Agronegócio

Volta da garantia do preço mínimo não reduziria pressão sobre as commodities

Volta da garantia do preço mínimo não reduziria pressão sobre as commodities

Depois de experimentar um período atípico, com o valor das sacas chegando muito próximo dos R$ 100 há um ano atrás, a cotação hoje é totalmente oposta, com o milho sendo comercializado a R$ 46 a saca de 60 quilos nos principais centros compradores do oeste paranaense. Em meio a todo esse cenário, os temas preço mínimo e estoques reguladores, velhos conhecidos dos produtores rurais, voltaram à tona.

Até mesmo o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, se rendeu ao assunto, ao se pronunciar recentemente durante um congresso promovido pela Abramilho (Associação Brasileira dos Produtores de Milho). Na ocasião, ele acenou com a possibilidade de retomar o Programa de Garantia do Preço Mínimo, caso a abertura de novos mercados e a elevação do percentual de etanol do cereal na gasolina de 27,5% para 30%, não surtirem os resultados desejados.

“Caso todas essas medidas não se mostrarem eficientes na plenitude, claro que o Programa de Garantia ao Preço Mínimo deve ser ‘startado’ (iniciado) pelo governo federal na medida do possível, e nós estamos preparados para isso”, admitiu Fávaro, naquela ocasião, sem dar mais detalhes sobre o assunto. Por outro lado, há produtores defendendo outros caminhos para buscar a equalização do preço da saca, como por exemplo, a redução do custo de produção e investimentos robustos em infraestrutura.

No começo do ano, a expectativa era de que a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), assumisse a política de estoques reguladores e os preços mínimos. A formação de estoques públicos sustenta o objetivo de garantir preço e renda ao produtor e também regular o abastecimento interno, com o propósito de mitigar as variações de preços.

Para entende melhor o cenário em torno possibilidade da retomada da Política de Garantia de Preço Mínimo, a equipe de reportagem de O Paraná conversou com o analista de mercado da Granoeste, Camilo Motter.

 

“Difícil prever”

A viabilidade ou não dessa Política de Garantia de Preço Mínimo dependerá muito de como será executada e os níveis de preço apontados pelo governo. “É difícil prever o que pode acontecer. Qual volume o governo estará disposto a comprar?”, questiona o analista de mercado. Ele faz uma analogia simples para tentar entender o mecanismo desta possível retomada.

“Digamos que ele lança um preço mínimo de R$ 55. No dia seguinte, compra 500 mil toneladas do Mato Grosso, mais 300 mil toneladas em Goiás, o mesmo montante do Paraná e 200 mil toneladas do Mato Grosso do Sul, totalizando 1,3 milhão de toneladas adquiridas. E a exemplo do que era feito no passado, parte para um leilão e como consequência, esse preço mínimo acaba ficando na faixa do valor atuar de mercado”, exemplifica.

No entendimento de Camilo Motter, a única vantagem da Política de Preço Mínimo é o governo ser mais um comprador do produto, fomentando a competitividade. “Com certeza, o governo não vai assumir esse compromisso apenas para dar sustentação aos preços de mercado”. Com isso, apenas o governo faria a reposição dos estoques reguladores, se tornando um competidor a mais.

 

Política de “longa duração”

Por outro lado, em uma safra cheia como a atual, a política de preço mínimo não faria muita diferença em relação à remuneração e muito menos mexeria com a os preços de mercado, na avaliação de Motter. “A defesa é pela adoção de uma Política de Garantia de Preço Mínimo mais sustentável, ou seja, de longa duração e não esporádica, como ocorreu em todos os modelos implantados pelos governos anteriormente”. Nos Estados Unidos, essa política de preços é mais alongada e não sazonal.

A atenção também precisa estar voltada ao volume de grãos que o governo está disposto a adquirir. “Porque entre exportar 55 milhões de toneladas e o governo, comprar três milhões de toneladas, não muda o cenário”. O montante não será suficiente para provocar mudanças no mercado e nas cotações. “Não é como o feijão e o arroz, em que a oferta é bem menor, com o governo comprando e mexendo no mercado”. Pois são produtos basicamente de consumo interno e não tira a pressão sazonal. “Mas no caso da soja e do milho, que conta com grandes volumes, a intervenção do governo é pouco representativa ou quase nada”.

Entretanto, se olhar pela política de abastecimento interno, pensando no período da entressafra, é um recurso favorável.