Imagine que você não tem poder de escolha. Para sair de casa, precisa pedir permissão ao seu marido ou, então, falar somente o necessário. Você não deve pensar muito e, para ser uma mulher “perfeita”, precisa saber bordar, cuidar muito bem da casa e ter filhos saudáveis. Sua vestimenta? Precisa estar de acordo com as regras sociais. Imagine-se acordando em uma sociedade em que o cotidiano feminino se baseia em afazeres domésticos e atividades do lar. Levou um susto? Estamos falando aqui da vida das mulheres do século XIX, mas, talvez, você tenha achado essas pautas normais no cotidiano de muitas mulheres do século presente.
Quando falamos do Dia Internacional da Mulher, sempre vem à mente a luta diária que todas nós enfrentamos em diversos contextos. Conquistamos tanto, mas, se olharmos com clareza, ainda temos muito para buscar. Hoje somos tão empoderadas, colocamo-nos em meios que até então eram somente masculinos e gritamos por aí como somos donas das nossas vidas.
No entanto, se você ler as notícias todos os dias, vai ver a todo tempo mulheres sendo abusadas sexualmente, assediadas, julgadas, sofrendo com relacionamentos abusivos, entre outras coisas.
Será mesmo que a mulher pode colocar a roupa que quiser para sair de casa? Ou o que ela veste determina como será o seu dia? Os cargos altos, de chefia, de liderança, estão divididos igualmente entre homens e mulheres? Temos igualdade corporativa? Igualdade política? Violência doméstica parece ter virado rotina nos noticiários. E os salários? Costumam ser iguais para os dois gêneros?
Sabemos a resposta de todas essas perguntas e, se olharmos lá para o século XIX, ainda vivemos muitos abusos que eram “comuns” naquela época. Ou seja, as pautas antigas ainda são muito atuais. Não vamos dizer que não conquistamos. Nossa, como conquistamos! Mas essa luta está longe de terminar.
Neste Dia das Mulheres, que possamos ser como as heroínas dos nossos livros preferidos. Aquela guerreira que luta o livro todo pelo próprio final feliz e que não fica esperando por um príncipe encantando que chega no cavalo branco. Não! Ela monta no cavalo e vai lutar por seu próprio destino. Ela não desiste, não deixa de sonhar com um capítulo mais feliz, e, quando não encontra, escreve uma nova narrativa.
Uma mulher que sonha, chora, ri, sofre, briga, luta, discute, insiste, ama, sem se importar se terá um fim, mas que imagina sempre um recomeço, seja em outra história ou na série da sua vida. O meu desejo hoje é que todas nós possamos ser best-sellers, premiadas e reconhecidas e com um aviso de que somos as mais especiais do livro!
*Paula Toyneti Benalia é psicóloga, administradora de empresa e escritora, autora da trilogia Deusas de Londres e outros sete títulos