?Sou formado pela Universidade Livre de Berlim em Literatura e Cultura Alemã. Sempre quis ser um eterno estudante, ficar na universidade. Em paralelo, escrevia poesia, escondido. Vi o anúncio de uma vaga para a Universidade de Leipzig. Os requisitos: ser professor de Literatura e escrever poesia. Dou aulas lá desde 1995.?
Conte algo que não sei.
Conversei ontem com um taxista. A filha dele está em Oklahoma e depois vai para Londres. Por isso, ele decidiu aprender inglês, para ajudá-la. Falei que tinha uma filha muito talentosa. E ele respondeu-me: ?Você não precisa de muita coisa para dar uma boa educação. Só de um carro, um iPhone 5 e uma boa escola.?
E o senhor concorda?
Concordo. Mas não sei qual a sequência certa (risos).
O senhor disse que gostaria de ser um eterno estudante. O que estuda hoje em dia?
Estou sempre me dedicando aos textos dos meus alunos. E, de fato, muitos livros surgem das oficinas. Eu deveria ler todas as publicações, mas não consigo, porque a produção é alta. Alguns conseguem projeção internacional. Mas não sabemos disso quando os recebemos. É impossível fazer prognósticos.
Um professor pode ensinar os alunos a escrever bem? Ou depende do talento deles?
Depende muito do talento. Mas o talento não é fixo, é uma qualidade dinâmica. Penso que quando a pessoa tem talento e está na atmosfera favorável, na qual você se sente realizado com a sua capacidade e pode se concentrar nela, você tem boas chances de transformar esse potencial em realidade. Essa é a tarefa do instituto. Quero criar uma atmosfera em que o autor perceba que o mundo quer ouvi-lo. É importante que cada autor tenha essa consciência antes de começar a escrever. Junto a esse talento, existem procedimentos técnicos que se pode praticar. É interessante experimentar alguém que escreve prosa escrever poesia, por exemplo.
Um dos eventos dos quais participou no Rio foi sobre a ?poética da escrita acadêmica?. O que seria isso?
Na universidade, você precisa escrever para provas, trabalhos. Mas não se ensina a escrever. É a sobrevivência do melhor escritor: quem sabe, sabe. Quem não sabe, azar. Já defendi, na universidade, que deveríamos ensinar isso. Os professores respondiam: ?Sim, claro. Mas eu não vou ensinar.? E eu perguntava: ?Por quê?? E eles me diziam: ?Eu não sei escrever bem.? As disciplinas atuais são insuficientes. Existe uma proximidade entre as escritas literária e acadêmica. A escrita acadêmica também precisa de um roteiro. Há uma ideia de que é preciso somente apresentar argumentos. Discordo, acho que é possível estruturar um texto acadêmico como um literário.
Como europeu, acredita que a intolerância de hoje com os refugiados na região pode ser comparada com a da época do nazismo?
Da época do nazismo, não, mas a dos anos 1950, sim. É surpreendente como esse tema novamente se tornou atual. Existe realmente um paralelismo nesse debate. No pós-guerra, para a reconstrução da Alemanha, houve necessidade de se trazer mão de obra estrangeira e integrar um contingente enorme de refugiados de regiões anteriormente ocupadas pela Alemanha. E novamente temos essas discussão. Na historiografia alemã, existe um mito da integração dos refugiados. Tive a oportunidade de acompanhar esse processo quando criança, e nunca o vi como harmônico, mas a historiografia alemã sempre representou essa experiência como positiva. Só uma geração mais jovem de historiadores que começou a pesquisar essa questão de outra forma questionou isso.