Opinião

Coluna Amparar: O melhor é ficar juntos mesmo sem amor?

Coluna Amparar: O melhor é ficar juntos mesmo sem amor?

 

 

Durante um de seus Seminários com casais, Bert Hellinger foi inquirido por um dos participantes sobre as dificuldades que ele e a sua esposa tinham de separar-se. Haviam ficado separados durante algum tempo, mas sempre na expectativa de um retorno. Hellinger respondeu o seguinte: “Detrás do que você diz se esconde a imagem de um ideal: de que se vocês permanecerem juntos seria o melhor ou o ideal. No entanto, não sabemos se realmente é o correto ou o melhor. Aquilo que consideramos feliz frequentemente é o cômodo. Contudo, a grandeza não se alcança no caminho do cômodo. São níveis diferentes. Por isso me mantenho sereno quando vejo que um casal se separa, ou se vejo que a relação acabou. Não tento encobrir nada. Assim, os parceiros conservam sua dignidade” (Hellinger, B. Lograr el amor en la pareja, p.205-206).

Vimos na postagem anterior que as razões para insistir em uma relação que na prática já acabou são inúmeras. Difícil determinar, sem considerar a situação concreta do casal, até que ponto determinado motivo para permanecer em semelhante relação é legítimo ou não. Parece-nos importante considerar aqui a palavra de Hellinger acerca da imagem mental que impera nos casais e os fazem permanecer numa relação sem amor: a de que permanecer juntos é sempre o melhor! Contudo, não há como saber o que é o melhor ou o ideal, alerta Hellinger.

Muitas vezes o que leva a permanecer numa relação que já acabou sob a justificativa de que é o “melhor” ou o “correto” (para os filhos, para as famílias de origem, para a conservação do patrimônio, para a conservação da imagem social, do prestígio profissional, etc.) nada mais é do que o cômodo! É desafiador enfrentar um recomeço e superar todos os obstáculos que uma separação implica. Assim, por comodidade se sacrifica a felicidade. Isso se torna particularmente grave quando envolve filhos, que sentem quando os pais ficam juntos por causa deles. Isso os sobrecarrega e infelicita.

Esta análise, obviamente, não deve ser entendida como uma apologia à separação. Antes de qualquer decisão, insiste sempre Hellinger, é preciso que o casal avalie seriamente o quanto ainda existe de sentimento de amor um pelo outro. Para saber se o casal ainda tem chances de viver uma relação feliz ou se esse tempo já passou, Hellinger diz que procede do seguinte modo: “Quando um casal chega para mim e diz que já não podem mais viver juntos, só olho para ver se ainda existe algum tipo de envolvimento. Se ainda sofrem muito, existe ainda envolvimento e as chances para uma reconciliação são boas. Se já não há dor, o relacionamento está terminado e predomina a indiferença” (Hellinger, B. Constelações Familiares, p.90).

Quando pensamos na alegria e na força que uma vida compartilhada na amorosidade produz compreendemos também o quanto é destrutivo viver uma vida vinculada a alguém que não alimenta nossos sentimentos. É ainda mais destrutivo quando nos mantemos dentro de uma relação abusiva ou no comodismo. Saber que boas intenções não nos isentam das consequências prejudiciais das nossas ações sobre o parceiro é um bom caminho para ter a força inicial de olhar para a relação. Igualmente, desenvolver em si a convicção de que merecemos a felicidade e de que a desejamos para o outro possibilita adquirir a confiança que existe “vida” fora da dor a que nos acostumamos sentir. A boa solução sempre passa pelo amor, seja para ficar juntos seja para viver separadamente.

—————————

JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar