RIO – Uma artista britânica residente na Austrália gravou uma “performance” em vídeo que, mesmo antes da exibição, já está gerando repercussão internacional e críticas.
Sophia Hewson é uma artista performática. Seu mais recente trabalho é um vídeo de três minutos filmado com um estranho indo a sua casa para “simular um estupro”. O foco do vídeo não é a penetração, mas sim seu rosto e reações. O homem, identificado apenas como “bob”, é visto apenas por seus braços e mãos.
Sophia diz que a obra é uma “representação do estupro” que quer encorajar o debate de como a violência sexual é uma parte essencial da sociedade patriarcal.
“O aspecto mais confrontacional de Untitled (“are you ok bob?”) não é olhar a mulher ser atingida ou penetrada, é ver ela olhando para a câmera durante a experiência. Preso pelo seu olhar, o expectador é forçado não apenas a testemunhar, como é envolvido na desolação”, diz ela em um texto em sua página no Facebook.
O trabalho da artista, nascida em Cambridge, no Reino Unido, mas hoje moradora de Melbourne, na Austrália, costuma explorar a relação entre objetificação feminina e poder masculino. Dessa vez, Sophia diz que quer destacar como estupro é “mais que um ato sexual de violação, é a fundação de toda a instituição do patriarcado, e, logo, um campo de batalha crucial para desmontar o poder masculino”. Ele será exibido em uma galeria de Melbourne entre 29 de maio e 12 de junho.
Sophia postou a explicação nas redes sociais, se defendo dizendo que “não tenho fantasias com estupro e que não gostei fisicamente de fazer o trabalho”. A artista foi alvo de críticas tanto de comentaristas nas redes quanto de especialistas.
“Estupro não é um meio artístico. Obrigado por invalidar as experiências de milhares de mulheres com o estupro. Isso é nojento”, escreveu Melissa Farman. Já Charles Burt afirma que “o que você filmou não é um estupro, e estupro não é arte. Isso é incrivelmente ofensivo para aqueles que foram estuprados”.
Para Karen Willis, diretora do centro de apoio à vítimas “Rape and Domestic Violende Services Australia”, o vídeo ainda pode ser perigoso para sobreviventes.
“Acho que pode serviço como um ‘gatilho mental’ para vítimas, trazendo à mente todas as memórias de seu próprio estupro, o que é muito perigoso. Acho que há outros métodos para empoderar mulheres, em vez de exibir um vídeo de um ataque sexual”, disse ela ao jornal britânico Daily Mail.