SÃO PAULO. O pecuarista José Carlos Bumlai afirmou em depoimento ao juiz Sérgio Moro, nesta segunda-feira, que fez um empréstimo de R$ 12 milhões, em seu nome, para o PT, porque temia que suas terras fossem invadidas. O empréstimo foi tomado no Banco Schahin e não foi pago pelo partido. De acordo com as investigações da Operação Lava-Jato, a quitação ocorreu de forma fraudulenta, quando o grupo Schahin obteve um contrato de US$ 1,6 bilhão com a Petrobras, para operar um navio-sonda.
– Cometi um grande erro, levado pela minha situação. Eu era proprietário de 210 mil hectares de terra, produtivo. O PT assumindo o governo federal, éramos um grande alvo para invasões – disse Bumlai, que é amigo do ex-presidente Lula.
Bumlai afirmou que conhecia o então presidente do Banco Schahin, Sandro Tordin, e dois publicitários que atuavam com campanhas políticas – Giovanni Favieri e Armando Peralta. Segundo ele, foi Tordin quem o chamou até a sede do banco, para uma reunião, onde estavam o então tesoureiro do PT Delúbio Soares e o candidato do PDT à Prefeitura de Campinas, Dr Hélio, que era apoiado pelos petistas.
– O Sandro, Giovanni e Armando, que era o chamado trio de ouro no estado, eles tinham vários negócios, inclusive em Campinas. Depois que o Hélio ganhou, teve obras da Schahin lá dentro porque uma empresa não vive sem obras.
Bumlai afirmou que apenas depois que chegou ao banco é que ficou sabendo que queriam fazer o empréstimo para o PT no nome dele.
– A iniciativa não foi minha – afirmou.
O pecuarista afirmou que, depois que fez o empréstimo, Tordin sugeriu que pedisse a um amigo para que repassasse o dinheiro, porque seria destinado a políticos e era bom que não fosse feito direto da conta de Bumlai. Foi então, afirmou, que recorreu a Natalino Bertin, dono do frigorífico Bertin.
– Acabei colocando nesta gelada – disse.
A quitação do empréstimo foi feita por um contrato no qual Bumlai teria repassado embriões de gado de elite. O pecuarista confirmou, no entanto, que esse contrato foi simulado e o repasse de embriões, nunca concretizado. A opção pelo embrião, de acordo com o Bumlai, foi feita porque não seria cobrado ICMS na transação, ao contrário de um negócio que envolvesse cabeças de gado.
Bumlai disse que sabia que metade do dinheiro seria destinado à campanha de segundo turno para a Prefeitura de Campinas, da eleição de 2004, e que a outra metade serviria a resolver um problema financeiro de Delúbio Soares, que não lhe foi detalhado. De acordo com a Lava-Jato, R$ 6 milhões foram repassados a Ronan Maria Pinto, empresário de ônibus do ABC paulista.
O pecuarista voltou a dizer que a dívida se transformou em problema, pois não podia retirar empréstimos para sua atividade agrícola, e que chegou a dar uma fazenda ao banco para que fosse executada como garantia. O banco não executou.
Bumlai disse que Sandro Tordin lhe contou que o Grupo Schahin estava negociando contratos com o governo e sugeriu que ele procurasse João Vaccari Neto, que se tornou o tesoureiro do PT depois da saída de Delúbio Soares.
Por duas vezes, Vaccari não teria se importado com o problema. Na terceira, o então tesoureiro do PT teria dito que o Grupo Schahin estava negociando “um navio” e que o problema seria resolvido. Tratava-se do navio-sonda Vitória 10000, da Petrobras.
Ao final do depoimento, Bumlai agradeceu a permissão dada pelo juiz Sergio Moro para que se deslocasse para São Paulo para realizar o tratamento após ser diagnosticado com câncer. Além disso, pediu que Moro fosse misericordioso em seu julgamento, afirmando que teria ?muita coisa pela frente para enfrentar?.
– O que eu posso dizer que o senhor vai estar sempre nas minhas orações levando em conta toda a verdade que eu falei sem pedir absolutamente nada, em troca de nada.
Maurício Bumlai, filho do pecuarista, limitou-se a dizer que assinou como avalista do empréstimo a pedido do pai, sem saber detalhes da operação.
(*Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire)