde, a última página se fecha, e, querendo ou não, há sempre um endereço reservado à espera, ou pelo menos, quase. Você já parou para refletir sobre onde vai repousar quando a vida chegar ao fim? Se a resposta for Cascavel, talvez seja hora de começar a se preocupar, afinal, viver exige organização, e parece que morrer também demanda planejamento. A cidade, que se destaca pela modernidade em diversos setores, enfrenta um desafio delicado quando o tema é o cemitério.
À beira do Limite
“Estamos próximos ao limite de ocupação”, revela o superintendente da Acesc (Administração de Cemitérios e Serviços Funerários de Cascavel), José Roberto Guilherme, o Beto Guilherme, que, apesar de não ser o rosto mais visível da cidade, lida com o lado menos glamouroso, porém inevitável, da existência. A Acesc administra 28 cemitérios no município, sendo quatro situados na área urbana. Além disso, há um cemitério particular em Cascavel, que não está sob sua responsabilidade. A superintendência também cuida da manutenção das capelas mortuárias, que somam cerca de 30 salas para velório.
A crônica das necrópoles
A história das necrópoles de Cascavel é marcada por memórias antigas e um tanto de esquecimento. “Temos cemitérios muito antigos… em todos os distritos, mas alguns estão praticamente em estado de abandono”, conta Beto. Um exemplo emblemático é o cemitério da Linha Castelo, que não recebe sepultamentos há anos. A solução, com o consentimento das famílias, seria a exumação e transferência dos restos mortais para o cemitério de Juvinópolis. “Queremos eliminar aquele cemitério, pois não está sendo utilizado”, explica o superintendente.
Já o último cemitério criado em Cascavel foi o cemitério Cristo Redentor, inaugurado em 2012, no bairro Guarujá, onde antigamente era área de uma pedreira. O maior cemitério de Cascavel é o cemitério Central, que leva o nome de Dom Mauro Aparecido, onde também descansa os restos mortais do arcebispo que morreu em 2021, e também os restos mortais de outros arcebispos de Cascavel.
Em busca do novo campo-santo
Enquanto em vida muitos se queixam da falta de espaço, a realidade nos cemitérios de Cascavel não é muito diferente. “Estamos perto do limite de ocupação. Essa é uma preocupação constante. Já conversei com o prefeito Renato Silva sobre a necessidade de construir um novo cemitério, mas, por enquanto, ainda estamos em busca de um local”, revela Beto. A solução imediata tem sido a regularização de jazigos já existentes e a convocação das famílias para evitar o abandono de espaços. No entanto, nem todas as famílias têm jazigos próprios.
A área para a construção de um novo cemitério permanece em sigilo, mas o local provavelmente ficará na região norte ou, caso não seja viável, ao sul da cidade, sempre respeitando os obstáculos ambientais.
Crematório: Alternativa Ecológica
Uma solução mais moderna e ecológica seria a construção de um crematório municipal. No entanto, em Cascavel, essa possibilidade ainda depende da iniciativa privada. “Acredito que a cidade precisa de um crematório. Desde que assumi a Acesc, em 2017, venho trabalhando para viabilizar esse projeto, e ele não está descartado”, afirma Beto. O custo de um forno crematório pode variar entre R$ 700 mil e R$ 1 milhão, sem contar a construção de um espaço adequado para as despedidas e o cinerário, o que pode elevar o orçamento para até R$ 5 milhões ou mais. Enquanto isso, os moradores de Cascavel dependem de um crematório privado, e aqueles que não podem pagar acabam disputando um espaço no cemitério.
Vertical: Alternativa à Tradição
Cidades litorâneas, como Santos, já apostam nos cemitérios verticais. Em Cascavel, no entanto, as famílias ainda preferem os cemitérios tradicionais. “As famílias não costumam gostar desse sistema. Elas preferem o jazigo familiar”, explica Beto. Embora reconheça que a verticalização é uma necessidade, ele acredita que esse modelo poderia ser explorado tanto pelo município quanto por investidores privados. Enquanto novas soluções não saem do papel, o plano mais concreto da Acesc é a construção de 63 jazigos subterrâneos no Cemitério Dom.
Atualmente, Cascavel registra uma média de dez sepultamentos por dia, número que tende a aumentar durante os meses mais frios. “No inverno, o número de óbitos sobe. Não é fácil falar sobre isso, mas é a realidade”, afirma o superintendente. Em média, cerca de 300 óbitos são registrados por mês, dos quais aproximadamente 200 são de moradores locais.
Apelo aos vivos
Além da escassez de espaço, Beto também se preocupa com os casos de furtos e vandalismo nos cemitérios. “Estamos trabalhando para melhorar o serviço da Acesc, tornando-o mais humanizado, mas também para reduzir os furtos, que incomodam a todos nós”, lamenta. E ele faz um apelo à população: respeito não se aprende apenas em vida. “É no cuidado com o que fica para trás que se mede o caráter de uma cidade”, observa.
No fim das contas, todos chegamos lá um dia. E, se depender de Beto Guilherme, pelo menos a última morada será tratada com dignidade – ou, ao menos, com o zelo de quem sabe que ninguém escapa da última viagem.