Cascavel e Paraná - O agronegócio brasileiro, motor do crescimento econômico recente, enfrenta um cenário de forte pressão financeira. No segundo trimestre deste ano, o número de pedidos de recuperação judicial no setor subiu 31,7% em relação ao mesmo período de 2024, alcançando 565 solicitações, segundo levantamento da Serasa Experian divulgado segunda-feira (29). O movimento evidencia os reflexos da quebra de produção da safra 2023/2024 e das margens cada vez mais enxutas para produtores e empresas da cadeia.
A apuração mostra que, pela primeira vez desde o quarto trimestre de 2023, as empresas agrícolas superaram os produtores rurais pessoas físicas no volume de pedidos. Foram 243 solicitações de companhias do setor, o dobro do registrado no ano anterior, enquanto as pessoas físicas somaram 220 pedidos, alta de 2,8% na mesma base de comparação.
A Serasa destacou que esse comportamento chama a atenção, já que empresas costumam ter maior porte e estrutura administrativa mais organizada, o que, em tese, lhes daria maior resiliência diante de crises.
Além dos produtores, também aumentaram os pedidos de recuperação de empresas fornecedoras de insumos. Revendedores e distribuidoras protocolaram 102 solicitações no segundo trimestre, avanço de 8,5% sobre igual período de 2024. O resultado reforça que a pressão econômica atinge diferentes elos da cadeia agropecuária.
Base do crescimento
Apesar dos números negativos, o agronegócio segue sustentando parte relevante do crescimento brasileiro. A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) projeta para a safra 2025/2026 um aumento de 1% na produção de grãos, alcançando novo recorde, favorecido por previsões meteorológicas positivas. O início do plantio da soja, em meados de setembro, confirma o otimismo com a produtividade.
Entretanto, produtores e empresas lidam com um quadro preocupante. A combinação de cotações em queda, custos elevados de insumos e juros ainda altos, mesmo com subsídios oficiais, reduz as margens de retorno e mantém o risco de desequilíbrios financeiros. Essa pressão, que começou na safra 2023/2024, continua a deixar rastros em um setor que, embora estratégico e competitivo, mostra vulnerabilidades em períodos de adversidade econômica.
CONTRADIÇÃO
Especialistas avaliam que a situação atual expõe uma contradição: enquanto a produção cresce e bate recordes, a rentabilidade não acompanha o mesmo ritmo. Sem alívio nos custos e com preços pressionados no mercado internacional, muitos produtores se veem obrigados a recorrer à recuperação judicial como forma de renegociar dívidas e evitar a falência.
O avanço dos pedidos sinaliza que a safra promissora pode não ser suficiente para reverter o aperto financeiro. O setor, que nos últimos anos simbolizou estabilidade e geração de riqueza, agora enfrenta o desafio de equilibrar produção recorde com sustentabilidade econômica, num cenário em que eficiência e gestão passam a ser tão estratégicas quanto a produtividade no campo.