
Cascavel e Paraná - O Brasil mantém a guarda alta contra a ameaça de novos focos da gripe aviária. Na sexta-feira, 16, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, confirmou a existência de focos da doença em uma propriedade localizada no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul. Com protocolo de segurança, 17 mil aves foram descartadas na propriedade. Há suspeitas de mais focos da gripe aviária em pelo menos cinco estados, admite o Ministério da Agricultura. São eles: Santa Catarina, Mato Grosso, Tocantins, Ceará e Sergipe. Em dois deles, a suspeita da presença do vírus é em granjas comerciais (Ipumirim-SC) e Aguiarnópolis-TO). Caso se confirme a suspensão das importações ocorra por um longo período, o Brasil terá um impacto financeiro negativo de ao menos US$ 1 bilhão.
Para evitar a propagação da doença a outros estados, o Rio Grande do Sul instalou barreiras sanitárias operadas 24h por dia. As autoridades sanitárias do estado de origem do foco já visitaram 300 propriedades rurais e uma granja de recria de aves no raio de 10 km do foco da gripe aviária em Montenegro, no Rio Grande do Sul. Esse número de propriedades representa 55% do número total de áreas mapeadas.
O trabalho tem à frente nove equipes de campo do Serviço Veterinário Oficial do Rio Grande do Sul. Inspeções em veículos com carga animal são realizadas a todo momento na área de abrangência ao entorno da propriedade.
Ao todo, 16 países suspenderam a importação de frango do Brasil. A primeira a adotar o protocolo de segurança foi a China. O Japão anunciou nessa segunda-feira o embargo às importações até a situação se normalizar. O país asiático compra 70% do frango brasileiro. Trata-se do terceiro maior destino de exportação desse produto, atrás da China e dos Emirados Árabes Unidos. Os outros países que anunciaram a suspensão das importações foram: China, Argentina, Chile, Uruguai, México, Canadá, África do Sul, Coreia do Sul e os países que formam o bloco da União Europeia.
Brasil
Ontem (19), em entrevista coletiva à imprensa, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que o Brasil pode ficar livre da gripe aviária e retomar as importações para o mundo em até 28 dias, caso não sejam detectados novos casos. “O protocolo do ciclo é de 28 dias para a gripe aviária. Se nesse tempo não houver nenhum outro caso confirmado no Brasil, nós podemos, baseado em ciência, dizer que o Brasil está livre da gripe aviária em todo o território nacional”, disse o ministro. A prioridade do momento é intensificar as barreiras sanitárias e o rastreamento dos produtos originários da granja. “A gente fazendo a inutilização de toda essa produção, diminui muito o risco de novos casos. Feito isso, cumpre-se o prazo de 28 dias, que é o ciclo desse vírus”, reafirmou. Desde 2006, ocorre a circulação do vírus pelo mundo, principalmente na Ásia, África, norte da Europa e América do Norte.
O Ministério da Agricultura também confirmou a morte de 38 cisnes e patos por gripe aviária, no Zoológico de Sapucaia do Sul, no Rio Grande do Sul. O local permanece interditado por tempo indeterminado. A cidade fica a 50 km de Montenegro. O zoológico, maior do Estado, abriga mais de mil animais de 130 espécies, entre silvestres e domésticas.
Um caso suspeito de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) é investigado em uma granja comercial de Ipumirim, no oeste de Santa Catarina, informa a plataforma Síndrome Respiratória e Nervosa das Aves, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Além da investigação em curso, o estado proibiu a entrada de aves e ovos de 12 municípios do Rio Grande do Sul, em função da declaração de emergência publicada pela portaria MAPA nº 795.
Além de Santa Catarina, o Serviço Veterinário Oficial (SVO) investiga outros cinco casos suspeitos de gripe aviária em granjas comerciais no Brasil: em Tocantins, Mato Grosso, Ceará, Sergipe e outro no Rio Grande do Sul.
A influenza aviária é uma doença viral altamente contagiosa que atinge principalmente aves, mas também pode afetar os humanos. Entre os sintomas nas aves, constam dificuldade respiratória, espirros, torcicolo, diarreia e alta mortalidade. O Ministério da Agricultura garante que o vírus não é transmitido pelo consumo de carne ou ovos cozidos ou processados.
10 milhões de ovos destruídos
Mais de 10 milhões de ovos de incubação serão destruídos no Paraná como medida preventiva contra a gripe aviária. O impacto financeiro ainda não foi calculado. A medida vem após a Agência de Defesa Agropecuária do Estado rastrear uma carga de 12 mil ovos vinda do Rio Grande do Sul. Como medida preventiva prevista no Plano Nacional de Contingência da Influenza Aviária, a Adapar orientou pela eliminação desses ovos e todos que estavam no local.
