RIO ? A assinatura de um protocolo pelo governo francês na tarde desta terça-feira permitirá a ida de 500 refugiados sírios que estão em acampamentos e abrigos no Líbano a partir das próximas semanas. A iniciativa, chamada ?Corredor Humanitário?, partiu da instituição católica Comunidade de Sant?Egidio, que já havia implementado o mesmo programa na Itália em dezembro de 2015. A França foi, portanto, o segundo a adotar a medida. Outras instituições católicas e protestantes também se comprometeram a contribuir no processo de auxiliar na adaptação dos refugiados no país de destino.
? Em um ano, nós já levamos 570 refugiados para a Itália e, em 2017, levaremos mais 500 para a Itália, além de 500 para a França ? contou ao GLOBO o voluntário belga Pieter Wieers, de 43 anos, que foi enviado há poucos dias a Beirute, no Líbano, pela Comunidade de Sant?Egidio para ajudar na preparação dos refugiados sírios que vão para a Europa.
Por ser um trabalho voluntário, Wieers, que é diácono na Catedral de Antuérpia, na Bélgica, já está com as malas prontas para regressar para casa nesta quinta-feira. No entanto, ele já tem planos de voltar ao Líbano em breve. Sua função no acampamento dos refugiados é auxiliar no processo de mudança, preparando-os inclusive para o choque-cultural que enfrentarão, em conjunto com outros voluntários da comunidade católica e de instituições protestantes.
? Nós organizamos as conversas, contatos e todos os preparativos para garantir que eles saibam para onde devem ir, além de procurarmos as famílias mais vulneráveis, porque eles são as primeiras que nós estamos levando. Visitamos os refugiados nos campos, prédios abandonados e abrigos. Conversamos bastante com eles e tentamos prepará-los da melhor forma possível.
De acordo com o fundador da Comunidade de Sant?Egidio, Andrea Riccardi, os 500 refugiados que serão recebidos na França serão selecionado com base nos critérios de vulnerabilidade: mães solteiras, idosos, deficientes e vítimas de tortura. Ao chegar no país, equipados com um visto humanitário, serão recebidos por instituições, congregações, indivíduos, e imediatamente passarão pelo processo de integração, no qual está incluída a aprendizagem da língua francesa.
? O corredor humanitário é, de fato, especial. Ajudamos a salvar as vidas das pessoas que evitam realizar as arriscadas viagens por barco no Mediterrâneo, providenciamos acomodações no país de destino, aulas do idioma local, além de buscarmos integrá-los o quanto antes na sociedade ? ressalta Wieers.
Durante o discurso no Palácio do Élysée, a residência presidencial francesa, em Paris, François Hollande afirmou que os valores do protocolo assinado naquela tarde seguem os valores da constituição e que, por meio de uma iniciativa como aquela, é possível existir a colaboração de instituições religiosas com o governo em uma República laica. ?Assim, nós podemos adotar palavras diferentes de acordo com cada uma de nossas funções, mandatos e responsabilidades: a solidariedade, a generosidade, a caridade, a fraternidade. Todas querem dizer que devemos acolher os mais fracos, acompanhar os excluídos, reduzir o medo e trazer esperança. Essa é a mensagem da França que vocês estão levando para o mundo?, ressaltou o presidente francês.
Hollande disse ainda que “precisamos de novas soluções, tanto por parte das instituições da sociedade civil? diante da “onda sem precedentes de migrações” do Médio Oriente e África, “devido aos conflitos, a pobreza e as alterações climáticas”.
Para a a presidente da Comunidade de Sant?Egidio na França, a assinatura do protocolo foi a realização de um sonho que será compartilhado com quem precisa. ?Esperamos que ele possa se espalhar para outros países europeus?, afirmou Régnier em seu discurso na cerimônia.
O protocolo foi assinado por Bruno Le Roux, ministro do Interior, Jean-Marie Le Guen, secretário de Estado para o Desenvolvimento e Francofonia; Valérie Régnier, presidente da Comunidade de Sant’Egidio na França; François Clavairoly, presidente da Federação protestante da França; Bernard Thibaud, secretário-geral dos Serviços Católicos de Assistência; Pascal Delannoy, vice-presidente da Conferência Episcopal; e Jean-Michel Hitter, presidente da Federação de Ajuda Mútua Protestante (FEP, na sigla em francês).
No Brasil, a Comunidade de Sant?Egidio está presente em São Carlos, no interior do estado de São Paulo, e na cidade do Rio, onde promove ações voltadas para pessoas em situação de rua desde 2013, quando ocorreu a Jornada Mundial da Juventude, um encontro que reuniu milhares de jovens fiéis com o Papa Francisco.