Declaro, a que interessar possa, que há no território brasileiro um povo dizimado na sua honra, na sua história e na sua esperança.
Aliás, quando um povo não pode exaltar a sua história, perde a sua identidade. Quando a sua esperança é ridicularizada, dia e noite, perde o próprio desejo de viver.
Sim. Os pequenos agricultores do sudoeste e do oeste do Paraná, homens, mulheres e jovens, descendentes de pioneiros e colonizadores, que desbravaram e consolidaram o nosso território, agora são tidos como: contrabandistas, caçadores, traficantes, interesseiros, gananciosos e abusadores da floresta. Enfim, criminosos de toda ordem e perigosos.
A esse povo sofrido, por enquanto, peço que não esqueçam a esperança do salmista: “Ó Senhor Deus, tu és bom e amoroso; Responde-me e vem me ajudar, Pois é grande a tua compaixão. Não te escondas do teu servo; Responda-me agora, pois estou muito aflito. Vem e salva-me; Livra-me dos meus inimigos. Tu vês todos os meus inimigos; tu sabes como eles me insultam e conheces a vergonha e as humilhações que tenho sofrido. Os insultos partiram o meu coração, e estou desesperado. …o Senhor ouve os necessitados e não despreza o seu povo que está na prisão”.
Esse povo, uma combinação de paranaenses, catarinenses e gaúchos, agora é condenado, por uma simples razão, acreditaram que era preciso abrir fronteiras, plantar, desenvolver, criar estradas, caminhos, unir comunidades e consolidar o nosso território e a nossa soberania.
Assim, mantiveram a Estrada do Colono, herdada dos nossos irmãos indígenas, como elo de todo o Sul do Brasil para o restante da nossa pátria.
A Estrada do Colono foi caminho indígena. A Estrada do Colono foi caminho dos pioneiros. A Estrada do Colono foi caminho dos colonizadores. Portanto, criminalizar um povo pela sua história de vida é a suprema crueldade. É pedir para um povo esquecer os seus antepassados, os seus avós, os seus pais e seus tios.
Mas a perversidade é maior, pois imputa ao povo do sudoeste e do oeste do Paraná o desejo de destruir o Parque Nacional do Iguaçu.
Porém, esquecem de duas verdades fáticas inatacáveis: primeira, a estrada é anterior ao parque, ou seja, o caminho ajudou a estabelecer e a manter a reserva; e, segunda, a estrada histórica nunca irradiou destruição ao parque. Pelo contrário, fechada, ela afasta a melhor proteção, as comunidades lindeiras e o povo brasileiro. A sensibilidade de um poeta explica a situação atual: “A estrada trancada Ninguém por ali passa Somente quem caça”. Desta forma, manter a estrada fechada é um convite contínuo à destruição da reserva.
Na verdade, foi o povo do Paraná o primeiro e o maior protetor ambiental do parque. É preciso relembrar que foi esse povo – sozinho, pois na época não era moda defender a ecologia – que impediu a construção de usina hidrelétrica que destruiria parte considerável do mesmo.
Agora, os primeiros, os maiores e os melhores protetores da fauna e da flora, que legaram para a nossa nação o parque, são assinalados perpetuamente como criminosos ambientais e indignos de sua convivência.
Merece o humilde povo do oeste e do sudoeste do Paraná tamanha humilhação?
A única coisa que desejam: é uma estrada-parque que compatibilize homem e natureza.
Diga-se de passagem, é natural para esse povo o desejo da estrada-parque, até porque seus antepassados sempre viveram em harmonia com a fauna e a flora.
Eles sofrem não somente pela ausência do caminho ecológico, eles sofrem porque são obrigados a esquecer a sua história, os seus pais e abandonar os seus jovens.
O êxodo dos seus jovens é marcante, pois não podem viver os seus laços afetivos e culturais. E, também, são forçados a ignorar a sua história (os seus antepassados são descritos como “destruidores” da fauna e da flora – gananciosos, inescrupulosos, insensíveis e brutos).
Infelizmente, os injustos ataques acabaram com famílias, separadas física e emocionalmente, tudo porque defendem uma relação harmoniosa entre o homem e a natureza.
A esses jovens digo: não se envergonhem de seus pais, não se envergonhem de seus avós e de toda a sua família, eles são exemplos de brasileiros, humildes, trabalhadores e defensores da nossa terra.
A história do sudoeste e do oeste do Paraná é uma história de amor pelo Brasil.
A esse povo, formado de pequenos e médios agricultores, ligados à agricultura familiar e orgânica, simples comerciantes, incansáveis trabalhadoras e trabalhadores, rogo com toda humildade que não abandonem a fé em Deus e a esperança na bondade humana.
Deus erguerá homens e mulheres de bem para resgatar a sua história. Deus erguerá homens e mulheres de bem para restabelecer a sua esperança. Deus erguerá homens e mulheres para reabrir o caminho ecológico.
Deus se interessa pela sua vida. Para Deus a prioridade é o homem, que com inteligência e bom senso, cuidará da sua criação (natureza).
Boas mulheres e bons homens serão os olhos, os ouvidos, os braços e as mãos de Deus para terminar com a injustiça que aflige todo o povo do sudoeste e do oeste do Paraná.
Não podemos esquecer: “Sem nós, Deus não tem olhos; sem nós, Deus não tem ouvidos; sem nós, Deus não tem braços nem mãos. Deus confia em nós. Você não vai se juntar às pessoas de fé como colaborador de Deus no mundo?”
Deus se interessa pelo seu povo!
Marcio Geron é juiz de Direito aposentado
A Estrada do Colono foi caminho indígena. A Estrada do Colono foi caminho dos pioneiros. A Estrada do Colono foi caminho dos colonizadores
Eles sofrem não somente pela ausência do caminho ecológico, eles sofrem porque são obrigados a esquecer a sua história, os seus pais e abandonar os seus jovens