
Brasília - O governo federal anunciou ontem (1º), no Palácio do Planalto, o Plano Safra 2025/2026. Com R$ 516,2 bilhões em recursos para a agricultura empresarial, o novo plano traz como foco a ampliação do crédito rural, o incentivo à produção sustentável e o fortalecimento da infraestrutura no campo.
Embora o valor nominal supere os R$ 508 bilhões anunciados no ano passado, na prática, houve uma redução real, considerando os efeitos da inflação. O Plano Safra 2025/2026 para o novo ciclo veio acompanhado de elevação nas taxas de juros em diversas linhas de financiamento, refletindo o atual cenário econômico e a alta da taxa Selic.
“Queremos elevar ao máximo os ganhos que esses recursos podem gerar para os empresários, para a sociedade e, sobretudo, para o nosso País. Nosso objetivo é o de consolidar o papel do Brasil como celeiro do mundo”, disse o presidente Lula, ao destacar a importância de investir em sustentabilidade e inovação para ampliar a competitividade brasileira no cenário global.
A nova edição do plano visa aumentar a produção agropecuária, a segurança alimentar da população e o desenvolvimento regional. Segundo o governo, o conjunto de medidas também estimula a geração de emprego e renda, a elevação da produtividade no campo e o incremento das exportações do agronegócio brasileiro.
Do total anunciado, R$ 415 bilhões serão destinados a operações de custeio e comercialização, R$ 13 bilhões a mais que na safra passada. Outros R$ 102 bilhões vão para investimentos em infraestrutura no campo produtiva, o que representa um crescimento de 51% em relação ao volume executado no último ciclo. Cerca de R$ 114 bilhões serão contratados com juros controlados e equalizados, com aumento de 23% em relação ao ano anterior.
Carlos Fávaro destacou que, apesar da elevação da taxa Selic e do aperto fiscal, o governo assegurou condições competitivas de financiamento aos produtores. “Mesmo com todas as dificuldades, entregamos o maior Plano Safra da história. Fizemos um esforço enorme para preservar o acesso ao crédito rural, estimular a produção e aquecer a economia. Esse volume de recursos vai impulsionar uma supersafra e garantir o abastecimento de alimentos no mercado interno”, afirmou Fávaro.
Durante a apresentação do plano, o governo também anunciou uma linha de crédito dolarizada, ofertada pelo BNDES, voltada ao custeio agrícola. Os juros devem variar entre 8,5% e 9% ao ano. Segundo o Ministério da Agricultura, a medida busca ampliar as opções de financiamento e aliviar pressões sobre o orçamento público.
Programas e Juros
Para os produtores enquadrados no Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural), os juros passaram de 8% para 10% ao ano. No PCA (Programa para Construção e Ampliação de Armazéns), além do aumento no limite de capacidade por projeto — que dobrou de 6 mil para 12 mil toneladas —, os recursos somam R$ 4,5 bilhões. A taxa de juros subiu de 8,5% para 10% ao ano.
O Moderfrota, voltado à modernização da frota agrícola, terá R$ 9,5 bilhões disponíveis, com juros de 13,5% ao ano — dois pontos acima dos 11,5% praticados no ciclo anterior. Já o Moderfrota Pronamp, voltado aos médios produtores, contará com R$ 3,08 bilhões, com taxa de 12,5% ao ano (ante 10,5% na safra passada).
O RenovAgro, na linha de recuperação de pastagens degradadas, terá R$ 2,1 bilhões em crédito, com juros de 8,5% ao ano, frente aos 7% anteriores.
Sustentabilidade
Com o slogan “Força para o Brasil crescer”, o Plano Safra 2025/2026 traz estímulo à sustentabilidade e à adaptação às mudanças climáticas. Os financiamentos para sistemas de produção de baixa emissão de carbono seguem como prioridade, por meio do Programa RenovAgro, que passa a permitir também o financiamento de ações para prevenção e combate a incêndios, reflorestamento e recuperação de áreas protegidas.
Produtores que adotarem práticas sustentáveis continuarão a contar com redução de 0,5 ponto percentual nas taxas de juros. A linha para construção de armazéns com capacidade de até 12 mil toneladas, por exemplo, tem taxa de 8,5% ao ano e contará com R$ 8,2 bilhões em recursos.
Os programas Moderagro e Inovagro foram unificados, permitindo maior flexibilidade no uso do crédito para modernização tecnológica no campo. O plano também fortalece a irrigação, o armazenamento e o apoio ao médio produtor rural.
Pronamp e Funcafé
O limite de renda para enquadramento no Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) foi ampliado de R$ 3 milhões para R$ 3,5 milhões por ano. A medida amplia o número de beneficiários e melhora as condições de financiamento para esse público.
Outro destaque é o volume recorde de R$ 7,2 bilhões para o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), que passa a ser acessível também por beneficiários do Pronaf e do Pronamp, mesmo que já tenham contratos ativos no Plano Safra.
Gestão de riscos
A nova edição do plano reforça critérios técnicos para melhorar a gestão de riscos. A partir deste ano, todas as operações de custeio agrícola deverão seguir o Zoneamento Agrícola de Risco Climático, independentemente do valor contratado ou da exigência do Proagro. A regra, que antes valia apenas para operações de até R$ 200 mil no Pronaf, agora se estende a todos os financiamentos que se enquadrem nas condições climáticas mapeadas.
Outra novidade é a possibilidade de financiar rações, suplementos e medicamentos adquiridos até 180 dias antes da formalização do crédito, além do apoio à produção de sementes e mudas de essências florestais e culturas para cobertura do solo.
Expectativas e próximos passos
Com a estimativa de safra recorde superior a 1,2 bilhão de toneladas, o Plano Safra 2025/2026 deverá contribuir para a estabilidade dos preços dos alimentos, o aumento da oferta de grãos, fibras, carnes e pescados e a ampliação dos excedentes exportáveis. A expectativa é de que mais de 500 mil contratos de crédito rural sejam formalizados ao longo do ciclo.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ressaltou o papel da política agrícola no controle da inflação e na estabilidade econômica. “Nós vamos ter uma deflação de alimentos, como aconteceu no mês passado. A previsão da Secretaria de Política Econômica é de que as coisas estão voltando rapidamente ao normal. Nosso plano de voo está mantido”, declarou Haddad.