Política

Quem é Alexandria Ocasio-Cortez, a mulher mais jovem já eleita para o Congresso dos EUA

Nascida no Bronx e de origem porto-riquenha, congressista luta por um serviço de saúde público e pelo fim da polícia migratória

Quem é Alexandria Ocasio-Cortez, a mulher mais jovem já eleita para o Congresso dos EUA

No dia 12 de abril de 2018, quando uma jovem de 28 anos de ascendência porto-riquenha desafiava Joe Crowley, um dos congressistas com maior respaldo econômico e político na Câmara dos Estados Unidos, nas votações internas do Partido Democrata para o distrito 14 de Nova York, ninguém imaginava que dali sairia um dos grandes nomes da política estadunidense atual. Sem nenhum privilégio se comparada a ele — um homem branco, rico e poderoso –, ela soube jogar a única carta que tinha na manga naquele debate: o apoio de sua comunidade no bairro pobre do Bronx, onde nasceu no começo dos anos 1990.

Com um vídeo de campanha que começava com a frase: “Se supõe que as mulheres como eu não se candidatam a um cargo político”, ela deu uma das maiores lições que o eleitorado do país teve nos últimos anos. “Chegou a hora da justiça social, econômica e racial”, terminou aquele debate. O nome dela é Alexandria Ocasio-Cortez.

Entre seus eleitores e seguidores estão pessoas com identidades que mudam constantemente, pois levam consigo línguas e costumes que vêm de migrantes de primeira, segunda, terceira ou quarta geração e que ainda hoje têm menos acessos a concursos públicos, cursos universitários e empregos bem remunerados. Sem contar os negros, que hoje encabeçam a lista das prisões e das vítimas de violência policial nos Estados Unidos

Antes de chegar ao Congresso, Ocasio-Cortez definia o sistema estadunidense como uma “máquina política que suprime a democracia”. Alguns analistas dizem, porém, que ela é mais “reformista do que revolucionária e que não pretende convocar uma insurreição” que ela já semeou em seus seguidores quando disse que é possível uma transformação dentro da democracia liberal e capitalista.

A crítica mais vigorosa e repetitiva contra ela é aquela que pede que a agora congressista explique como se financiaria as universidades públicas e gratuitas que ela defende, além de um serviço médico de qualidade e as moradias econômicas — todas bandeiras políticas de Ocasio-Cortez. Em países como os Estados Unidos, em que o capitalismo consolidou um império, as empresas e seus donos rechaçam veementemente o aumento de 70% que ela pretende impor aos impostos dos mais ricos.

Recentemente, em meio aos vários anúncios famosos e concorridos da Times Square, em Nova York, uma mensagem dizia: “25 mil trabalhos perdidos em Nova York. Quatro milhões de dólares perdidos em salários. 12 milhões de dólares perdidos em atividade econômica para a cidade de Nova York. Obrigado por nada, Alexandria Ocasio-Cortez (AOC)”.

Ela reagiu dizendo que era natural que uma política que se opôs a gigantes como a Amazon, quando a empresa quis construir uma sede perto do seu distrito, fosse criticada desse jeito pelo mundo corporativo estadunidense. E deu nome aos bois: afirmou que a propaganda fora obra da família de Robert Mercer, diretor da Renaissance Technologies, um fundo de alto risco que usa algoritmos para influenciar os mercados financeiros e que o deixou milionário — ele foi um dos apoiadores da campanha do agora presidente Donald Trump.

Não era também uma novidade na carreira política de AOC: dias antes, uma apresentadora de televisão disse que o ar que ela encarnava era “a melhor hipocrisia, porque tem gostos muitos caros para uma socialista”. Todos os dias ela recebe milhares de mensagens de ódio em suas redes sociais, mas reage com desprendimento.

Além do inglês, Alexandria Ocasio-Cortez cresceu ouvindo espanhol dos latino-americanos que vivem no Bronx. Passou a adolescência andando pelas pizzarias e padarias do bairro e escutando hip-hop nas vielas e em frente aos edifícios populares ou abandonados aos grafiteiros. Sabia da existências de zonas ao sul do Bronx onde os moradores subiam as cortinas quando o sol baixava. Foi nesse território que ela tomou para si seus primeiros conflitos políticos. Em um documentário disponível no Netflix, o pai de AOC conta que o sonho da adolescência dela era conhecer Washington, a capital do país — que foi realizado em uma viagem com ele e outros três amigos.

O pai morreu quando ela estudava Relações Internacionais e Economia na Universidade de Boston. Na época, sua mãe trabalhava como empregada doméstica e, sem dinheiro, precisou complementar a renda como garçonete de um restaurante. Segundo Alexandria, foi nessa época que ela percebeu como a falta de um sistema público de saúde nos Estados Unidos consumia as vidas das pessoas mais pobres. Foi nessa época, segundo a produção do Netflix, que ela esboçou também suas duas principais bandeiras políticas: salários federais para a classe trabalhadora e o fim da polícia migratória estadunidense.

“Os restaurantes são os ambientes mais políticos, porque você está lado a lado com os migrantes, trabalha pelas gorjetas, porque ganha menos que um salário mínimo. Você vive a desigualdade, te assediam sexualmente e você pode ver de perto como se processa e se administra a comida e como os preços sobem”, disse em uma entrevista à revista Rolling Stone.

Para frear as consequências que promete o câmbio climático, ela desenvolveu também o Novo Acordo Ambiental (Green New Deal), uma proposta que alguns qualificam como sua maior pretensão à Casa Branca. “As pessoas acham que a legislação sobre a mudança climática é para salvar ursos polares, mas não pensam nos dutos de Flint, no ar do Bronx, nem que os mineiros de carbono contraem câncer na Virgínia. Temos que falar do clima como um problema de justiça social, de justiça econômica e como um problema ambiental”, disse à mesma publicação.

Hoje com 29 anos, Alexandria é a congressista mais jovem do parlamento dos Estados Unidos, mas já “enfrenta” uma expectativa e uma atenção midiática desmedida que, se por um lado a torna mais poderosa, por outro será uma máquina utilizada para seus inimigos diante de qualquer erro que ela cometer. Ainda assim, é uma das caras da nova política dos EUA.