
Cascavel e Paraná - O Paraná mantém posição de destaque nacional em sanidade animal, mas precisa fortalecer o trabalho conjunto entre todos os elos da cadeia produtiva para avançar no controle da brucelose e da tuberculose bovina. A avaliação é da médica veterinária e fiscal da Adapar, Marta Freitas, da divisão de controle e erradicação de brucelose e tuberculose, ao participar nesta semana de evento realizado em Cascavel, por intermédio da Câmara Técnica de Sanidade Agropecuária do POD (Programa Oeste em Desenvolvimento).
Em entrevista à equipe de reportagem do Jornal O Paraná, ela defendeu uma atuação mais integrada entre governo, produtores rurais, médicos veterinários e indústria. E trouxe também um dado alarmante: ao ano, a brucelose causa um prejuízo de R$ 892 milhões à pecuária brasileira.
O Paraná é o segundo maior produtor de leite do País. Por dia, produz 12 milhões de litros de leite. Em 2024, essa produção bateu 4,56 bilhões de litros. No Brasil, foram mais de 35 bilhões de litros. Das 155.789 propriedades com bovinos no Paraná, 36% delas comercializam leite e 50% fabricam queijo. Somente neste ano, a Adapar já detectou 80 focos de brucelose, sendo 50 já saneados. Em Cascavel, foram 7 focos. O município com mais focos registrados foi o de Dois Vizinhos, com 12 focos.
Com relação à tuberculose, são 150 focos no Paraná até agora desde o início do ano, com 61 saneados e 98 em saneamento. Cascavel tem até o momento dois focos. A cidade com mais focos de tuberculose é Ponta Grossa, com 23. Para ter uma dimensão do crescimento dos focos no Paraná, no ano passado, foram 12 focos de tuberculose. Na contramão desses números, figuram as propriedades certificadas como livres de brucelose e tuberculose, totalizando 117 em 46 municípios.
Entre os principais desafios apresentados por Marta Freitas, constam a instabilidade na oferta de insumos e vacinas; falhas na execução de testes diagnósticos; a falta de análise epidemiológica nos locais de maior ocorrência e principalmente, o desinteresse dos produtores no controle das doenças.
Segundo ela, os resultados dos últimos dois inquéritos soroepidemiológicos — levantamentos que medem a incidência das doenças no rebanho — mostram pouca evolução nos índices. “Estamos andando praticamente de lado. O Paraná é um estado referência em sanidade animal, especialmente em animais de produção. Mas os dados indicam que precisamos refletir: queremos evoluir, economizar na produção e melhorar nossos índices, ou vamos continuar pensando individualmente e permanecendo praticamente no mesmo lugar”, questiona.
Marta Freitas reforçou que a melhoria dos resultados depende de um esforço conjunto. “O tema central foi exatamente esse: a união de todos os entes da cadeia — indústria, produtor rural, médicos veterinários habilitados e o próprio governo — para baixar de fato as prevalências da brucelose e da tuberculose. Todos precisamos atuar de forma integrada”, destacou.
Paraná com classificação B no status sanitário
O Paraná possui classificação B no status sanitário nacional, o que significa que já realiza o saneamento obrigatório de propriedades onde há casos confirmados de brucelose e tuberculose. Apesar de o estado manter índices melhores que a média brasileira, a médica veterinária reforça que ainda há espaço para avanços. “Frente ao restante do País, nós não estamos mal, mas temos um lastro para melhoria. Os resultados são relativamente bons, mas ainda há o que aperfeiçoar para atingir patamares mais elevados”, explicou.
A médica veterinária lembra que as doenças trazem prejuízos diretos à produtividade e à rentabilidade dos produtores, além de riscos à saúde pública. Por isso, a adesão às campanhas de vacinação, o cumprimento das normas sanitárias e a comunicação de suspeitas de doença são medidas fundamentais para fortalecer o sistema de defesa agropecuária.
“Quando o produtor entende que investir em sanidade é investir na sustentabilidade da propriedade, todo o setor ganha. E o Paraná, que já é referência, pode se tornar modelo nacional em erradicação dessas enfermidades”, concluiu Marta Freitas.