RIO ? Um relatório divulgado esta semana pela Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês) revela que o aquecimento ?sem precedentes? da temperatura atmosférica no Ártico contribuiu para um atraso recorde no congelamento do mar no outono, provocando perdas extensas na camada de gelo e na cobertura de neve da Groenlândia.
? Raramente nós vimos o Ártico mostra um sinal claro, forte e pronunciado de aquecimento persistente e seus efeitos em cascata sobre o ambiente como neste ano ? disse Jeremy Mathis, diretor do Programa de Pesquisas sobre o Ártico da NOAA. ? Enquanto a ciência está se tornando mais clara, nós precisamos melhorar e ampliar as observações do Ártico para fornecer subsídios para decisões sobre saúde ambiental e segurança alimentar, além de novas oportunidades para o comércio.
O relatório Arctic Report Card, que analisa o período entre outubro de 2015 e setembro de 2016, revela que a temperatura atmosférica média durante o período foi a mais alta já registrada desde o início das observações, representando um aumento de 3,5 graus Celsius em relação a 1900. Segundo o estudo, elaborado por 61 cientistas de 11 países, ?as temperaturas do Ártico continuam aumentando em ritmo duas vezes maior que a média global?.
? Pessoalmente, eu teria que dizer que este último ano foi o mais extremo para o Ártico que eu já vi ? disse Mark Serreze, diretor do National Snow and Ice Data Center em Boulder, no Colorado, em entrevista à Reuters. ? É loucura!
A cobertura de neve bateu recorde de baixa, cobrindo apenas 4 milhões de quilômetros quadrados, a menor área desde que as observações começaram a ser realizadas, em 1967. A camada de gelo também continua perdendo massa, numa tendência ininterrupta desde 2002, quando começaram as medições por satélite. E o início do degelo está começando cada vez mais cedo.
A temperatura da superfície do mar em agosto estava 5 graus Celsius acima da média entre 1982 e 2010 nos mares de Barents e Chukchi e nas costas leste e oeste da Groenlândia. Por isso, a camada de gelo sobre o mar foi a menor desde que as observações espaciais começaram, em 1979, sendo 28% menor que a média entre 1981 e 2010.
E as mudanças climáticas estão ameaçando a segurança alimentar dos povos da região. O Oceano Ártico é mais vulnerável que outros à acidificação, um processo provocado pelo aumento da absorção pelos mares do dióxido de carbono emitido pelo homem. Isso afeta diretamente os organismos que necessitam do carbonato de cálcio para a construção de conchas, como ostras e outros moluscos.
Os pesquisadores também observaram uma mudança no ciclo do carbono na região. A tundra está liberando mais carbono do que consegue absorver. Essa questão é delicada porque estimativas indicam que o permafrost armazena o dobro do dióxido de carbono presente hoje na atmosfera terrestre. Caso o permafrost degele e libere esse carbono, os efeitos sobre o clima do planeta serão incalculáveis.
?Mudanças no bioma da tundra afetam a fauna que ela suporta, causando mudanças na distribuição das espécies, adaptações ou extinções?, alerta o relatório.
? O que acontece no Ártico não fica restrito ao Ártico ? alertou Mathis. ? Abaixo da latitude 48 terá que lidar com mais eventos climáticos extremos no futuro.