Cotidiano

Empreendedorismo e inovação são temas de seminário em São Paulo

SÃO PAULO. Mesmo com índices de empreendedorismo superiores ao de países como Estados Unidos, Inglaterra e Portugal, as ‘startups’ brasileiras ainda apresentam um nível muito baixo de inovação. E isso inibe ganhos de produtividade na economia e na geração de emprego. O diagnóstico é de William Jones, especialista em Estratégias e Finanças Corporativas da consultoria McKinsey Brasil, e foi apresentado ontem no Seminário ?Brasil/Portugal – A Inovação e o Empreendedorismo como Ferramentas de Transformação?, realizado ontem em São Paulo.

Segundo a McKinsey, o nível de empreendedorismo no Brasil chega a 15%, enquanto nos EUA é de 12%, em Portugal 8% e na Inglaterra, 7%. Mas quando se olha o nível de inovação dessas empresas, os EUA têm 5,5%, a Inglaterra, 3,8%, Portugal, 2,4%, e o Brasil, 1,6%.

? O empreendedorismo inovador impulsiona a produtividade e a geração de empregos e no Brasil a inovação ainda é baixa ? disse Jones.

O cônsul de Portugal em São Paulo, Paulo Lourenço, lembrou que seu país aproveitou a crise de 2008 para incentivar os empreendedores. Um plano nacional foi criado, com mais de 20 medidas de estímulo às startups, a fim de melhorar o ambiente de negócios.

Entre as medidas de estímulo às startups implementadas pelo projeto Startup Portugal estão investimentos em infraestrutura tecnológica, qualificação de pessoas na última década e aumento no volume de investimentos ao segmento. Até o final de maio, só em iniciativas de empreendedorismo, foram apresentados mais de 2.000 projetos, que representam 500 milhões de euros de investimento.

? Nos últimos anos, Portugal vem incentivando essas novas empresas. E estamos aproveitando ao máximo o que elas já produziram de inovação ? disse Lourenço,, observando que o seminário foi uma oportunidade para discutir experiências que possam ajudar os dois países a avançar no capítulo do empreendedorismo.

O presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, observou em sua apresentação que a “inovação não consegue viver com a burocracia excessiva”. Em Portugal, lembrou, são necessários três documentos para se abrir uma empresa, no Brasil mais de 20.

? Aqui, abrir uma empresa leva 120 dias. Em Portugal, são dois dias ? resumiu.

Para o empresário Abílio Diniz, presidente do conselho de administração da BRF, do Carrefour Brasil e da Península Participações, o Brasil voltou a ter a “esperança de dias melhores com a troca de governo, sem classificar se o novo governo é ruim ou não, e a confiança deve voltar.

O empresário, que também participou do seminário, lembrou a trajetória de seu pai, Valentim Diniz, que aos 16 anos emigrou para o Brasil, em 1929, onde começou os negócios do Grupo Pão de Açúcar ao fundar uma doceria.

Diniz lembrou que o grupo Pão de Açúcar já teve investimentos em Portugal, mas saiu na década de 1990. Mas observou que sua administradora de recursos, Península já faz prospecção de novos negócios em Portugal.

? É um país extremamente atraente para negócios e a porta de entrada para a Europa ? disse.

A economista Lidia Goldstein, especializada em novos setores da economia, que também participou do seminário, afirmou que o Brasil não tem um sistema integrado, que incentive a inovação dos micro e pequenos negócios.

? Nossas companhias não investem em inovação e, quando investem, a indústria não absorve as novas tecnologias produzidas pelas pequenas empresas ? diz a economista, lembrando que as micro, pequenas e médias empresas já respondem por 40% do PIB brasileiro.

Segundo números citados por João Vasconcelos, secretário de estado da Indústria de Portugal, 50% dos empregos já são criados por empresas com menos de 5 anos de existência.

? Os jovens portugueses estão entre os cidadãos da União Europeia que mais iniciativa revelam. Só no mês passado, nasceram 3,5 novas empresas, para cada uma que morreu ? disse Vasconcelos, lembrando que 10% das novas empresas portuguesas já começam a exportar no primeiro ano de vida.