Ainda de acordo com a Adapar, o Paraná não tem registro da doença ou de suspeita da gripe aviária. O Estado, que é o maior produtor e exportador de carne de frango, aplica protocolos rígidos sobre a produção para manter a qualidade do produto. O Paraná tem um sistema de rastreamento e controle com 131 escritórios locais, 33 postos nas divisas, além das parcerias com as Prefeituras Municipais e sindicatos rurais nos 399 municípios.
A professora da UFPR (Universidade Federal do Paraná, Jovanir Fernandes, comenta que a recomendação do Ministério da Agricultura é pela destruição dos ovos. Minas Gerais , por exemplo, eliminou 450 toneladas de ovos procedentes do Rio Grande do Sul. Os ovos são férteis e usados para fecundação e produção de aves e não para consumo humano. Para o Governo de Minas Gerais, o descarte foi necessário para manter o controle sanitário. “Apesar na raridade da transmissão da mãe para o embrião, é preciso seguir o protocolo sanitário. O que pode ocorrer é a contaminação por meio de ambientes ou materiais contaminados”, comenta. Para ela, é importante seguir as normas de biosseguridade para evitar ao máximo que ocorra qualquer forma de transmissão, principalmente no Paraná.
A Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento reuniu técnicos e lideranças do setor agropecuário para discutir a defesa da avicultura do Paraná, estado que lidera a produção e exportação de frango, diante da ameaça da gripe aviária, que atingiu uma granja no Rio Grande do Sul. A reunião foi convocada pelo secretário Marcio Nunes e contou com participação online do ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro.
O Paraná é um dos estados mais interessados na normalização do comércio, visto ser responsável por quase 35% da produção e cerca de 42% da exportação de carne de frango. “Neste momento é importante que todos assumam suas responsabilidades para sermos bastante efetivos”, afirmou o secretário estadual da Agricultura, Marcio Nunes.
Ele salientou a necessidade de os proprietários das cerca de 20 mil granjas do Estado continuarem e reforçarem as medidas de segurança nas propriedades. Entre elas a verificação das telas mantendo o local das aves fisicamente perfeito para que não haja nenhuma fresta que possibilite a entrada de qualquer outro animal.
Também é importante restringir a entrada apenas às pessoas absolutamente necessárias e tomando todas as medidas de desinfecção dos solados de sapatos, das roupas e dos veículos.
Igualmente é necessário para garantir a sanidade das aves do Estado o comunicado à Agência de Defesa Agropecuária do Estado (Adapar) de qualquer alteração nos hábitos dos animais, como mortalidade fora do padrão ou sintomas de gripe aviária. Quanto mais rápida a notificação for feita, melhor será o atendimento e a proteção das aves. “O Estado não tem nenhum caso suspeito ou em investigação, mas precisamos estar sempre alertas”, disse o presidente da Adapar, Otamir Cesar Martins.
A Adapar tem trabalhado de forma ativa na vigilância sanitária para evitar a entrada do vírus no Estado. Atualmente são feitas análises por amostragem em mais de 300 propriedades. Além disso, se há qualquer informe de suspeita, o atendimento é feito em menos de 12 horas. Os técnicos também atuam na vigilância de aves migratórias no litoral do Estado e na disseminação de informações sobre os cuidados que os proprietários precisam ter.
O presidente da Adapar acentuou novamente que os apreciadores de frango podem continuar a consumir normalmente a carne. Eventual transmissão somente acontece com contato próximo e continuado com aves vivas infectadas, como em uma gripe normal, e não ao ingerir o alimento.
Queda nos preços de ovos e frango
Os embargos às exportações brasileiras de frango e ovos vão ter como consequência, pelo menos em um primeiro momento, reduzir os preços desses produtos no Brasil. Essa é a visão do economista André Braz, coordenador de Índices de Preços na Fundação Getulio Vargas (FGV) e um dos principais especialistas em inflação do país.
“O excedente saudável que não for para o exterior irá para as prateleiras do supermercado, o que é um alívio, principalmente nos preços dos ovos, que subiram fortemente neste ano”, afirmou ao Valor/Globo Rural. O ovo de galinha subiu 30% neste ano até abril, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), enquanto o frango inteiro teve alta de 3,26% e, em pedaços, 5,59%
Entretanto, esse alívio deve ser momentâneo, porque os criadores de aves ajustarão a oferta a depender demanda. “Ninguém trabalha no prejuízo. Se diminuírem as exportações, vão criar menos aves e diminuir as matrizes”, afirmou.