É auspicioso ver como as mulheres estão ligadas no seu desenvolvimento pessoal e preparo técnico-científico para fortalecer sua presença na economia e sociedade. Pesquisa realizada em 17 países, sob coordenação da Corteva Agriscience, entrevistando 4.157 mulheres do agro, 433 delas no Brasil, mostra que mais de 80% das brasileiras gostariam de ampliar seu nível de formação educacional e ter mais acesso a treinamento e estudos. Falam, sim, da falta de equidade entre gêneros (78%), mas enxergam no aumento do conhecimento o principal valor para avançar em inclusão e importância econômico-social.
Entre as ações mais citadas por elas para superar barreiras à igualdade estão “mais treinamento em tecnologia” (citado por 80% das entrevistadas brasileiras) e “mais educação acadêmica” (mencionado por 79%). Só depois aparecem ações como “apoio jurídico” e “sensibilização pública” contra a discriminação (cerca de 75% das citações). Ou seja, a mulher está consciente da sua força e apostando no próprio taco para cuidar de seu desenvolvimento pessoal, fazer valer a sua competitividade e criar seu espaço.
Quem respondeu à pesquisa, realizada de agosto a setembro deste ano? No perfil global da pesquisa, a maioria das mulheres entrevistadas trabalha diretamente com agricultura e as outras estão envolvidas em atividades relacionadas ao agronegócio. Entre as produtoras, havia mulheres que comandam pequenas propriedades familiares e também mulheres de empresas agropecuárias de maior porte (mais de 300 funcionários), com idade média de 34 anos e cargos variando entre proprietárias, gerentes e funcionárias.
Na parte brasileira da pesquisa, especificamente, 80% das entrevistadas estão na faixa de 20 a 39 anos, a maior parte (44%) é dona ou sócia-proprietária, 24% são funcionárias, 18% gerentes e 12% supervisoras. Entre as donas e sócias, mais da metade (55%) são pequenas produtoras (com 1 a 19 funcionários). E ainda um dado muito importante sobre as crenças e valores de todas as entrevistadas: 90% delas têm muito orgulho do seu trabalho, porcentagem bem superior à média global da pesquisa nesse item, que foi de 70%.
No 3º Congresso Nacional de Mulheres do Agronegócio, realizado em São Paulo, dias 23 e 24 de outubro, quase 1.500 mulheres vindas de todos os Estados discutiram o seu papel no futuro do agro. No segundo dia do evento, em seu bloco final de apresentações, haviam quatro arenas simultâneas de debate e uma delas se destacava das demais, estando totalmente lotada, com mulheres acompanhando e participando das discussões do lado de fora. Seu tema era “O perfil dos futuros líderes do Agro”.
Claro que não é uma profecia, mas é sintomático. Com esse grau de consciência e posicionamento em relação ao conhecimento, as mulheres se colocam desde já como um dos mais agudos fatores de inovação tecnológica e de gestão nos sistemas de produção alimentar, nas próximas décadas. Que as mulheres estão avançando, isso já se sabia e por isso também se torcia. Só que agora vai ser com uma profundidade transformadora muito maior e, também, muito mais rápido.
Coriolano Xavier, membro do CCAS (Conselho Científico Agro Sustentável) e professor da ESPM